Os tiranos que moram em sua casa: as crianças e a síndrome do imperador

Ele é difícil de agradar, não conhece limites, é indisciplinado, birrento e mimado. Com certeza, estamos falando de um imperador tirano!

Emma E. Sánchez

Ter apenas um filho torna-se, muitas vezes, um grande desafio. Se temos o costume de dar a ele tudo o que pede e o mais rápido possível, de mimá-lo, satisfazendo todos os seus caprichos, além de não lhe dar limites; muito provavelmente acabaremos ajudando a formar nele um caráter egocêntrico. Uma criança assim costuma ser egoísta, intolerante, violenta e até cruel com os animais, colegas ou consigo mesma e com seus pais, sendo estes suas primeiras e piores vítimas. A imagem lhe soa familiar?

Deixe-me dizer que amo a educação, acredito firmemente que é por meio dela que cada um de nós pode realmente se superar, melhorar nossas condições de vida e transcender. É por esta razão que me dedico à educação e formação de pais, tendo a oportunidade de receber todos os anos jovens casais que enfrentam novos desafios em torno da educação dos seus filhos.

Há vinte anos, os pais que me procuraram tinham filhos que cursavam o
ensino médio, porém, com o passar do tempo, aumentaram os casos em que os problemas ocorrem em crianças em idade pré-escolar. Essa situação costuma fazer com que os pais se sintam impotentes, incapazem e sem qualquer conhecimento sobre como educar e corrigir seus filhos.

A tão banalizada frase “Ninguém é educado para ser pai” tornou-se a melhor desculpa para não aceitar a verdade da situação: “Muitas vezes, não me interessei em aprender a ser um bom pai”. Assim, muitos pais se escondem atrás de justificativas como essa, que, por fim, custam muito caro, machucam e vão envergonhá-los mais no dia em que seus filhos cometerem uma ofensa, prejudicarem sua vida ou a de outros.

Também ouvimos com frequência que, quando éramos crianças, aprendemos modelos de paternidade com nossos pais, fossem eles adequados ou não, mas era o que acontecia. Assim como na declaração anterior, muitos usam esta para justificar que não podem fazer outra coisa com os próprios filhos. No entanto, embora aprendamos com nossos pais, sempre há algo nos dizendo como ser um pai ou mãe melhor, há uma espécie de instinto e muitos livros que nos ajudam a aprender.

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Retomo esses dois exemplos, porque acredito que o fenômeno “síndrome do imperador” nas crianças tem a ver com tudo isso. Deixe-me dizer em que consiste esse problema:

1. Uma criança não se torna tirana da noite para o dia

Bem-vindo à soberania do capricho. Os bebês aprendem desde os primeiros dias que chorar é a forma de expressar suas necessidades e de tê-las satisfeitas. Com o passar do tempo, eles entendem que quanto mais alto chorarem, mais rápido serão atendidos. E assim se inicia uma corrente que, se não for limitada e canalizada de maneira adequada, acabará sufocando os pais quando os filhos crescerem.

Leia: A frágil autoestima e as crianças tiranas

2. Onde há em excesso, falta algo

Dar a seus filhos tudo o que você não tinha, satisfazê-los generosamente, sem esforço da parte deles e sem controle, prejudicará terrivelmente suas vidas. Com muita frequência, e eu ousaria dizer que quase sempre, pais que dão tudo e em exagero sentem-se muito culpados por não passarem tempo suficiente com os filhos. Essa situação pode dever-se a vários motivos: porque não podem, não querem ou não gostam de passar tempo com eles. O importante aqui é ressaltar que, nessa situação, eles procuram preencher as lacunas com muitos presentes. Porém, sua culpa irá desaparecer apenas por pouco tempo e os filhos aprenderão a exigir cada vez mais coisas.

3. O que sobra não substitui aquilo que está faltando

Uma criança que tem de sobra roupas, comida, brinquedos, aulas extras, passeios, dinheiro ou grandes festas infantis, muitas vezes carece de coisas básicas, mas indispensáveis. Uma disciplina que estabeleça limites claros, regras e normas justas, que proporcionem segurança, confiança e amor é essencial para o desenvolvimento saudável de uma criança. Mimar as crianças sem disciplina não é amar. Um pai amoroso é firme, mas não severo. Uma mãe amorosa molda o caráter do filho, em vez de deformá-lo com complacência infinita.

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4. Excesso de estímulos anula o desejo

Uma criança que recebe tudo antes mesmo de pedir não aprende a desejar algo e depois se esforçar para conquistá-lo. Ela também não tem noção do valor das coisas ou do trabalho envolvido em obtê-las. As crianças que crescem nesse ambiente têm a ideia errônea de que todos estão ali para lhe servir ao simples estalar de dedos, revirar de olhos, com lágrimas de crocodilo e ameaças de se ferir.

Em casos extremos, podemos encontrar crianças que prendem a respiração para pressionar seus pais e conseguirem o que querem, usam chantagem acusando-os de abandono e culpando-os de serem péssimos pais.

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Segundo os especialistas no assunto, é assim que começa o que eles chamaram de Violência Filioparental, que passa a ser expressa em casos muito tristes de filhos adolescentes que não só desrespeitam os pais, mas também os ofendem e até batem neles.

Embora as perspectivas possam ser desanimadoras, deixe-me dizer-lhe que o melhor remédio para este mal do século é barato e você pode fazer em casa: aprenda a dizer ‘não’, a estabelecer limites e não se sentir culpado. Tenha bom ânimo, a soberania do capricho pode ser derrubada.

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Traduzido e adaptado por Erika Strassburger, do original Los tiranos que viven en tu casa: los niños y el síndrome del emperador

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Emma E. Sánchez

Pedagoga e terapeuta de família e de casal. Casada e mãe de três filhas adultas. Apaixonada por Educação e Literatura. Escrever sobre temas familiares para ajudar os outros é minha melhor experiência de vida.