Quando os pais brigam, a vida dos filhos desmorona

A separação de um casal que tem filhos geralmente inclui tensão, conflitos. Os filhos podem ser severamente afetados.

Danitza Covarrubias

Os filhos são feitos de duas células fundamentais: a do pai e da mãe. É, então, uma necessidade vital dos filhos poder ter ambos os pais, tanto em seu coração, como em sua vida. Quando os pais brigam, os filhos sentem o coração dividido. Puxados para um lado e outro, começam a se fragmentar em si mesmos. É por isso que é fundamental falar desta realidade.

A lealdade

O ser humano, sendo um dos animais que nasce mais indefeso, necessita necessariamente de um grupo que o sustente para sobreviver.

Instintivamente, tenta fazer tudo o que estiver ao seu alcance para pertencer a esse grupo. Esta é uma resposta ancestral, e animal, especialmente de quando éramos tribo. Assim, também o ser humano atualmente guarda lealdade a seus progenitores.

A lealdade consciente

Geralmente os menores vivem e convivem mais com um dos pais. Sua lealdade consciente será para essa pessoa, pois é quem estará mais a cargo de suas necessidades, e que o faz sentir-se seguro, sujeito e certo de que proverá sua sobrevivência. Fará tudo o que essa pessoa disser, e tratará de respeitar suas regras. Seu discurso verbal se parecerá ao deste progenitor.

A lealdade invisível

Os filhos têm necessidade de pertencer a ambos os pais, uma vez que são aqueles que lhe passaram a vida. Perante essa necessidade, serão automaticamente leais ao pai com quem não vivem. Isto quer dizer que, embora conscientemente procurem obedecer aquele com quem convivem mais tempo, irão se parecer e se comportar sem dar-se conta ao outro progenitor, para também assegurar sua pertença.

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Obviamente isto trará dificuldades para os pais em sua convivência com os filhos, já que, se não resolveram sua relação de casal, dificilmente aceitarão essas características em sua progênie. E assim, a luta do casal passa também a ser uma luta contra os filhos, contra aquilo em que se assemelham ao seu ex que não toleram.

O anseio do coração e da integração

Os filhos amam profundamente os seus pais, quando são menores até estão dispostos a dar a vida por eles. Seu único anseio é ser amados de volta. Ter permissão de sentir que podem existir, ser como são, e que ambos os pais os amem.

Os filhos também anseiam por ver seus pais juntos. É como se a realidade material de sua existência pudesse ser confirmada pelo amor entre o casal que lhes deu vida. Sempre desejarão também que ambos estejam presentes em seus momentos importantes, sem que isso implique tensão, ou conflitos.

A briga explícita

Os pais muitas vezes têm brigas totalmente expostas aos olhos dos filhos. Isso acontece quer seja por discutirem em frente aos filhos, e/ou porque repreendem os filhos criticando o outro progenitor relativamente a um tema específico.

Por exemplo, se quando os filhos vão para casa do pai, ele critica a forma como a mãe os alimenta, torna-se um assunto exposto, onde claramente há um conflito. As crianças terão que aprender a comer de ambas as maneiras para poder suportar a convivência com ambos. No entanto, se você tem que escolher um estilo e gosto, é altamente provável que você escolha o estilo de quem você convive, com quem você passa mais tempo, e onde você come mais vezes, porque esses são seus hábitos, e é isso que você precisa se acostumar a comer para sobreviver.

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A briga implícita

Há outras questões que não são explicitamente um conflito, que são recusas silenciosas, mas que existem. Por exemplo, frases de um progenitor que, na boca dos filhos, remetem a momentos dolorosos de quando eram um casal.

Outra realidade é que a sua semelhança física pode gerar desconforto. Inclusive atividades que realizem nos dias de convivência com o outro progenitor pode provocar gestos físicos de rejeição que se percebem na linguagem corporal.

A criança presa

Diante desta realidade, é extremamente complicado para uma criança poder crescer de maneira saudável. Sempre se verá num beco sem saída, ao ter que escolher a quem obedecer. Vai ficar exausto ao questionar constantemente o comportamento que deve ter para que seus pais a amem. Este tipo de tensão entre os pais costuma ter repercussões severas nos menores. Eles geralmente causam uma ansiedade severa que pode resultar em diferentes sintomas, tais como:

Insônia

Não podem descansar, não podem soltar seu corpo com confiança, já que vivem constantemente em uma sensação de perigo. Um medo constante de que em algum momento algum dos pais ou ambos o abandonará.

Roer as unhas

Como não podem se defender, geralmente o incômodo que possam estar sentindo só poderão expressá-lo de maneira inadequada, como, por exemplo, roendo as unhas.

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Enurese

Ao ter mudanças de espaços na convivência com os pais, a criança terá necessidade de “marcar seu território” através da urina. Outra possível situação é que ao ter que se autocontrolar em outros aspectos, expressem tensão neste sintoma.

Medo do escuro

Não podendo confiar nos seus pais, uma vez que, a qualquer momento, um ou ambos podem rejeitá-lo, é difícil que se sinta seguro e protegido. Portanto, o medo natural do escuro será exacerbado.

Brigas fortes entre irmãos

Às vezes as brigas entre os pais também se verão expressas nos irmãos. Não necessariamente quanto aos mesmos motivos dos pais. A lealdade de cada um dos filhos será confrontada com a lealdade possivelmente contrária de algum irmão.

Vícios

É tanta a dor, que é altamente provável que procurem uma fuga através dos vícios. E, quando ainda pequenos, costumam encontrá-la em videogames, comida ou dispositivos eletrônicos. Quando são adolescentes costumam cair no cigarro, álcool e inclusive drogas.

A separação dos pais para a saúde dos filhos

É fundamental que, diante de uma separação e divórcio, os pais possam separar a relação de casal da relação de pais. Uma criança não precisa que os pais sejam um casal antes de mais nada. Os filhos precisam ter a liberdade de recorrer a ambos, de se assemelhar a ambos, de amar a ambos, e de sentir o amor de ambos.

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Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original Cuando los padres se pelean, la vida de los hijos se derrumba

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Danitza Covarrubias

Danitza es originaria de Guadalajara, Jalisco, en México. Licenciada en psicología y maestra en desarrollo transgeneracional sistémico, con certificación en psicología positiva, así como estudios en desarrollo humano, transpersonal y relacional. Psicoterapeuta, docente, escritora y madre de 3. Firme creyente que esta profesión es un estilo de vida.