O que aconteceu quando meu filho foi diagnosticado com transtorno autista

O autismo não é uma sentença de morte nem de prisão perpétua. É uma condição que nos convida a acompanhar nosso filho com mais amor do que nunca.

Emma E. Sánchez

Rosy tinha quatro anos de casada e estava no quarto mês de gravidez de seu segundo filho. O mais velho, Rubem, tinha acabado de completar dois anos, e foi em sua visita ao pediatra que o especialista disse a ela que estava seriamente preocupado com o desenvolvimento da criança. Embora nas consultas anteriores tivessem conversado sobre o pequeno ser “ligeiramente atrasado“, Rosy não se preocupou muito, pois achava que era por ele não socializar muito com as outras crianças de sua idade e, naquele momento, pensaram que era apenas um breve atraso na fala, mas nada sério para se preocupar.

Entretanto, o pediatra solicitou outras avaliações antes que o atraso fosse maior

Ao sair da consulta, Rosy começou uma jornada sem retorno, cheia de dúvidas, incertezas e muita tristeza . Ela voltou para casa e falou com o marido sobre o que aconteceu enquanto jantavam; escondeu seu medo e tristeza e finalizou seu comentário dizendo que talvez o médico se preocupasse demais e que eles poderiam esperar um pouco mais, pelo menos até o bebê nascer.

O marido ouviu-a em silêncio, e quando ela terminou de falar, ele simplesmente disse: “Marque uma consulta com o especialista o mais rápido possível, se o nosso filho tiver alguma coisa, nós precisamos saber já“.

Aos dois anos, o filho de Rosy, Joan, não respondia se alguém falasse com ele, não conseguia fixar os olhos em um ponto, não se relacionava com adultos ou outras crianças e apresentava episódios de irritabilidade – que muitas vezes eles pensavam que eram birras – e começaram certos comportamentos compulsivos.

Avaliações psicométricas e cognitivas

Para fazerem um diagnóstico confiável, Joan passou por uma série de exames médicos:

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  • Amostras de sangue
  • Testes genéticos para procurar anormalidades nos cromossomos e descartar a deficiência intelectual
  • Avaliações de desenvolvimento motor, de linguagem, social e de aprendizagem
  • Testes auditivos, pronúncia e linguagem em geral
  • Consulta com neurologista pediátrico e a realização de eletroencefalograma ou ressonância magnética
  • Testes para verificar os níveis de chumbo no sangue

Juntando as peças e montando o quebra-cabeça

Conforme cada especialista ia atendendo Joan, Rosy e seu marido reuniam uma infinidade de informações sobre o filho, e então o segundo bebê nasceu.

A atenção da família voltou-se totalmente para o novo membro e para os cuidados do pequeno e de sua mãe, mas tão logo ela pôde sair de casa, eles foram ao último especialista levar os resultados de todos os exames. No consultório eles receberam a notícia: Joan era um garoto autista .

A tristeza da confirmação do que eles já suspeitavam só foi superada pela grande preocupação em saber se o novo irmão também sofria de Transtorno do Espectro Autista.

O médico mencionou que eles monitorariam o desenvolvimento do irmãozinho, tal como fizeram com Joan.

Diagnóstico confirmado, e agora?

Rosy e seu marido voltaram para casa, mas desta vez não estavam tristes nem sozinhos. Durante todo o processo de avaliação e diagnóstico eles conheceram muitas pessoas novas que os encaminharam para outros especialistas em transtorno autista que poderiam aconselhá-los para que Joan tivesse os cuidados necessários.

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Quando Rosy e o marido se sentiram seguros, eles conversaram com suas respectivas famílias e deram o diagnóstico de Joan, enquanto esclareciam dúvidas e acalmavam seus medos.

Então, a família acolheu-os com amor e os ajudou a cuidar dos dois filhos. Rosy tentou ficar menos apreensiva e procurou entender que o filho poderia ter uma vida normal e feliz, talvez de maneira diferente da que ela imaginara, mas que no final da estrada havia uma luz, um objetivo, e isso era muito bom.

Rosy aprendeu que era muito importante fazer um cronograma de atividades diárias, que ela poderia ser firme e amorosa com o filho, que a família deveria ser paciente e planejar as mudanças para que Joan se adaptasse pouco a pouco ao novo.

Uma escola para Joan

Rosy começou, então, a procurar uma escola que se adaptasse às necessidades de seu filho. Não foi fácil, mas eles chegaram a um centro de estimulação precoce, onde ele poderia ficar durante 4 anos e adquirir habilidades preparatórias para o ensino primário.

Começou aí uma fase complicada, porque encontrar uma escola onde ele fosse aceito e onde os professores pudessem desenvolver um plano de trabalho especial para ele não foi fácil, mas eles encontraram. Sempre houve desafios; muitas vezes, lágrimas; mas também muita alegria em ver as pequenas conquistas e sucessos que Joan conquistou .

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Sua linguagem melhorou, mas sua capacidade de fazer amigos ou se relacionar com os outros, não.  No entanto, era uma criança aceita e bem recebida por seus colegas e professores. Nesta fase da vida, Joan começou a demonstrar facilidade e um gosto especial por pintura e matemática, cálculo mental, para ser exato.

O ensino médio foi uma fase complicada e um período em que Joan nem sempre encontrou bons amigos

Alguns eram inclusive maus com ele, zombavam dele. Felizmente, seus pais e irmão estavam sempre lá para animá-lo e ajudá-lo a tentar mais uma vez.  As crianças com espectro autista são inocentes, entendem de modo literal as expressões que, para outros, podem ser engraçadas ou maliciosas, mas para elas, não fazem sentido .

Joan fez um ano de curso superior à distância e começou seus estudos em pintura. Atualmente, ele é um jovem artista que se sustenta vendendo suas obras, tem uma namorada e é uma pessoa solidária e feliz.

Seus pais o visitam com certa frequência e Joan os visita, ele ainda é um tanto reservado e sua conversa é breve e simples, mas seu amor pela família é incondicional, pois suas ações demonstram isso.

O autismo não é uma sentença de morte nem de prisão perpétua, não é uma doença da qual alguém possa ser curar, é uma condição de vida com que se pode lidar e seguir em frente. As crianças diagnosticadas precocemente podem progredir e levar uma vida plena e feliz.

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Se observar algo em seu filho que o faça suspeitar de seu desenvolvimento saudável, não hesite em ir ao médico, isso pode realmente fazer a diferença na vida dele.

Traduzido e adaptado por Erika Strassburger, do original Lo que pasó cuando diagnosticaron con el trastorno autista a mi hijo

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Emma E. Sánchez

Pedagoga e terapeuta de família e de casal. Casada e mãe de três filhas adultas. Apaixonada por Educação e Literatura. Escrever sobre temas familiares para ajudar os outros é minha melhor experiência de vida.