Você será mais corajoso se soltar isso que tanto lhe faz mal

Quando uma situação é difícil, é melhor recuar quando ainda temos forças para seguir em frente.

Erika Otero Romero

Todos passamos por momentos difíceis. Não importa que seja o pior ser humano do mundo ou a pessoa mais amável e generosa; é regra: todos passamos por maus tempos em algum momento.

Às vezes, superar esses episódios difíceis pode ser muito complicado. Qualquer pessoa pode pensar que por serem situações que trouxeram muita dor à vida, “deixá-los ir” deveria ser fácil; a verdade é que isso não é assim.

Ora, não se trata apenas de deixar ir situações desagradáveis, mas também pessoas que nos causaram muita tristeza.

O que ocorre é que às vezes nos apegamos ao passado, a esses pedaços de aparente felicidade que vivemos com essa pessoa ou nesse episódio específico de nossas vidas. Agarramo-nos de tal maneira que deixá-los ir é o mais doloroso momento que se viveu.

O problema é que não deixar ir esses eventos ou pessoas que vivem em nossa memória nos faz mal. É algo que nos desgasta emocionalmente e não nos deixa avançar. É como se estivéssemos presos no passado, recordando cada alegria e angústia. É quase como fazer uma apologia ao masoquismo do qual não estamos conscientes.

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Apegar-se é sofrer

Escrevo sobre este tema com base na minha própria experiência. Posso dizer sem medo de errar que, às vezes, “deixar ir” pode levar anos; no entanto, isto não é o pior. O pior de tudo é que muitas vezes você não sabe que está “preso” ao passado.

Vivemos uma vida automática, fazemos coisas sem nos apercebermos e rejeitamos pessoas e oportunidades porque temos dificuldade de encontrar uma direção e seguir em frente.

Além disso, se você se sente confortável numa situação, ainda que complexa, você prefere isso a fechar esse capítulo doloroso e seguir em frente.

Um exemplo ilustrará melhor

Se você é da América do Sul, você sabe que se há algo difícil nesta parte do mundo é encontrar emprego quando acaba de se formar. Quase que nos agarramos à primeira coisa que encontramos porque o nosso maior desejo é encontrar um emprego e tornar-nos independentes, mas isso raramente acontece.

Eu tive a “sorte” de encontrar emprego sete meses depois de ter me formado. O trabalho que consegui nada tinha a ver com o que eu estudei. Aceitei esse trabalho porque me disseram que havia a possibilidade de ser promovida; depois de um tempo poderia chegar ao cargo de psicóloga escolar. A vaga era de secretária de uma escola de música; no entanto, se eu soubesse que me iria meter numa fria, jamais teria aceitado.

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Comecei a trabalhar no ano seguinte à minha graduação, e desde o primeiro dia, tive problemas com o meu chefe. Ele era um homem de meia-idade, mau-caráter, bastante colérico e obtuso.

A princípio, pensei que tudo o que eu fazia estava errado; apesar disso, com o tempo me dei conta de que ele gritava com todo mundo. Não havia um único ser humano que suportava seus ataques de ira. Ao final de um mês, eu já tinha sofrido o suficiente de suas explosões e queria mandar tudo para longe. Ainda assim, suportei estoicamente, por necessidade financeira, seus gritos e humilhações. Cada noite, no transporte público, eu era um mar de lágrimas.

O fim

Eu sabia que tinha que renunciar a esse emprego; literalmente estava morrendo em vida. Adoeci várias vezes e tive que ir ao médico. Fui diagnosticada com várias doenças físicas associadas ao estresse: cólon irritável, gastrite, enxaqueca e rinite alérgica, entre outros.

Como se não bastasse, cada dia ficava com mais e mais raiva do meu “chefe”. Ele fazia coisas com as quais eu não concordava. Cheguei a um ponto em que sabia que se continuasse ali um mais mês, iria explodir; apesar disso resistia a desistir.

Estava agarrada a esse emprego por medo de não poder conseguir outro. Além disso, queria comunicar minha demissão à mesma pessoa que me havia contratado. Desejava que ela se desse conta que trabalhar com esse senhor era mesmo um inferno.

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As coisas não saíram como esperado. No final, por causa de algumas fofocas de outras secretárias, acabei sendo demitida. Hoje, é uma coisa que agradeço, porque se dependesse de mim, talvez tivesse aguentado mais uns anos de sofrimento.

Sei que fui teimosa, foi difícil me decidir. No que me diz respeito, isso de suportar uma situação insustentável está longe de ser algo sábio. Hoje sei que não é mais forte a pessoa que suporta, é mais forte quem sabe deixar ir enquanto é tempo.

É melhor recuar quando você ainda pode se mover

Dito de outra maneira, é melhor retirar-se quando ainda há aplausos.

Ser forte anda de mãos dadas com a sabedoria. E nada é mais sábio do que deixar ir essas situações que só trazem infelicidade.

Nós temos a capacidade de controlar alguns aspectos difíceis da nossa vida e podemos decidir sobre eles. Mas quando as coisas dependem dos outros, é quando o caminho se torna mais complexo. Então, a coisa certa e mais digna é colocar um limite enquanto podemos escolher; isso evitará dores desnecessárias.

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Deixar ir situações que só vivem em nossa mente como lembranças também é necessário e sábio. Fazê-lo é libertador porque finalmente você reconhece que se as coisas não correram como queria, mesmo que não perceba, foi o melhor para você.

Convido-o a refletir sobre a sua vida, suas dores e a fechar os ciclos. Muitas dessas dores emocionais atuais se devem a coisas não superadas; você se apega a algo impossível que só lhe traz infelicidade. Quando soltar e deixar ir, prometo que será mais feliz.

Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original Eres más valiente si sueltas eso que tanto te hace daño

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.