Conheça a cultura do cancelamento e a destruição que ela causa

Independentemente do quanto você queira que os outros pensem como você, a diferença entre as pessoas sempre prevalecerá.

Erika Otero Romero

De alguns anos para cá, estamos vivendo uma época em que é muito fácil ficarmos conectados com o mundo. Isso tem sido possível graças às redes sociais, fóruns de interesse comum e blogs. Basta escrever algo e, em questão de segundos, você terá interações vindas do mundo todo.

No entanto, essa é uma faca de dois gumes; tudo o que você postar pode ou não ser apreciado por centenas de pessoas. Você receberá comentários a favor e contra. Portanto, é preciso estar preparado para a enxurrada de opiniões de todos os lugares.

A cultura do cancelamento está em um nível mais elevado que apenas dar uma opinião abertamente. Destina-se a “punir”, anulando quem se comporta ou emite uma opinião que a grande maioria considera ofensiva.

O que é cultura do cancelamento?

Aplicada principalmente a figuras públicas, a cultura do cancelamento é uma ação que consiste em retirar o apoio em resposta a uma ação considerada condenável.

Os que aplicam o cancelamento alegam ter “boas intenções”, porque o que estão tentando fazer é ser juízes da sociedade. E como? Bem, denunciando publicamente atitudes “nocivas” ou “criminosas”. Por mais louvável que isso às vezes possa parecer, as consequências desse ato são, na verdade, implacáveis. 

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Por que implacável? Bem, porque causa danos irreparáveis à vida dos afetados. O pior é que, muitas vezes, o cancelamento é baseado em calúnias dirigidas a quem é o foco do ódio. Calúnias que surgem por inveja de pessoas que nunca cometeram crime e que apenas pensavam diferente; esse foi seu único erro.

É assim que o cancelamento perde completamente o seu justo sentido e se torna um perigo para a sociedade. Não só isso, como também fomenta a intolerância, anula a liberdade de expressão e prejudica deliberadamente quem a sofre.

Um bom exemplo disso acontece na Coreia do Sul. Lá, os internautas, de forma anônima, “trazem à tona” fatos constrangedores do passado de alguns artistas. Como consequência, o grande público retira seu apoio e passa a escrachá-los. Eles os cancelam de forma que as empresas com as quais eles têm contratos desistem de qualquer intenção de trabalhar com eles.

Já aconteceu com atores, ídolos do k-pop e outras pessoas de interesse público. Às vezes o cancelamento é bem fundamentado e há evidências desse dano. O problema é que, muitas vezes, as represálias feitas contra alguém são baseadas em mentiras; calúnias; fruto da inveja alheia.

Como a cultura do cancelamento afeta a sociedade?

A resposta a essa pergunta é realmente simples. Quem aplica o cancelamento tem vários objetivos, dependendo da pessoa a quem é aplicado, tais como:

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– Expressar frustração sobre algo que essa pessoa fez e que não é do seu agrado.

– Inveja. Frustração por não ter alcançado seus objetivos próprios, o que torna aqueles que os alcançaram o seu bode expiatório.

– Pretender ser juiz e executor das “ações erradas”, de acordo com sua concepção.

– Aparentar superioridade moral.

– Demonstrar aborrecimento com as opiniões e ações dos outros.

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– Vingança.

Explicaremos a seguir com um exemplo real:

Recentemente, um grupo de ídolos jovens, Le Sserafim, estreou na Coreia do Sul. O grupo de seis moças foi bem-recebido porque elas são muito talentosas. Porém, não demorou muito para que alguém, escondendo-se atrás de um perfil anônimo, espalhasse boatos sobre uma das integrantes. Basicamente, ele a estava acusando de fazer bullying contra um de seus colegas do ensino médio.

Só para ter uma ideia, um dos crimes mais impunes na Coreia do Sul é a violência escolar. Lá, o bullying está em outro nível; tanto que muitos estudantes em idade escolar cometem suicídio.

Bem, um dos membros foi acusado de bullying. O escândalo chegou a tais instâncias que a sociedade pressionou para que ela fosse removida do grupo; e isso aconteceu. 

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Algum tempo depois, descobriu-se que a pessoa por trás das acusações era uma ex-colega de escola. Ela desejou que a garota não tivesse sucesso. Fez para se vingar. Acontece que quem fez as acusações praticou bullying contra uma amiga da cantora, e ela, junto com outros rapazes, a defendeu.

Foram apresentados documentos escolares e outras provas da inocência da cantoramas, tarde demais, ela já havia sido afastada do grupo.

Aqui está um exemplo de cultura do cancelamento por vingança. Existem centenas de casos no mundo como esse.

Basicamente, você pode ser cancelado porque o invejam, porque você deu uma opinião que alguém não gostou, e como vingança, censuram você.

Direito de pensar e de ter uma opinião diferente

Desde que o fenômeno do “politicamente correto” se tornou popular, muitas pessoas querem que todos pensem e ajam “corretamente”. No entanto, o “jeito certo” deve ser semelhante ao do pensamento coletivo.

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Sim, não há problema em querer que os outros não sejam prejudicados. É muito louvável que você queira que o respeito reine no mundo; no entanto, quando alguém espera que as pessoas ao seu redor ajam como ele agiria, não há mais respeito.

Querendo ou não, nossa liberdade termina onde começa a do outro. Quer você goste ou não, todos temos direito à liberdade de expressão e isso, por mais que a massa queira, não vai mudar.

O que podemos fazer é desenvolver tolerância com a diferença. Também podemos ignorar o que não gostamos. Algo pelo qual também podemos escolher viver nossas próprias vidas. Quando as pessoas estão preocupadas com seu próprio progresso e sucesso, a vida é muito mais favorável para elas.

É importante que você saiba que, por mais que precise estabelecer o que é certo e o que não é, isso não fará as pessoas mudarem de ideia. Pelo contrário, vai aguçar o conflito. 

A única maneira de alcançar a paz e o respeito pelo pensamento dos outros é encontrar um ponto onde as opiniões convirjam. E quando isso não acontecer, a melhor opção é se distanciar e aceitar a diferença.

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Traduzido e adaptado por Erika Strassburger, do original ¿Sabes de qué se trata la cultura de la cancelación?

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.