Enfrente a vida adulta, mesmo que sua infância tenha sido roubada

Como enfrentar a vida adulta quando sofremos algum tipo de abuso na infância? Continue lendo.

Erika Otero Romero

As crianças são como cadernos em branco que estão prontos para que sua história seja desenhada. Às vezes os desenhos são nítidos e coloridos, outras vezes são linhas difusas que mostram formas leves. Porém, o que gera mais impacto são aquelas manchas pretas e cinzas que trazem dor e sofrimento.

Essas manchas são a causa de dois traumas emocionais que influenciam a vida de uma pessoa. É aqui que se pode dizer que ela teve sua infância roubada.

Há muitas maneiras de isso acontecer. Pode ser um adulto que foi abusado e maltratado; também aqueles que sofreram bullying. Crianças que testemunharam a mãe sendo abusada podem ser incluídas. E crianças que foram abusadas sexualmente. Você consegue identificar quem passou por isso porque, em geral, essas pessoas que não se lembram de sua infância ou sentem que passou rapidamente.

A infância como base de toda uma vida

É durante a infância que todos construímos nossa identidade, personalidade e caráter. É também nessa época que se gera grande parte dos traumas que nos afetam ao longo da vida.

Qualquer evento considerado ruim por outras crianças ou adultos afetará negativamente uma criança.

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Como apontei antes, o roubo da infância se manifesta de duas maneiras. Na primeira, a pessoa sente que não teve infância. A segunda parece vazia, como se houvesse partes de sua vida que ela não consegue lembrar e não sabe como explicar.

Também expliquei anteriormente que há muitas maneiras pelas quais a infância de uma criança é roubada. Desde abuso sexual, presenciar maus-tratos de um dos pais, abandono e um longo etc.

Eu mesma tive a minha infância roubada. Vivi episódios que, quando relembro hoje, machucam profundamente. No entanto, faz pouco tempo que tomei conhecimento de muitos desses eventos. Quando percebi que o que havia acontecido comigo não era normal, chorei muito. Lembro-me daquele dia, há quase dois anos, com algum alívio e pesar.

Posso dizer, por minha experiência, que o que aconteceu comigo na infância me marcou terrivelmente. Tenho consciência disso porque carrego as consequências dessas cicatrizes na forma como me relaciono com as pessoas. Além disso, lido diariamente com ansiedade e ataques de pânico; desconfortos emocionais com os quais aprendi a lidar e com os quais tive que aprender a viver.

Vivendo a vida adulta com metade da vida perdida

Se me perguntar, posso dizer que me lembro de muitas coisas da infância; porém, passou muito rápido para mim. Há espaços vazios que não posso preencher, memórias horríveis que desejo apagar.

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Quando a infância de uma pessoa é roubada, toda a sua vida é afetada. Isso acontece porque esses eventos causaram uma ruptura em seu equilíbrio emocional.

Se uma pessoa diz que não consegue se lembrar de coisas de quando era pequena, isso acaba alterando sua identidade.

Identidade é significado que damos ao nosso próprio ser. É o que nos torna diferentes dos outros. Ela é composta por valores e princípios transmitidos pela família ou cultura. Isso, em última análise, constrói nossa individualidade e senso de pertencimento a um grupo, sociedade ou família.

Como pode ver, não é que não tenhamos nossa própria identidade, é que ela está quebrada pelos abusos dos quais fomos vítimas.

Tampouco significa que não sejamos capazes de seguir em frente e alcançar o sucesso na vida. A diferença é que é muito mais difícil nos relacionarmos e sentirmos que pertencemos a um lugar. Lembrar é algo difícil e dói, mas você sempre pode seguir em frente.

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Dependência emocional

Este é outro aspecto de uma infância roubada, quando a pessoa sofreu o abandono dos pais. É por isso que muitos acham difícil ficar sozinhos ou passar pela transição de um rompimento sentimental. Sempre haverá o medo latente de ser abandonado.

Em casos assim, os relacionamentos são marcados pela desconfiança, ciúme e medo da rejeição. Também pode haver repressão de emoções, rancor e uma incapacidade de sequer pensar em nomear aquele que o machucou. A pessoa também pode estar em negação sobre o que aconteceu com ela.

Curar essas feridas pode levar muitos anos de trabalho pessoal e até terapia psicológica, pois exige muita força de vontade.

O fato de uma pessoa ter sido vítima de uma infância roubada é algo muito delicado. Foram-lhes tiradas e quebradas as fundações da estrutura de sua personalidade e identidade. A responsabilidade é dos adultos que a machucaram porque acreditavam que, por serem crianças, não se lembrariam de nada.

O trabalho terapêutico envolve um processo de autoperdão para que a pessoa perceba que nada do que lhe aconteceu foi culpa dela. Será muito mais fácil enfrentar quando o adulto tiver aprendido a ser resiliente e souber usar a dor como mecanismo de superação.

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Traduzido e adaptado por Erika Strassburger, do original Hazle frente a tu adultez, a pesar de que te hayan robado la infancia

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.