Meta de Ano Novo: tornar-se oceano

O que você quer fazer no novo ano que se inicia? Eu quero ser uma gota.

Stael Ferreira Pedrosa

Uma jovem perguntou ao grande yogui Sadghuru como ela poderia aumentar sua autoestima e se livrar do sentimento de depreciação que tinha por si mesma. Ele respondeu com uma pergunta: por que você precisa ter autoestima? Ou por que você sente depreciação por si mesma? Isso é competição. Você se compara aos outros e crê que precisa ser igual ou melhor que o outro para ter valor.

O guru continua a partir do entendimento de que cada um é o que é e está no lugar certo. Os parâmetros criados pela civilização humana é que querem dividir a todos. Como exemplo, ele comparou uma formiga que deseja se tornar um elefante. Ela seria uma formiga-elefante terrível, ao passo que, sendo uma formiga, ela seria perfeita.

Um elefante sendo elefante é perfeito. Uma formiga sendo formiga é perfeita. Um ser humano sendo um ser humano é perfeito. O julgamento sobre quem somos e nosso valor tem uma origem em nós mesmos. A fonte criadora não faz julgamento sobre quem somos, por que devemos fazê-lo?

Isso acontece porque as pessoas criam divisões que não existem em nenhum outro lugar, exceto na mente humana. Ninguém está acima ou abaixo de ninguém. Jamais olhe para outros como se estivessem acima de você, tampouco como se estivessem abaixo. Se você olhar para cada criatura simplesmente como é, verá que cada um tem valor. Tudo tem seu valor, inclusive você, talvez você não seja capaz de vê-lo, mas não significa que não exista.

Metas de Ano Novo

Eu, a partir de minha experiência, posso dizer com convicção que sempre corri atrás de alguma autoestima. Eu não entendia por que fazia isso, se eu tinha pessoas que me amavam, que viam meu valor enquanto eu mesma não via. Todos os anos, nas minhas metas de Ano Novo, lá estava: “desenvolver mais autoestima”.

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Um dia, ouvi de alguém o seguinte julgamento: “você é muito competitiva!”, “você tem sempre que estar certa”, “você sempre tem que ser a melhor em tudo”… E muito mais eu pude ouvir ao longo do tempo, daquilo que eu realmente precisava reconhecer.

Eu não queria ter autoestima, eu queria ser melhor que os outros. Isso que eu chamava de autoestima não partia da necessidade de me reconhecer como alguém de valor, alguém digna de ser amada e de ser como as outras pessoas. Na verdade, eu queria ser melhor e ter reconhecimento.

Por isso, a cada ano, lá estava a velha meta de “desenvolver autoestima”. Mas, aos poucos, fui entendendo a verdade por trás dessa “corrida”.

Ano Novo vida nova?

Voltando a Sadghuru, ele disse ainda àquela jovem: viver é um privilégio, e como humanos, temos o poder de experienciar a vida de maneira muito mais vívida que qualquer outro ser no planeta. Não tente ganhar a corrida, viva! Você não precisa de nenhuma autoestima”.

Juntando essa experiência com a experiência passada de ser vista como “competitiva”, pude perceber que, no fundo, é tudo vaidade e nem é culpa nossa. O mundo nos ensina a ser assim. O melhor aluno, o melhor atleta, o recorde, o prêmio, a medalha…

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Madre Teresa de Calcutá nos ensina uma grande verdade ao dizer que:  “O que eu faço é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor”. Ela considerava seu trabalho de dedicação ao próximo como uma gota no oceano.

A partir de suas palavras, veio-me um “insight” que gostaria de partilhar neste pequeno artigo. A percepção de que o oceano é formado por gotas (ah, você pode dizer: que novidade, não?), mas poucos percebem isso. Ele não seria um oceano se não fosse por cada gota incorporada a ele. Quando essas gotas deixam de se separar e fazem parte do todo, esse todo é o poderoso oceano que nos deslumbra quando o vemos quebrar na praia ou navegamos sobre ele.

O poder deste oceano vem de todas as gotas de que é formado. Se cada gota quisesse ser mais que uma gota, ou ser uma gota melhor que as outras, isso não faria o menor sentido. Somos parte do todo humano que habita o planeta. Somos a humanidade e nossa força está na união de nossa capacidade de ser “uma gota”, um indivíduo que se junta aos seus iguais, sem competir. Sem querer ser maior que o outro. Assim como cada gota deixa de ser gota e se torna oceano, podemos ser a humanidade divina feita por nosso criador.

Quando vemos a outra “gota” como completa e plena de função na ordem das coisas, valorizamos essa gota e refletimos nela o nosso próprio valor, já que somos da mesma origem e parte da mesma humanidade. Se o outro tem valor sendo o que é, eu também tenho valor, sendo o que sou.

Meta para o próximo ano

Minha meta mudou, talvez você, que lê minhas palavras, não concorde, mas eu abro mão de ter autoestima e aceito ser mais uma gota no grande oceano dos filhos de Deus. Desisti da inútil competição. Nossa fonte criadora não faz distinção entre nós, somos todos Seus filhos. Todos valiosos e perfeitos fazendo aquilo que nascemos para fazer, vivendo aquilo que nascemos para viver. Esse é nosso verdadeiro valor.

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Talvez essa meta leve o resto da minha vida para ser alcançada, talvez a tentação de competir me “pegue” no caminho. Mas ela vai voltar para o caderninho de metas a cada início de ano.

Assim como o “pequeno” (pequeno, segundo ela) ato de amor de Madre Teresa fez a diferença no mundo, nossos atos de amor é que nos salvam. Sejamos amor e serviço, percamo-nos em nossas boas obras e nos acharemos, como disse Jesus. Sejamos uma gota no oceano, sejamos parte do poderoso oceano que é à imagem e semelhança de nosso Deus.

Esta é minha meta para 2022. Qualquer que seja a sua, desejo do fundo do coração que se reverta em bênçãos e profunda alegria na sua vida e na vida de todas as pessoas.

Feliz Ano Novo!

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.