Epidemia de solidão infantil: pais hiperocupados, crianças hiperaborrecidas

Equilibrar o uso do tempo, passear ao ar livre, sorrir. Nossos filhos precisam que escutemos suas necessidades de crianças. Estamos destruindo sua infância.

Fernanda Gonzales Casafús

Há uma imagem que se repete na sala de espera de cada consultório pediátrico: crianças olhando seus dispositivos móveis, mães imersas em seus celulares e bebês mamando no peito, buscando o olhar da mãe (que está fixo no celular).

Quando foi que as crianças perderam a curiosidade de brincar com os amigos? Talvez tenha sido no momento em que colocamos um tablet ou celular nas suas mãos toda vez que estavam entediadas. Hoje, elas brincam menos, têm menos paciência e se aborrecem com mais facilidade. E o que nós, pais, estamos fazendo hoje para zelar pela infância de nossos filhos?

Estamos hiperocupados; elas, hiperaborrecidas

Professora e graduada em Psicopedagogia, Liliana González explica que as crianças estão crescendo sozinhas, em frente a uma tela como babá virtual. Nós, adultos, estamos numa corrida desenfreada rumo aos nossos objetivos, e nossos filhos muitas vezes permanecem na estrada, esperando pacientemente que tenhamos tempo para eles.

Não vamos generalizar, pois nem todos os pais são assim. E, muitas vezes, quando percebem que estão dedicando pouco tempo aos filhos, muitos pais tentam reverter a situação, e isso também é valioso. Mas o objetivo é atacar o problema na sua origem.

Nossos filhos ficam entediados, e nós lhes damos o tablet. Eles têm uma birra aos 3 anos, e nós lhes damos o celular. Estamos trabalhando e colocamos desenhos animados para eles assistirem. Estamos em uma sala de espera e iniciamos o seu jogo favorito. E é assim, pouco a pouco, que vamos nos livrando dessa responsabilidade de acompanhar e entender sua infância.

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Elas precisam que olhemos para elas

As crianças pequenas são extremamente sensíveis às reações e reatividade das interações sociais que vêm do mundo ao seu redor. Quando olham para nós, as crianças estão buscando nosso olhar. Elas precisam da nossa aprovação ou de algum gesto que lhes transmita alguma mensagem.

Quando acostumamos nossos filhos a se acalmarem sozinhos, ou reagimos a eles sem olhá-los nos olhos, mantendo nossos olhos fixos no celular, estamos causando enormes danos.

Nossa sociedade atual tem um déficit de proximidade humana, paradoxalmente em tempos em que mais estamos conectados e informados. A invasão da tecnologia em nossas vidas nos afastou de uma boa conversa, da proximidade e da comunicação mais básica.

Quando nossos filhos nos chamam, devemos olhá-los nos olhos, conversar cara a cara, interagir. São ações básicas que devem ser iniciadas desde o primeiro dia de vida, pois não fazê-lo acarreta sérias consequências emocionais e comportamentais em nossos filhos.

As crianças se sentem sozinhas

Precisamos sair para trabalhar para trazermos pão de cada dia para casa. Temos cada vez menos tempo. E em meio ao trabalho, às nossas atividades e às de nossas crianças, esse maravilhoso tempo de conexão, que nos daria a possibilidade de nos conhecermos mais profundamente, acaba sendo perdido.

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Nem sempre tenho vontade de me jogar na areia para construir castelos, tampouco sou fã de preparar refeições de capim e água. Também não sou uma engenheira de Lego nem figurinista da Barbie. Mas sou mãe, e embora muitas vezes não sinta vontade, meus filhos adoram quando deixo meu celular ou os afazeres diários de lado e me concentro no objetivo do jogo, livre, libertador e enriquecedor.

Elas não sabem nem tem consciência disso, mas as crianças de hoje se sentem sozinhas. Os adultos nem sempre estão lá para lhes fazer companhia; muitas recorrem ao que estão mais acostumadas: a babá virtual.

“Elas vão ficando sozinhas, abstraídas pela TV ou pela Internet, transpassadas ​​por temáticas adultas, se não houver ninguém para controlar ou filtrar o conteúdo; elas se hiperinformam, mas não conseguem processar tudo o que vem de fora”, diz a psicóloga Liliana González.

Equilíbrio no uso do tempo

A especialista aconselha que, para acabar com essa epidemia de solidão infantil, temos que começar por equilibrar o tempo de fora com o tempo de dentro. Ou seja, não significa necessariamente passar mais tempo em casa, mas estar quando deveríamos estar. Isto é, deixar o telefone celular e ler uma história para dormir, fazer uma peça de fantoches, mesmo que improvisada, e fazer com que o tempo em que estamos em casa seja o mais produtivo possível.

Todos temos que trabalhar, temos responsabilidades a cumprir. Estamos cansados, esgotados e não há muita energia de sobra para brincar com nossos filhos. Mas vale a pena o esforço, pois a retribuição será vista em seu crescimento. Brincar, estar presente, olhar nos olhos, conversar e oferecer outras opções além do telefone celular farão com que nossos filhos tenham ferramentas para enfrentar a vida real.

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Não vamos nos deixar arrastar pela corrente até nos afogar. Vamos ajudar nossos filhos a desenvolver suas habilidades. Vamos lhes dar apoio e limites, motivando-os a sair para brincar, praticar esportes e ler. Mas não se esqueça de que eles são o reflexo do que fazemos. Portanto, cuide de suas ações para cuidar das de seus filhos. Seu amor por eles vale a pena.

Traduzido e adaptado por Erika Strassburger, do original Epidemia de soledad infantil: padres hiperocupados, niños hiperaburridos

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Fernanda Gonzales Casafús

Fernanda Gonzalez Casafús é argentina, mãe e formada em jornalismo. Ama os animais, daçar, ler e a vida em família. Escrever sobre a família e a maternidade se tornou sua paixão.