O que a mãe com filho autista quer que você saiba

Os casos de autismo ou de pessoas dentro do espectro autista têm aumentado assustadoramente. Portanto, é bem provável que você encontre uma dessas pessoas, e é melhor saber como agir.

Stael Ferreira Pedrosa

Os casos de autismo ou de pessoas dentro do espectro autista têm aumentado assustadoramente. De 1 caso a cada 2.000 nascimentos nos anos 1990 para 1 em cada 68 em 2010, de acordo com os Centros para Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. Então é muito provável que você conheça ou até tenha algum caso na família ou poderá encontrar uma criança autista.

Enquanto cientistas brigam entre si e com laboratórios – segundo os conspiracionistas alguns até perdem a vida – tentando determinar as causas do autismo – se seria congênito, hereditário, causado por aspartame, vacinas ou deficiência de vitamina D, nós pais aguardamos admirados com o que nossos filhos são capazes e até onde vão suas possibilidades.

Como mãe de um adolescente que está dentro do espectro autista, eu gostaria de compartilhar alguns dados e verdades que acho que todos deveriam saber sobre esse transtorno.

Amamos nossos filhos

E queremos que sejam amados também. Não que as pessoas façam cara de pena e comecem a falar em voz alta com nossos filhos como se fossem surdos. Eles são autistas, não surdos.

Autismo não é retardo mental

A maioria dos autistas não se enquadra no que é chamado de retardo mental, embora existam casos mais graves que incluam o retardo mental. O autismo tem vários níveis de comprometimento mental e motor, por isso o termo espectro autista. Vai desde os deficientes mentais com total dificuldade de interação até os chamados Asperger, sem qualquer comprometimento da inteligência e da fala e às vezes superdotados. Portanto, evite rotular.

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Autistas não gostam de contato visual, nem de barulho

E não adianta forçar. Deixe-o ser quem é e agir de acordo com sua idiossincrasia. Forçar que a criança autista olhe em seus olhos pode acarretar grande desconforto a ela. Eles não gostam de barulho, música alta e voz aguda. Meu filho odeia a música que Whitney Houston canta – I’ll Always love you. Segundo ele: “Ela grita demais e me irrita”. Por isso costumamos não comparecer a festas de aniversário, ou sair mais cedo quanto tem balões.

Devido ao excesso de sensibilidade ao ruído, tato, odores e semelhantes, problemas com a adaptação a mudanças bruscas do meio ambiente ou de rotina e dificuldades em socializar com outros, cada dia para um autista, seja na escola, ou outro lugar barulhento e cheio de pessoas é um dia de luta tentando decifrar frases e pistas, procurando saber como se comportar e o que é esperado deles.

Leia: Como conscientizar as pessoas sobre o autismo

Eles sofrem com gritos e choros

Pais, professores, irmãos, etc. evitem gritar com seus autistas, sejam filhos, alunos ou irmãos pois eles entram em pânico ao ouvir gritos e choros.

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Eles não vão agir como você espera

As crianças com SEA podem parecer não muito amigáveis. Podem dizer ou dar respostas estranhas, ou não responder quando falam com elas. São aparentemente normais, então as pessoas esperam um comportamento “sociável” – que é onde reside o maior problema, mesmo no autismo leve. Os autistas têm um déficit acentuado na socialização, mas eles querem muito ter amigos e se sentirem amados e aceitos. Apenas não sabem como conseguir isso.

Eles vão agir como crianças até bem tarde

Se vir uma criança grande dando birra e se atirando no chão dentro de um supermercado, há muita possibilidade de que seja autista. Portanto, não pense mal dela ou dos pais. É um comportamento que a criança levará tempo e estímulo para superar – ou não.

Eles são literais

Se você perguntar a um autista “O gato comeu sua língua?”, ele vai imaginar um gato feroz arrancando-lhe a língua e não uma metáfora sobre seu silêncio. Alguns podem perguntar ao ver luvas verdes de limpeza: “De quem são essas mãos horríveis?”. Podem também associar palavras iguais a um sentido único. Meu filho ao ouvir falar que o juiz Sérgio Moro mandou “grampear” o telefone de Lula, pensou tratar-se de uma conversa que o juiz ouviu do Lula, escreveu, grampeou (com grampeador) e enviou para a imprensa.

Eles podem ser desconcertantes

Às vezes fazem perguntas que podem deixar as pessoas constrangidas. Li sobre um garoto que quando via uma mulher mais velha lhe perguntava se era casada, se dissesse que sim ele emendava a pergunta: “Seu marido já morreu?” Caso o meu filho ou outro autista lhe pergunte isso, apenas responda sem achar que tem alguma intenção oculta por trás da pergunta. Os autistas não fazem isso.

Eles são diferentes – e isso é o que há de melhor neles

Todas as pessoas são diferentes e os autistas não fogem à regra. Ser diferente é bom. Às vezes é difícil trabalhar em casa e ter meu filho (trabalho em casa por causa dele) narrando literalmente – palavra por palavra – um filme ou história pela décima vez. Isso me ensina paciência, compaixão e me dá oportunidade de demonstrar amor incondicional. Sou grata por ele fazer parte da minha vida.

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Leia: 10 coisas que todo pai e mãe de criança com autismo precisa saber

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.