Você é o filho menos amado?

Um filho que se sente menos querido pode desenvolver problemas para toda a vida

Erika Otero Romero

Devo começar este artigo com uma confissão: sempre me senti a filha menos amada. Não que os meus pais tivessem uma preferência aberta pela minha irmã, mas o tratamento que davam a ambas era bastante diferente.

Por exemplo, quando eu saía com meu pai, jamais me atrevi a lhe pedir nada e ele também não me oferecia nada. A situação era diferente quando saía com minha irmã; sem que ela lhe pedisse absolutamente nada, chegava cheia de presentes.

Ele também era extremamente rigoroso comigo. Recordo uma ocasião em que cursava o segundo ano e tirei uma nota baixa em religião. Duas noites depois ele chegou com presentes. Ele deu um relógio lindo para minha mãe e um urso de pelúcia muito bonito para minha irmã. Claro, eu esperava que ele me desse algo, mas a única coisa que recebi foi um comentário que até hoje me magoa: “Você, nem espere nada, não está merecendo”. Sempre foi assim. Lembro-me também que não foi a única noite em que senti meu coração partido em mil pedaços.

Para ser franca, hoje que sou adulta compreendo o seu procedimento; não o justifico porque me magoou muito, mas, sim, eu o entendo. Sua criação não foi fácil e sua vida de criança menos ainda.

Com minha mãe as coisas foram um pouco diferentes. Ela sempre se empenhou em não fazer distinções entre minha irmã e eu. Ela exigia o mesmo de nós duas e procurava prover-nos da mesma maneira; no entanto, certamente a protegia mais. Isso eu entendo perfeitamente, ela era a filha mais nova e eu sempre provei ser mais forte.

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“Mal comum…”

O que descrevi é o que muitos filhos passam. É impossível aos pais negar que sentem algum tipo de preferência por um deles. É que, inevitavelmente, sempre percebemos sua predileção.

A verdade é que seria menos doloroso para os filhos se os pais procurassem ser mais prudentes ou, pelo menos, tornassem sua preferência menos explícita.

O que piora as coisas é que não são poucos os filhos que sentem uma clara diferença nesse aspecto.

Numa rede social, tornou-se viral um desafio em que se pedia aos jovens que explicassem por que se sentiam os filhos menos amados. Foram muitas respostas.

Muitos disseram que seus pais pagaram a faculdade para seus irmãos, mas quando eles mesmo mostraram interesse em estudar, foram mandados trabalhar para custear os estudos.

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Outro exemplo que deram foi o de nunca se lembrarem de seus aniversários, mas os de seus irmãos eram sempre lembrados. Francamente, fiquei muito triste ao ver essa preferência tão explícita.

Não, dizer que isso é um “mal comum” não é consolo; é um golpe de realidade que muitos pais não podem negar.

O que leva um pai a amar um filho mais do que outro?

As razões podem variar muito de um pai para outro. Para alguns, a razão pode dever-se ao tipo de relação que tiveram antes de conceber cada um dos seus filhos.

Pode ser que um pai ou mãe olhe para esse filho em particular e lembre-se dos bons ou maus momentos que viveu com o seu parceiro, e isso influencia o que sente pelo filho.

Honestamente, isso só depende dos envolvidos; o que é completamente verdade é que nenhuma das partes ganha neste tipo de relacionamentos tão intrincados.

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Consequências

Ainda que essa atitude seja algo sem importância para alguns pais, a realidade é que demonstrar essa preferência de maneira tão explícita gera problemas entre os filhos.

Em primeiro lugar, cria ressentimentos entre irmãos. Não é que deixem de se amar; simplesmente há sempre essa sensação de desconforto que o fato de se sentir menos querido gera.

Em segundo lugar, cria competitividade. Não é que ser competitivo seja ruim; o ruim é que essa busca entre irmãos por demonstrar que é ou merece determinada coisa faz com que surjam atritos.

Terceiro, inspira no filho que se sente menos amado o desejo de demonstrar aos seus pais que é capaz do que se propõe a fazer. A questão é que ele não está fazendo isso por impulso de progredir, mas para ganhar a aprovação dos pais.

Quarto, faz com que o filho mais querido seja invejado por seus irmãos.

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Em quinto lugar, gera uma pressão desnecessária sobre o filho mais querido, porque os pais esperam muito dele ou dela para que corresponda ao carinho e atenção que lhe dão.

Em sexto lugar, o filho que se sente menos querido torna-se introvertido. Além disso, procura chamar atenção dos seus pais metendo-se em problemas.

Como fazer com que não haja favoritismo?

Não é tão complicado como parece. É dever de todo pai garantir que seus filhos se sintam igualmente amados; por isso, eles devem se esforçar. Aqui estão algumas dicas que irão ajudá-los:

  1. Passe um tempo com cada filho, individualmente.
  2. Não compare seus filhos.
  3. Seus filhos não são iguais; por isso todos vão ser talentosos em diferentes áreas. É apenas uma questão de explorar esses méritos e desenvolver seus talentos. Não peça aos seus filhos igualdade. Cada um é diferente e tem qualidades e fraquezas.
  4. Se começar a favorecer mais um do que por outro, procure no filho pelo qual sente menos inclinação um talento para admirar.

Só me resta dizer que se você sente que é o filho menos amado, deve procurar ser feliz não para fazer seus pais felizes, mas por você mesmo.

Agora, se você é um pai ou mãe que se sente identificado com o exposto, devo dizer que é seu dever mudar essa atitude. É seu dever fazer com que seus filhos se sintam confortáveis e felizes, e isso está em suas mãos.

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Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original ¿Acaso eres el hijo menos querido?

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.