Não se iluda, o castigo físico não é tão eficaz quanto você pensa

Você pode criá-lo de uma maneira melhor.

Erika Otero Romero

Cresci nos anos oitenta e noventa. Naquela época, ainda era comum os pais punirem fisicamente seus filhos quando faziam alguma travessura. Pessoalmente, fui “receptora” de algumas palmadas e gritos de meus pais; a verdade é que eu era realmente era muito travessa.

Não é que eu os esteja justificando; além do mais, de vez em quando eu os recrimino por terem me tratado dessa maneira. Para ser franca, não os culpo. Pelo que me contaram, sei que eles passaram pela mesma experiência. E não eram apenas os meus avós que os “corrigiram”, seus professores faziam o mesmo por acreditarem que tinham o direito de bater nos filhos dos outros, caso “se comportassem mal”.

O que os profissionais de saúde dizem sobre castigo físico?

Tenho uma história para contar sobre isso. Certa vez, quando eu tinha em torno de dez anos, minha mãe me levou ao pediatra. Lembro-me de que, alguns dias antes da consulta, ela havia me batido por algo que eu havia feito.

Quando o médico começou a me examinar, ele notou as marcas quase apagadas que o chinelo de borracha havia deixado na minha perna.

Irritado, o médico olhou para minha mãe e lhe disse que jamais voltasse a me bater com aquele tipo de chinelo novamente. Disse que, como consequência do acúmulo de sangue na área atingida, poderia surgir um câncer. Ela nunca mais me bateu depois disso.

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Não que minha mãe me batesse com frequência; eu tinha que fazer algo muito sério para que ela chegasse a perder a paciência e me desse uma ou duas palmadas ou chineladas. Creio, também, que foi a única vez que ela me bateu daquela maneira, mas, certamente, ela tomou o susto da sua vida.

Com o que os médicos estão preocupados?

As consequências físicas e psicológicas que esse tipo de punição pode deixar em uma criança.

Só para dar um exemplo médico, temos a Síndrome do Bebê Sacudido. Ela ocorre quando a pessoa que está tomando conta do bebê perde a paciência com o seu choro e acaba sacudindo-o. Não importa se a sacudida é leve, moderada ou forte, pois, dependendo da força com que ocorrer, o bebê pode sofrer lesões cerebrais, ficar cego, sofrer paralisia e até perder a vida. Viu como pode ser sério?

Os jornais estão repletos de notícias de bebês e crianças que morrem devido a maus-tratos vindos dos pais ou cuidadores.

Agora, deixando o aspecto físico de lado, há os danos psicológicos. Especialistas no assunto afirmam que os gritos e humilhações a que os pais às vezes recorrem para repreender seus filhos fazem com que ele desenvolvam uma baixa autoestima, perda da autoconfiança e da autonomia. Além disso, os filhos começam a acumular rancor e raiva pelos pais; passam a ter medo deles, em vez de respeito; o que, futuramente, poderia torná-los mais rebeldes e provocativos, apenas para citar alguns efeitos negativos.

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Então, como você deve agir quando seu filho não se comporta adequadamente?

Se você recebeu sua dose de gritos e palmadas e tem péssimas recordações disso, aja como você gostaria de ter sido repreendido.

Quando cometerem um erro, não grite com eles. Fale de maneira clara para que eles saibam quais as consequências de repetir o erro.

Lembro-me de um programa de uma famosa babá britânica que ensinou aos pais a maneira correta de repreender os filhos. Um dos “castigos” mais famosos de que me lembro foi o de deixar a criança (dependendo da idade) isolada do resto da família, de frente para a parede. Se a criança tivesse dois anos, eram dois minutos de castigo.

Bem, para ela parecia dar certo, pois os depoimentos eram bons; além disso, é algo que alguns especialistas em comportamento infantil também recomendam. Sua eficácia se baseia na necessidade de cuidados que a criança deseja receber de seus pais; assim, eles param de se comportar mal e, em troca, a punição termina.

Na verdade, hoje em dia se sabe muito mais sobre como educar uma criança de maneira correta, sem traumas, sem acidentes, sem surras; com muito amor e sabedoria. Além disso, qual é a necessidade de recorrer aos métodos do passado, quando podemos ser todos felizes e pessoas melhores de maneira menos violenta?

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Traduzido e adaptado por Erika Strassburger, do original No te engañes, el castigo físico no es tan efectivo como piensas

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.