Você sabe o que é o efeito MUM? Creio que vai gostar de saber

Não importa o quanto você deseje um mundo sem dor e sofrimento, isso faz parte da vida e devemos aprender a conviver com isso.

Erika Otero Romero

Poucas pessoas sabem que fiz meu estágio em uma corporação governamental do meu país, similar ao FBI. Em termos gerais, essas organizações dedicam-se a investigar crimes de todo o tipo, isso inclui tratar casos de pessoas desaparecidas.

Fui designada para a seção de não-identificados e desaparecidos. Minhas tarefas eram variadas, mas uma das mais terríveis era a intervenção psicológica de emergência. Isso porque eu tinha que comunicar a identificação de um parente morto a muitas pessoas. As cenas que vi foram terrivelmente dolorosas; algumas pessoas já esperavam esse tipo de resultado, e trabalhar com elas era muito mais simples. Isso devia ser feito todas as semanas e era moral e mentalmente esgotante.

Com o tempo, compreendi por que muitas pessoas que trabalhavam ali não demonstravam um pingo de dor pelo sofrimento alheio. Habituamo-nos ao sofrimento e, pouco a pouco, perdemos a nossa humanidade. Ali vi tantas coisas, umas mais terríveis que outras, mas jamais me acostumei a dar más notícias, nunca me tornei insensível à dor do próximo.

O que é o efeito MUM?

O efeito MUM consiste na resistência que muitas pessoas têm para dar más notícias. Esse medo está ligado ao fato de não querermos ser associados a elas.

Você pode pensar que é tolice supor que alguém possa ter medo de ser “emissário” de más notícias, mas acontece. Quando isso acontece, é comum que as pessoas o tratem como “ave de mau agouro” e ninguém queira se aproximar por isso.

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Para dar um exemplo simples do efeito MUM, vou referir-me aos noticiários. Eu tenho especial resistência a ver notícias; a razão é que transmitem situações terríveis que só nos sobrecarregam com uma sensação de “má vibração”.

É natural não querer que nos associem a eventos desastrosos, mas às vezes acontece. O pior é que quanto menor o lugar onde a pessoa trabalha ou vive, mais atenção negativa atrai.

Em vários filmes de terror vimos esse fenômeno. É tipo: menina de 13 anos sofre uma morte atroz nas mãos dos moradores de um povoado; isso porque ela pode “ver” quem vai morrer antes que isso aconteça. Quem não teria medo de ser o “foco de uma atenção dessas”? Eu sim.

Lembro-me de como me sentia quando os meus colegas de seção me diziam para fazer uma intervenção psicológica de emergência. Minhas mãos ficavam suadas e doía-me o estômago; era ver chegar os familiares da pessoa encontrada morta e sentir-me mortificada pelo que tinha que lhes dizer. Era o meu trabalho, mas um com o qual no início era muito difícil conviver; e com o tempo não se tornou mais fácil.

Ninguém quer ser emissário de más notícias

Tenhamos em mente que todos queremos agradar; é a natureza humana. Isso é para que conservemos e potenciemos nosso amor-próprio.

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A verdade é que nem todos “gostam de nós”, e isso também é bom. É diferente quando as outras pessoas têm medo de se aproximar porque só inspiramos “más vibrações”.

O efeito MUM tem sido estudado na psicologia social e é sustentado com teorias de reforço. As teorias do reforço (Lott e Lott, Byrne) falam da atração por pessoas que estão presentes ou que fazem algo que ativa um afeto, seja positivo ou negativo.

Agora, existem várias preocupações que nos impedem de comunicar más notícias:

1 O desejo de evitar ser associado como alguém “transmissor de más notícias”.

2 Queremos inspirar bons sentimentos nos outros.

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3 Preocupação por nosso próprio bem-estar, queremos evitar sentimentos de culpa.

4 Sentimento de preocupação pela pessoa que vai receber a má notícia.

Como seres humanos, desejamos crer que “o mundo é justo” e que todos recebemos o que merecemos. Com isso em mente, a hipótese de que não existem injustiças, perde a validade. E sim, é mais simples viver com a crença de que todos recebemos o que merecemos (coisas boas e más). Isso é uma distorção da percepção da realidade (preconceito cognitivo) que ajuda a lidar com a natureza da própria vida.

Com isso em mente, comunicar más notícias entra em conflito com nossas crenças; é aqui que entramos em conflito, ninguém quer se sentir culpado e lidar com a pena de dar más notícias.

Aprender a conviver com as más notícias

Não é segredo que vivemos em um mundo em caos. Tem sido assim desde sempre, só que a tecnologia tem feito com que o mundo se reduza imensamente. Hoje, basta um clique para saber o que se passa do outro lado do mundo, o que pode ser assustador.

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A questão é que devemos aprender a viver com isso. Estar preparado para receber uma má notícia não deveria nos afetar, mas nos afeta.

Tampouco se trata de viver esperando o pior. Estar predispostos pode nos fazer um pouco menos suscetíveis a sofrer por uma má notícia. Não é coisa de nos tornarmos insensíveis, diria antes que é estar preparado; isto tornará mais fácil relacionarmo-nos com os outros sem os associar a uma má situação.

Sei que é inevitável sofrer, mas também não devemos nos sobrecarregar com sentimentos de culpa ou mal-estar por nos vermos, em raras ocasiões, forçados a dizer algo que não deseja ser ouvido.

Os médicos e funcionários públicos têm de lidar constantemente com este tipo de situação. Não podemos culpá-los por fazer algo que é apenas parte do seu trabalho, de sua vida.

Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original ¿Sabes lo que es el efecto MUM? Esta información te gustará conocerla

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.