Se já sofreu bullying, você pode ter essas consequências

Há vários tipos de pessoas, as que são vítimas da vida, e as que se esforçam por deixar para trás o caos que gera a violência.

Erika Otero Romero

Sofri bullying escolar por parte de professores e colegas; só não o sofri como outras pessoas sofreram.

Eu tinha cerca de 9 anos quando tudo começou. Eu estava na terceira série e a professora odiava a mim e a outra criança. A mulher, talvez nos seus vinte anos, não desperdiçava a oportunidade de nos humilhar. Sua última agressão foi jogar um de meus cadernos, de sua mesa, até minha carteira no fundo da sala; tudo isso diante de meus colegas assustados.

Recordo-me do motivo da ofensa: ela não gostou do desenho que fiz dos pontos cardeais. Cheguei em casa chorando, e como seria de esperar, contei aos meus pais. Eles explodiam de raiva, mas na sexta-feira seguinte, iria acontecer uma reunião com pais. Sei que meus pais avisaram a diretora do seu aborrecimento; o abuso da professora acabou, pelo menos para mim. No ano seguinte, não voltou a trabalhar nessa escola.

No entanto, tornei-me o centro das piadas dos meus colegas. Apelidos iam e vinham, e eu, que sou muito emocional, tornei-me um mar de lágrimas diante da impotência.

Você não está disposto a permitir abusos

Vieram vários anos de paz quando, finalmente, passei para outra fase do fundamental. Com 11 anos, estava enfrentando um novo mundo. Minha personalidade e caráter se fortaleceram. Tornei-me uma adolescente rebelde que sabia respeitar e fazer-se respeitar.

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Por questões da vida, tive que mudar de escola e entrei numa instituição onde só estudavam moças. A questão é que, aos 13 anos, tive de partilhar o quarto com moças mais velhas, e elas eram bastante inconvenientes. Também tive má sorte com uma professora; aí começou de novo meu calvário. Apesar disso, havia uma grande diferença: já não estava disposta a me deixar maltratar por ninguém; não importava quanta autoridade ou altura tivesse.

Por sorte, a professora não me incomodou por muito tempo; em contrapartida, algumas garotas não davam trégua, isso até que encheram minha paciência.

“Trate como quer ser tratado”, esse sempre foi um dos meus lemas, e o mais efetivo. Quando apliquei o mesmo trato que me estavam dando, eu passei a ser a má. Felizmente, tinha bons argumentos e não passou de uma repreensão. O resto dos meus anos de escola foram em relativa paz.

Às vezes, as meninas mais velhas achavam que podiam me chatear, mas eu tinha muita coragem e não lhes permitia ir muito longe. Não batia nem insultava, só não permitia; sabia estabelecer limites e não deixava que as agressões chegassem longe.

O bullying deixa sequelas

Muitas pessoas não vão concordar comigo sobre isso. São os porta-estandartes da paz; no entanto, uma paz onde eu sou a vítima não é uma boa ideia. Não, a vida não é “dar a outra face”; consiste em respeitar e ser respeitado quando se trata de ter uma infância e adolescência tranquilas.

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Acho que se eu não tivesse sido assediada na escola primária, provavelmente não teria reagido ao abuso nos anos seguintes. Sim, o assédio deixa sequelas, mas não as mesmas em todas as pessoas.

No meu caso, aprendi a me defender e a não ser vítima. Acho que se deve muito a eu saber que tinha quem me defendesse. Minha mãe foi chamada à escola inúmeras vezes; além disso, tive anotações no boletim do aluno; no entanto, jamais voltei a ter chiclete no cabelo ou lágrimas rolando por minhas bochechas.

Outras pessoas passam por coisas diferentes. Não importa quantas vezes elas se queixem com a direção da escola, é como se nada estivesse errado. Essas pessoas passam por maus bocados pelo resto da vida, isso, até tentarem fechar o ciclo.

Os professores e gestores são diretamente responsáveis pelo bullying escolar. Ao saberem do que acontece, está em suas mãos cortar na raiz este tipo de comportamento.

Se há algo que as escolas públicas do meu país fazem bem, é que, na sua maioria, os diretores cortam completamente qualquer tipo de assédio. Ao primeiro sinal de assédio a um aluno, o perseguidor é retirado da escola.

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Consequências do assédio escolar em adultos

Quer você tenha sido um dos muitos alunos que aprenderam a se defender ou não; o assédio deixa consequências para toda a vida. Elas podem ser tanto negativas como positivas.

As consequências negativas são:

Problemas para socializar

Por vezes, isolar-se é algo que nos agrada fazer; pode ser porque somos tímidos, ou porque incomoda-nos estar rodeados de pessoas, como é o caso dos introvertidos.

Apesar disso, as pessoas perseguidas tendem a isolar-se porque se sentem vulneráveis à convivência com outras pessoas. Além disso, têm dificuldade em expressar o que sentem e pensam; sentem-se pouco aceitas e, a longo prazo, podem desenvolver fobia social após o assédio.

Estresse

Uma pesquisa afirma que o assédio escolar causa estresse na vítima. William E. Copeland, integrante do Centro de Epidemiologia do Desenvolvimento em Duke, diz:

“O bullying pode ter consequências fisiológicas. Há evidências de que, com o tempo, essa experiência pode alterar as respostas biológicas do estresse. O desgaste dessas mudanças fisiológicas pode limitar a capacidade do indivíduo em responder a novos desafios, tendo maior risco de doenças.

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Depressão e baixa autoestima

Como seria de esperar, sentir-se encurralado pelos seus pares gera uma profunda depressão. Além disso, existe uma relação entre o assédio escolar e a propensão a problemas de saúde emocional e baixa autoestima.

Esta última surge porque a pessoa começa a desenvolver um conceito equivocado de si mesma. Assim, começa uma luta interminável para sentir-se bem consigo mesma e recuperar seu sentido de amor-próprio.

A consequência positiva:

O assédio torna você mais forte

Assim como eu, muitas pessoas pessoas aprendem a reconhecer a sua própria coragem em situações de abuso. Além disso, você também se torna uma pessoa capaz de tolerar as dificuldades e manter a calma em momentos de turbulência.

Se você foi vítima de bullying e sente que ainda não superou, busque ajuda terapêutica e trate seu sofrimento; ninguém merece viver em um constante tormento.

Sim, o bullying pode ser desastroso e ter consequências maiores do que o estresse ou a depressão. Olhe os casos de massacres em escolas dos EUA, esta é a máxima e mais terrível expressão de assédio escolar.

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Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original Si sufriste acoso escolar, es posible que padezcas estas consecuencias

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.