Criar expectativas pode gerar ansiedade

Se são as expectativas que dão sentido à vida, por que não ter expectativas?

Stael Ferreira Pedrosa

É comum ao ser humano ter expectativa sobre algo que deseja ou teme. Isso pode gerar ansiedade e desgastes desnecessários

Mas, será que criar expectativa sobre algo sempre gera ansiedade?

Se houver confronto entre realidade e expectativa, sim, mas se for possível alinhar realidade e expectativa, esta passa a ser apenas uma espera tranquila de resultados que se pode alcançar. Mas quando projetamos nossos sonhos e metas em outros, no destino, no acaso e isso não nos traz os resultados esperados ou no tempo esperado, a frustração pode, sim, levar à ansiedade.

Eugênio Mussak, do site Vida Simples, diz ter ouvido certa vez: “você precisa aprender que as coisas não são como queremos que sejam. Elas são como são”. E continua dizendo que “a expectativa sempre será uma suposição incerta, com alto grau de possibilidade frustradora. O que fazer, então? Devemos, ou não, acalentar expectativas? O perigo de tê-las é a desilusão”.

Na sabedora do filósofo dinamarquês Kierkegaard:

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Quem só espera o melhor envelhece por causa das decepções que a vida lhe apresenta. Quem espera sempre o pior envelhece depressa por conta do sofrimento. Ou seja, não espere, aja.

Como já se dizia antigamente: não crie expectativas, crie galinhas, se nada der certo, pelo menos você terá os ovos.

Isso porque, quando não criada na dose certa, a expectativa pode se transformar em uma espera dolorosa e ansiosa, de acordo com a psicóloga Lucinéia Leal, para quem é importante ter expectativas na dose certa para que não se transforme em ansiedade e, assim, cause grande desconforto.

Mas, por que é tão ruim criar expectativas?

Conforme dito anteriormente, não é a expectativa em si que gera o problema. Você pode ter suas expectativas alinhadas com a realidade e colher bons resultados em vez de frustração e ansiedade. Expectativa ruim é aquela que não tem uma base sólida alinhada com a ação individual.

Se você conseguir esse alinhamento, sua expectativa passa a ser mais que uma espera duvidosa, torna-se uma meta, e metas geralmente não nos frustram, pois alcançar nossas metas não depende de acaso ou de terceiros. Por exemplo, você espera (expectativa) emagrecer 10 kg em período de 4 meses. Essa espera não se realizará se não for baseada em ações reais, como: exercitar-se ao menos 3 vezes por semana, comer alimentos saudáveis, evitar doces e refrigerantes etc.

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Nesse ponto, deixou de ser uma expectativa para se tornar um objetivo, uma meta. Conseguir este objetivo está em suas mãos e de mais ninguém. Então, a possibilidade de frustração cai bastante.

Tomar as rédeas da própria vida

Isso quer dizer que não devemos ter nenhuma expectativa? A resposta é um absoluto “não!” São as expectativas que dão sentido à vida. Sem sonhos, não teríamos motivações para viver, só ficaríamos esperando a morte, conforme Lucinéia Leal, já que são fruto de nossa imaginação e devem estar de acordo com a realidade, para, assim, terem mais chances de acontecer; caso contrário, podem nos levar à decepção e frustração.

Dito isso, como alinhar nossas expectativas à realidade para evitar frustrações?

1. Autoconhecimento

É bom ter um autoconhecimento que nos mostre o que precisamos, o que gostamos, o que desejamos e os recursos que temos para alcançar. Saber se aquilo que você deseja é um desejo seu mesmo ou de outros. Devemos ter em mente que tentar atender expectativas alheias é o caminho para o sofrimento.

Ninguém tem que atender às expectativas de outrem. É muito comum os pais criarem expectativas quanto à formação acadêmica dos filhos. Muitos se formam no que não gostam ou não lhes satisfaz para atender ao desejo dos pais. Isso é ruim para todos os envolvidos.

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2. Alinhar as expectativas com a realidade

É como dizer que, se você é cego, não tenha a expectativa de ser um piloto de fórmula 1 ou um cirurgião neurológico. Isso é impossível, pelo menos até agora. Portanto, faça metas dentro das suas possibilidades. Metas reais e possíveis de serem alcançadas. Isso trará para baixo, muito baixo, a possibilidade de frustração e dor.

3. Trabalhe enquanto espera

Ocupe sua mente com a certeza de que você já fez a sua parte e agora só lhe resta esperar que aconteça. É como fazer uma compra num site de vendas, por exemplo. Você fez o pedido, forneceu todos os dados de pagamento e endereço. Agora é aguardar, na certeza de que vai chegar. Você não ficará a todo momento ligando para o site para saber se já está a caminho, nem para os correios para saber se já chegou. Espere e evite a ansiedade.

4. Não espere muito das outras pessoas

“Cada um dá o que tem”, diz o velho ditado. Assim como você não tem a obrigação de atender às expectativas alheias, ninguém tem a obrigação de atender às suas. Simples assim. Se precisar da ajuda de alguém, peça. Se a pessoa negar, compreenda. Se o seu parceiro tem defeitos, aceite, ninguém é perfeito, tampouco os relacionamentos são perfeitos. Todos temos nossas falhas e erros. Só não aceite um relacionamento abusivo.

5. Saiba tentar de novo

Nem sempre as coisas dão certo, e está tudo bem. A vida é assim. Entender isso faz parte do processo de amadurecimento. Algumas vezes, ganhamos; outras, perdemos. Quando algo que você esperou não deu certo, reveja onde você errou, conserte o erro e tente de novo.

6. Seja responsável

Isso significa reconhecer que 90% das coisas que acontecem no seu dia a dia estão relacionadas a você mesmo e não aos outros. Ninguém tem culpa por suas escolhas erradas ou por seus atos impensados. Assuma a responsabilidade por aquilo que faz e escolhe, e siga em frente. Você não é uma pobre vítima dos acontecimentos. Você é o autor da sua vida. No final, a lição que fica é a de que, a cada frustração, é possível tentar de novo com mais conhecimento.

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Agora que você já tem essa noção da realidade, transforme suas expectativas em metas e lembre-se, uma meta que não é escrita, que não tem meios e data para ser alcançada, é só um desejo ou uma expectativa.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.