“Ódio do bem”: por que o respeito é seletivo?

Ocultar-se atrás de uma tela de computador ou de celular está fazendo com que muitos se esqueçam de sua natureza humana.

Erika Strassburger

Vivemos em uma época em que, infelizmente, o mundo parece estar de cabeça para baixo. Não falo “apenas” de famílias se desintegrando, de filhos tentando governar os pais, da falta de empatia, do distanciamento emocional. Falo de pura inversão de valores, mesmo.

O mal é chamado de bem e o bem, de mal. O honesto é chamado de corrupto e o corrupto, de honesto. O sagrado é profanado e o profano, consagrado. Apelam para o amor com discursos de ódio, o “ódio do bem”.

A cultura do cancelamento

Hoje em dia, parece haver um esforço concentrado na tentativa de nos impedir de pensar livremente. Qualquer pensamento que destoa do que é ditado pelas “vozes pensantes” da sociedade gera cancelamento virtual. Tudo é problematizado, há muito pouca tolerância de todos os lados.

Ocultar-se atrás de uma tela de computador ou de celular faz com que muitos se esqueçam de sua natureza humana, de que têm uma família e que são indivíduos sociais. Esquecem-se de que aquelas pessoas que estão do outro lado, alvos de seus ataques virtuais, também são pessoas, também têm um coração e uma família.

Eu estou me policiando bastante, principalmente nessa época de polarização, para não definir as pessoas à minha volta por suas posições e preferências. Ser contra um pensamento ou ideologia não deve ser motivo para nutrirmos ódio pelas pessoas. É preciso aprender a combater ideias, não pessoas.

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Indignação seletiva

Infelizmente, hoje em dia é mais questão de “quem fez o quê”, e não simplesmente de “o que foi feito”. Se quem fez algo ruim foi alguém com quem simpatizamos, fazemo-nos de desentendidos, mas se for alguém com quem não vamos com a cara, agimos como se o céu tivesse desabado sobre nossas cabeças.

Duas pessoas podem fazer exatamente a mesma coisa, mas nossa indignação só é despertada por nossos desafetos.

“Justiça para você, misericórdia pra mim”

Os “juízes” da sociedade adoram dar o veredito antecipado contra seus desafetos, a quem insultam com os piores adjetivos possíveis. Mas ai daqueles que baterem o martelo contra os seu ídolos!

Para esses, a justiça só está fazendo um bom trabalho quando pende para o outro lado. Quando se sentem injustiçados clamam por misericórdia, mas quando o outro é acusado, muitas vezes sem provas, apelam intransigentemente para a justiça.

Carência de amor ao próximo

Uma das profecias sobre os últimos dias que mais se destaca é a registrada em Mateus 24:12: “E por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará“.

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É desanimador ver como as pessoas estão deixando de gostar umas das outras, a falta de disposição e vontade de buscar o entendimento e a reconciliação.

Qualquer ponto de vista exposto gera uma indignação na maioria das vezes desproporcional. As pessoas estão com medo de falar o que pensam, porque vão se voltar contra ela.

Alguns anos atrás, escrevi um artigo sobre divórcio, listando razões justas para um divórcio do ponto de vista cristão. Vocês não imaginam o quanto fui demonizada por dizer que é justificado perante Deus uma mulher sair do casamento se seu marido a maltrata, ou não gosta de trabalhar, ou está envolvido com coisas atos ilícitos, entre outros.

Recebi ataques pessoais de “religiosos”, dizendo que eu estava a serviço de satanás, sendo eu uma cristã praticante. Aqueles que deveriam estar pregando amor pelo exemplo, dando sua opinião com sabedoria e empatia, estavam disseminando ódio contra uma pessoa por expor sua opinião amparada pelas escrituras sagradas.

Enfim, foi só em exemplo de como este mundo está estranho e controverso. Que possamos fazer nossa parte para tentar mudar esse cenário, pelo menos à nossa volta e dentro de nosso lar.

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Que possamos alertar nosso filhos contra esses padrões distorcidos. Ensinar o respeito e a compaixão. E ensinar que eles podem – e devem – ter suas próprias opiniões sem disseminar ódio contra aqueles que têm opiniões contrárias. E se for o caso, que combatam ideias em vez de pessoas. Os ataques pessoais surgem quando os argumentos acabam.

Leia também: Chamam o mal de bem e o bem de mal. O que está acontecendo com o mundo?

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Erika Strassburger

Erika Strassburger nasceu em Goiás, mas foi criada no Rio Grande do Sul. Tem bacharelado em Administração de Empresas, trabalha home office para uma empresa gaúcha. Nas horas vagas, faz um trabalho freelance para uma empresa americana. É cristã SUD e mãe de três lindos rapazes, o mais velho com Síndrome de Down.