Cuidando do amor em tempos de Coronavírus

Estresse ou medo não são razões para se descuidar daqueles a quem amamos e nem para deixar de cultivar o amor na família

Stael Ferreira Pedrosa

As notícias têm sido cruéis a respeito do distanciamento social: muitas relações têm se desmantelado pela convivência constante em países como China e Estados Unidos, onde os números de divórcios aumentaram sensivelmente, de acordo com o jornal “The Global Times”.

No Brasil, a perspectiva não é muito diferente. De acordo com Pâmela Magalhães, terapeuta familiar, “no período de de confinamento, os casais são obrigados a se olharem, as famílias precisam entrar em contato, reconhecer as suas dinâmicas e o mecanismo sistêmico”.

Sem meios para distraírem-se, sem a rotina imposta pelo trabalho e sem a possibilidade de sair de cena, ainda que com a desculpa de comprar algo, ou de sair para um futebol com os amigos ou para o bar da esquina, a situação conflituosa que possa surgir tem que ser enfrentada. Muitas vezes, o que se vê é a violência doméstica, infelizmente.

Ainda que não haja falta de entrosamento ou diálogo entre o casal, personalidades agressivas, abusivas, que já existem em um (ou ambos) os cônjuges podem vir à tona ou se intensificar em momentos de estresse.

Alguns fatores que podem criar um clima tenso em casa

1 A própria ansiedade gerada pela ameaça do coronavírus

O medo que ronda a maioria das pessoas, tanto de perder a própria vida quanto daqueles que ama, medo de dificuldades financeiras ou de precisar de atendimento médico emergencial e não conseguir.

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2 Dificuldade em “extravasar” a tensão

Sair para uma corrida, nada, dançar ou jogar bola tornou-se algo distante da realidade cotidiana.

3 Aprofundamento da rotina

Todos os dias faz-se praticamente as mesmas coisas sem chances de mudar a rotina ou de diversificar as atividades.

4 A obrigatoriedade de enfrentar os “fantasmas” do armário

Não dá mais para “fugir” da famosa DR e a relação acaba tendo que ser discutida, os problemas que já incomodavam o casal vêm à tona. Tem-se mais tempo para discutir e perceber as arestas do relacionamento.

5 Outros fatores

Além dos já citados acima, existem as questões sociais, financeiras e psicológicas que podem estar em colapso, tais como pobreza extrema, falta de dinheiro e ou falência, doenças mentais e distúrbios de toda a ordem que, em tempos comuns, seriam tolerados, mas que nos tempos de crise que vivemos se exacerbam ainda mais.

Existe um meio de tornar as coisas mais suaves?

É difícil dar fórmulas prontas para se enfrentar as crises pessoais, familiares e conjugais que a pandemia trouxe. Já era difícil antes, imagine agora. No entanto, toda situação ruim na vida pode ter uma solução ou ser amenizada se houver cooperação e boa vontade de todas as partes envolvidas. Não é algo que se faça sozinho. No entanto, algumas dicas podem ser dadas e lidas por ambos.

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1 Abuso jamais

Quanto a isso não há discussão. Não existem justificativas para o comportamento abusivo seja em que época for. Se um dos cônjuges é abusivo, esse comportamento deve cessar imediatamente. Não aceitem abuso físico, sexual nem psicológico. Isso é um crime que deve ser comunicado às autoridades competentes para que o abusador seja retirado do ambiente familiar.

2 Diálogo

Se já estavam ocorrendo na relação períodos de brigas, desentendimentos e impaciência, a tendência é piorar, segundo a psicóloga Natália Vargas Filomeno.  Para a profissional, este não é o melhor momento para decidir sobre a descontinuação do relacionamento, já que acrescentaria mais estresse a um momento que já é de ansiedade. Ela aconselha a se observarem e tentarem se conectar por meio de diálogo e novos acordos.

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3 Procurar amenizar o estresse

Os jornais e noticiários da TV e internet estão transmitindo todo o tempo os números de mortos, os quadros mais negros da pandemia, suas projeções futuras, e esse bombardeio de informações pode acrescentar mais estresse ao dia a dia. Estar atento ao que acontece é aconselhável, mas se inundar de imagens de corpos empilhados ou nas ruas, é contraindicado. Além disso, existem famílias agrupadas em pequenos espaços ou aquelas que lidam com uma pessoa doente crônica. Todos temos nossos desafios e nesses momentos, o que se pode fazer é buscar um entendimento, diálogo, metas e revezamento no trabalho doméstico, rodízios para chuveiro e outros e nos cuidados com o ente querido doente, já que estão todos em casa.

4 Exercer o autocontrole

Resvalamos para terrenos mais baixos quando “explodimos” e descontamos nossas frustrações no outro ao perceber que nosso mundo parece estar desmoronando. Nesse momento, o egoísmo é ainda mais contraindicado que em qualquer outra época. Devemos estar prontos a nos controlar, a cuidar do outro sem reclamar, a dar mais de nós mesmo por aqueles que amamos. Marido e mulher são responsáveis pelo que se faz no lar, pelas refeições prontas, pela limpeza e cuidado com as crianças, e todos são responsáveis em cuidar do lar e tornar este um ambiente ainda mais agradável. Um refúgio em tempos difíceis.

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5 Ter esperança

Este é um momento que passará e passará positivamente para aqueles que se mantiverem dentro de casa, ainda que a situação financeira seja um obstáculo a ser enfrentado. Afinal, é preferível perder um negócio, falir uma empresa a perder um ente querido ou a própria vida. Se o casal tiver em mente que logo tudo passará, esse sentimento de esperança pode ser um alento que ajude a suportar as dificuldades atuais e até mesmo fortalecer o relacionamento.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.