Conversar com seus entes queridos falecidos ajuda você a lidar com a dor

A morte de um ente querido dói. Portanto, nunca deixe de dizer a eles o quanto os ama, enquanto ainda estão com você.

Erika Otero Romero

Quando ele morreu, minha alma doeu. Lembro-me de gritar, tentando aliviar a dor causada por sua morte, e nem assim parava de doer; só o tempo me ajudou a superar isso. Depois houve mais mortes de entes queridos, mas cada um dói de forma diferente. Mesmo assim, ainda sinto falta deles, pensando em como seria minha vida se eles ainda estivessem ao meu lado.

Eu tenho que ser honesta, acredito na vida depois dessa existência. Eu desejo seriamente, com todas as forças do meu coração, que quando eu morrer, eu possa me encontrar novamente com todos aqueles entes queridos que ainda ocupam um lugar em minha vida, porque realmente jamais são esquecidos.

O evento devastador com o qual todos devemos viver

Perder alguém que você ama pode se tornar uma das experiências mais dolorosas da vida. Algumas pessoas podem superar mais rapidamente, enquanto outras não o fazem e passam toda a sua vida imaginando o que poderiam ou não ter feito para evitar a morte de quem amavam.

Mas, se há algo verdadeiro, é que nem todas as mortes de familiares ou amigos doem da mesma maneira. Minha avó perdeu uma filha alguns dias depois de nascer e sofreu muito. Minha mãe me conta que minha avó disse a ela, em uma ocasião, que não havia morte mais dolorosa do que a de um filho; e, mais tarde, ela também perderia seu amado marido.

A verdade é que, se há algo de que tenho muito medo, é o dia em que meus pais morrerem. Em suma, a vida de uma pessoa muda muito com a morte de alguém que ocupa um lugar importante em sua vida.

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Mas, o fato é que a morte é inevitável, e algo de que estou muito ciente agora é que quanto mais resistência temos em relação a ela, quanto mais rejeitamos a ideia de que um dia todos estaremos passando por essa situação, mais difícil será a dor.

Superando a luta interna

Quer percebamos ou não, quando um ente querido morre, passamos por uma série de estágios que progridem, dependendo do processo que cada um de nós é capaz de lidar.

O primeiro estágio é a negação

Quando alguém morre, uma dor intensa se instala, é o que queremos negar. A perda é inconcebível para nós e o sofrimento é tal que nossa mente não o processa.

O segundo estágio é a raiva

Possivelmente, alguns se revoltam contra Deus pelos efeitos da morte. Nós não entendemos como ele poderia nos fazer enfrentar algo tão cruel quanto a morte.

A terceira etapa é a conciliação

Você tenta encontrar argumentos para ajudá-lo a lidar com a ausência. Você pensa sobre o que teria sido se você tivesse feito isso ou aquilo e simplesmente percebe que não poderia fazer nada.

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O quarto estágio é a depressão

Imensa tristeza, onde você perde o desejo de viver.

O quinto estágio é aceitação

É o passo final, onde a cura e a superação da morte são incorporadas à vida diária.

Depois desse processo, o que acontece?

Naturalmente, a vida continua e somos capazes de seguir em frente; mas, claro, quem morreu ainda é valioso para nós, não importa quanto tempo se passou desde o último dia em que estivemos ao seu lado.

Todos nós temos maneiras diferentes de manter vivas as “memórias” daqueles que já morreram. Há aqueles que levam as cinzas para suas casas e guardam em um altar, no Japão, por exemplo, isso é costumeiro.

Na Colômbia, há algum tempo costuma-se levar as cinzas a cemitérios parques, lá os parentes plantam uma árvore ao lado da sepultura para comemorar a existência de seu falecido membro da família. Há, também, cemitérios típicos que costumam ficar cheios de parentes que deixam flores e fazem orações ou, até mesmo, conversam com seus familiares.

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No México há um dia especial, em novembro, em que as famílias preparam altares e enchem de flores, fotos e preparam as refeições que seus entes queridos gostavam em vida. Eles acreditam que, nessa data, lhes é permitido estar com seus familiares durante a noite.

De um modo ou outro, todos recorremos a algum “ritual” para aliviar o fardo emocional da ausência de nossos mortos. Existem até aqueles que falam com seus falecidos, e a verdade é que não há nada de errado nisso.

Você fala com seus “mortos”?

Se assim for, é a coisa mais natural do mundo. É mais uma forma de aliviar seu sofrimento, superar a negação e a depressão em que você mergulhou quando eles deixaram este mundo.

Você está se ajustando a uma nova vida sem a presença deles. Conversar com sua mãe, pai, parceiro ou filho morto ajuda você a descobrir uma nova maneira de amá-los, dar-lhes um lugar em sua existência, mesmo que eles não estejam mais fisicamente com você. Também favorece a motivação para continuar vivendo apesar do sofrimento.

Algumas pessoas podem falar com seus falecidos até o último dia de suas vidas; e outros, até que superem a dor e sejam capazes de lembrá-los, sem que isso lhes cause imensa tristeza.

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O ponto é que conversar com aquele que você amava e que não está mais neste mundo o alivia muito, e se é para o seu bem, por que não fazer isso?

No entanto, se superar o luto pela morte de alguém que você ama é muito complicado, é melhor procurar um terapeuta para ajudá-lo a encerrar essa etapa e continuar com sua vida.

Sei por experiência própria que, se há algo muito doloroso na vida, é perder alguém. Saber que você nunca mais o verá nesta existência e que talvez haja muitas coisas que nunca foram ditas, dói. Portanto, nunca pare de dizer “eu te amo”, “desculpe-me por ter te magoado”. Não pense duas vezes antes de dar um abraço, um beijo e passar o tempo com os seus, você nunca sabe quando poderá vê-los novamente.

Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original: Hablar con tus seres queridos fallecidos te ayuda a lidiar con el dolor

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.