Quais efeitos os sonhos têm sobre o dia a dia das pessoas?

O sonho é um aprendizado “lento e gradual que provavelmente começa no útero materno". Sidarta Ribeiro.

Stael Ferreira Pedrosa

Meu filho, que já é um adulto, veio me contar sobre sonhos perturbadores que tem afetado seu humor durante o dia todo, impedindo-o até mesmo de trabalhar ou realizar suas tarefas diárias.

São sonhos que, embora pareçam comuns e corriqueiros, parecem disparar nele algum gatilho que o incomoda e o mantém preso àquela sensação de irrealidade que alguns sonhos costumam trazer.

Quem nunca se sentiu assim? Geralmente me esqueço do que sonhei, mas algumas situações no dia me dão alguns “flashes” como se tivessem feito parte dos meus sonhos, embora eu nem saiba o que seja exatamente. Isso costuma incomodar.

Mas, afinal, o que são os sonhos? Por que sonhamos? Eles podem ser revelações de algum evento futuro? Como afetam nosso dia a dia e saúde?

Antigamente se acreditava que os sonhos eram apenas um subproduto do sono, mas pesquisas têm mostrado que não é bem assim. O sonhar tem funções que afetam o nosso bem-estar. De acordo com a literatura existente, tentarei, neste artigo, responder a algumas questões comuns sobre sonhos.

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O que são os sonhos?

De acordo com a Associação Americana do Sono, os sonhos são sensações, emoções, ideias e imagens que ocorrem involuntariamente na mente de uma pessoa durante certas fases do sono. Não se sabe exatamente qual é o propósito e conteúdo dos sonhos, no entanto, sabe-se que são importantes para a saúde mental.

A maior ocorrência dos sonhos se dá durante o estagio REM (Rapid Eyes Movement ou movimento rápido dos olhos, em português). É um estágio em que a atividade cerebral se torna mais intensa e os olhos se movem rapidamente. Embora ocorram em outros momentos do sono, os sonhos serão mais confusos e mais difíceis de se lembrar;

Por que sonhamos?

Para o neurocientista e autor do livro “O Oráculo da Noite”, Sidarta Ribeiro, do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o processo onírico (sonho) é um aprendizado “lento e gradual que provavelmente começa no útero materno, com a formação das primeiras representações sensoriais na fronteira do corpo com o mundo exterior”.

Sonhos podem ser reveladores?

São muitas as situações relatadas por pessoas de acontecimentos reais que foram sonhadas antes, ainda outros que aprenderam ou tiveram inspirações através dos sonhos, como foi o Caso de Mendeleev, que construiu a tabela periódica dos elementos inspirado em um sonho.

Também se fala muito de Paul Mccartney ter criado a canção “Yesterday” depois de sonhar com ela. Quem não se lembra do tecladista do grupo musical Mamonas Assassinas, o Julio Rasek, dizendo que havia sonhado com o avião caindo?

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Na Bíblia, é comum a referência a sonhos premonitórios e não se limitava tal crença ao povo hebreu. As civilizações mais antigas acreditavam nos sonhos como ensinamentos de antepassados ou profecias. É o caso do sonho do Faraó do Egito, interpretado por José, filho de Jacó (Gênesis 40-41) ou de Nabucodonosor, (Daniel 2), cujo sonho foi interpretado pelo profeta Daniel. Conta-se que a esposa do imperador romano Júlio César, Calpúrnia, teve um sonho com o assassinato do marido um dia antes do acontecimento. 

No entanto, a ciência continua cética em relação à utilidade dos sonhos, que consideram como uma consequência do sono, um subproduto. A psicanálise, por outro lado, atribui importância aos significados do sonho. Sigmund Freud e Carl Jung dedicaram estudos de longos anos a esse tema. Para Freud, os sonhos são “uma realização (disfarçada) de um desejo (reprimido)”. Para Jung, os sonhos constituem as mais claras expressões da mente inconsciente cuja função é estabelecer a nossa balança psicológica pela produção de um material onírico que reconstitui, de maneira útil, o equilíbrio psíquico total”

Como o sonhar afeta nossa saúde?

De acordo com a neurologista Rosana Cardoso Alves, o sonho é importante para a consolidação da memória e para a execução de algumas atividades cerebrais. A médica aponta ainda que, quanto mais jovem é o indivíduo, maior é a quantidade de sono REM, o que leva a crer que os sonhos sejam importantes para o desenvolvimento do Sistema Nervoso Central.

Para a pneumologista Luciana Palombini. “Essa alternância que ocorre durante o sono de períodos de menos atividade cerebral com picos de muita atividade (estágio REM), prepara o cérebro para o indivíduo estar física e emocionalmente bem durante o dia”. 

sonhamos com aquilo que vivemos e isso nos ajuda a processar as emoções que experimentamos durante o dia. De acordo com a neurocientista e pesquisadora Rosalind Cartwright – pioneira na ciência dos sonhos, as pessoas com depressão apresentam melhoras nos sintomas quando conseguem lembrar o que sonharam.

Os pesadelos também são eventos que ocorrem durante o REM, no entanto, acredita-se que os olhos não se mexem durante um pesadelo. São eventos isolados que podem representar um medo oculto ou um estresse pós-traumático.

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Embora os sonhos sejam importantes para a saúde mental e psicológica, não faz sentido permitir que nossos dias sejam alterados por esses eventos. Ficar lembrando um sonho ruim ou fixar-se em um sonho bom não é produtivo e pode afetar nossos estado de humor. Como dizia meu pai, “lembrar de sonhos é sempre ruim, pois se foi um sonho ruim, você sofre ao relembrar; se foi bom, você sofre porque foi apenas um sonho. Então esqueça-os”.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.