Famílias de ontem e hoje, o que se perdeu? O que se ganhou?

No tempo de nossas avós ou bisavós, não havia muita escolha para a formação das famílias, tanto para as mulheres quanto para os homens. As coisas mudaram, mas, para melhor ou não?

Stael Ferreira Pedrosa

Minha avó paterna casou-se aos 12 anos em 1906. Sim, muito tempo, mas meu pai nasceu quando ela tinha 40 anos, foi o 12º de 13 filhos, e se estivesse vivo, estaria com 87 anos. As histórias em torno da minha avó, com quem tive pouco tempo de convivência (até os 9 anos), dão um perfil de como eram os costumes sociais da época em que ela viveu.

Minha tia, uma das filhas mais velha, contava que minha avó brincava de boneca com as primeiras filhas, que nasceram quando ela tinha 13 e 14 anos. O marido, 10 anos mais velho, não foi escolha dela, mas de seu pai. Era um homem trabalhador e bom, porque “não batia nela” (!), no entanto, não era dos mais gentis.

O que era esperado das mulheres nessa época é que fossem boas esposas, mantivessem a casa limpa, as refeições prontas na hora certa, tivessem filhos e cuidassem deles. Também não se esperava suas opiniões, desejos próprios, sonhos e desobediência ao marido, sendo ele responsável por todas as despesas da casa e da família, bem como por todas as decisões.

Desde o início do século XX, para os dias atuais, muita coisa mudou, mas eu ainda fui “respingada” pelos princípios de meu pai, que achava que as mulheres não deveriam trabalhar fora nem construir carreira, já que deviam se casar e cuidar dos filhos. Minha mãe, durante toda a sua vida de casada, foi mãe de sete filhos e dona de casa. Quando eu disse ao meu pai (aos 26 anos de idade) que iria sair de casa e morar em outro estado, o mundo veio abaixo.

A dificuldade desse paradigma vem quando o marido falta no lar ou a esposa se torna incapacitada. Isso vem modificar e criar novas situações às quais era mais difícil se adaptar antigamente.

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O que mudou?

Atualmente as coisas são bem diferentes, os movimentos feministas e de liberação da mulher, a pílula anticoncepcional – que permitiu à mulher escolher o número de filhos, ou se terá filhos –  entre outros fatores, mudaram os costumes e a sociedade de maneira irreversível.

O que se vê atualmente são meninas se preparando tanto para a carreira profissional quanto para o casamento, embora mais tardio, enquanto os meninos querem se divertir, muitos inclusive abandonando os estudos. Pude presenciar, já há uns 10 anos, no mesmo condomínio em que eu morava, havia 12 moças fazendo faculdade e cerca de 16 rapazes na mesma idade se reunindo para ouvir música alta com seus carros no último volume, sem estudar ou mal frequentando a faculdade e usando bebidas ou drogas.

Não estou generalizando que é sempre assim. Tampouco fazendo juízo de valores, apenas relatando. Conheço muitos rapazes que fazem exatamente o contrário daqueles e muitas moças também com um comportamento considerado desajustado. No entanto, o que isso quer dizer é que houve um afrouxamento no que os pais e a sociedade esperam dos jovens atuais. Já não se espera que o homem seja o único provedor de sua família, nem que a mulher seja somente mãe e esposa.

Também os homens e mulheres mudaram suas expectativas. Se antes os homens queriam esposas dedicadas e do lar, os de hoje não pensam o mesmo, querem uma parceira que divida o leito e as contas. Se as mulheres queriam um homem que as sustentasse, isso também mudou. Tais mudanças vieram mudar as configurações familiares até então existentes. Existem pontos negativos e positivos em tais expectativas.

Vejamos cada um:

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Pontos negativos

  • Formação de famílias sem o compromisso do casamento (podem ser dissolvidas a qualquer momento)
  • As consequências da dissolução das famílias recai principalmente sobre a mulher e as crianças
  • Existem mais mães solteiras e famílias incompletas que antes (sem o pai)
  • Mais mulheres com jornada tripla, tendo que cuidar da casa, dos filhos e trabalhar fora
  • A mulher como única provedora causando muitas vezes empobrecimento material familiar
  • A criação dos filhos sendo delegada a avós ou terceiros
  • Estruturas familiares que não garantem assistência às crianças
  • Baixo rendimento escolar das crianças

Positivos

  • Mulheres mais independentes e autossuficientes
  • Mulheres que não precisam suportar um casamento ruim ou abusivo por dependência financeira
  • Mulheres que podem assumir toda a responsabilidade material/financeira por suas famílias caso o companheiro falte
  • Homens com menor senso de comportamento absolutista e patriarcal como “donos da família”
  • Maior diálogo entre o casal, já que estão em pé de igualdade
  • Fortalecimento da parceria do casal
  • Maior proximidade entre pais e filhos

De acordo com estudiosos, a família chamada de estruturada, isto é, aquela idealizada como nuclear – pai, mãe e filho(a) – de classe média, num recorte patriarcal e na qual os genitores são portadores de boa formação e totalmente dedicados à obtenção do mérito escolar de seus filhos, tornou-se um modelo tido como universal, comum e inalterável, uma família que implica a corresidência de um casal e seus filhos – sendo a casa o lugar das mulheres e crianças, e o espaço público da rua, o domínio por excelência dos homens”.

Esse tipo de família se escasseou, surgindo em seu lugar novas configurações. No entanto, o que se percebe é que não existe família desestruturada, existe família desassistida. Uma mãe e seus filhos podem se constituir em um núcleo familiar “estruturado”, desde que assistidos em suas necessidades, tanto financeiras quanto emocionais.

A família, em sentido amplo, deve ser um núcleo de acolhimento, onde as necessidades básicas do ser humano sejam satisfeitas, onde as pessoas vivam em harmonia e amor, onde as crianças possam crescer de forma saudável e se tornarem bons cidadãos. Compromisso e a presença de pai e mãe são importantes, mas o fundamental, o que faz mesmo diferença tanto nas famílias de hoje quanto nas de antigamente, é o amor, o afeto, o sentimento de pertência que produz bem-estar emocional e pessoas ajustadas emocionalmente.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.