Bater nos filhos pode os tornar mais agressivos, diz estudo

Se mudarmos o começo da história, mudamos a história toda. É só começarmos agora.

Caroline Canazart

A mania que muitos adultos têm de querer que tudo se resolva da noite para o dia certamente dá a impressão que uma palmada bem dada vai educar uma criança que não para de pular em cima do sofá da sala, por exemplo. Ela até poderá parar naquele momento, mas, quando você não estiver lá, ele vai voltar a pular. As soluções rápidas, nestes casos, tendem a transformar os filhos em crianças agressivas e também, futuramente, em adultos que irão bater nos próprios filhos e, por que não, no cônjuge ou em outras pessoas.

A violência gera violência. Essa frase tão conhecida parece que perde o sentido quando é vivida dentro da nossa própria casa. Se você bate no seu filho, não tem como reclamar ao vê-lo batendo no amiguinho ou no irmão mais novo. Se você usa a humilhação para conter a energia dele, além de destruir com a autoestima da criança, estará criando alguém que usará da humilhação para chegar aonde quer. Os filhos são o reflexo dos pais. Se você o bate, ele baterá também, pois, é dessa forma que ele tem aprendido que a vida segue. De acordo com um estudo do Núcleo de Estudos da Violência (NEV), da Universidade de São Paulo (USP), as crianças que apanharam na infância têm uma grande probabilidade de usar a violência no dia a dia quando se tornam adultas.

A pesquisa – feita em 11 capitais brasileiras – mostrou que 70% dos 4.025 pais apanharam quando eram crianças. 20% afirmaram que a violência ocorria uma vez por semana ou mais. Além disso, a palmada era apenas uma das formas de agressões, pois, varas, cintos, pedaços de pau, entre outros, também eram utilizados para o castigo físico.

Quando esses pais foram perguntados o que fariam caso seus filhos tivessem algum tipo de mau comportamento, os pais que apanharam quase todos os dias, afirmaram que “bater muito” seria uma das alternativas para resolver o problema. Dos pais que nunca sofreram violência física, apenas 3,2% afirmaram que bateriam em seus filhos caso os pegassem em alguma mentira. Já a porcentagem para os que apanharam regularmente na infância subiu para 11,3%. A pesquisa mostrou que esses mesmos pais também influenciariam os filhos a serem agressivos. Perguntados o que fariam caso o filho aparecesse machucado depois de uma briga na escola, 9,8% dos que apanharam na infância, disseram que os filhos também deveriam bater em quem o bateu; contra 4% dos pais que não apanhavam na infância.

São dados que precisam ser espalhados para a sociedade. Que tipo de pessoas estamos formando? O ciclo da violência contra as crianças precisa ser quebrado. O seu filho não vai parar de fazer xixi na cama porque leva tapas na madrugada. Talvez isso se resolva com carinho, compreensão, passar do tempo e menos líquido durante a noite, ou, talvez você precise procurar um especialista na área para ajudá-los nessa questão. Ele não vai parar de correr no meio de um estacionamento ou numa rua movimentada porque levou umas palmadas. A criança precisa saber o motivo pelo qual ele não deve correr e nem largar a mão do adulto. O perigo para ele aqui, caso só leve as palmadas, será exatamente isso: as palmadas e não o risco de ser atropelado. Quando estiver longe do perigo, dos pais, vai continuar correndo. E adivinha? Os pais precisam lembrar diariamente as crianças sobre os perigos, sobre as regras e limites. As crianças não têm essa habilidade de gravar imediatamente uma informação. E nem nós, adultos. Quantos erros repetidos cometemos em nossa vida, diariamente?

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Se para você é normal bater em crianças, vamos resolver nossos problemas de adultos com outros adultos da mesma forma que resolvemos com as crianças. Seu marido/esposa deixou pela milésima vez o banheiro molhado. Qual a solução? Bater nele/a. Sua diretora, no trabalho, falou algo que não lhe agradou ou de forma grosseira. Qual a solução? Bater nela. Esses exemplos são aceitáveis para a sociedade? Não. São crimes. Todos tipificados no Código Penal. Por que então é aceitável bater em uma criança? Porque você apanhou e não morreu ou, por isso, não se tornou um marginal? Ninguém merece ser fisicamente agredido. Nem você mereceu, nem seu filho merece. Essa aceitação de que “eu mereci porque era uma criança muito levada” não torna a agressão menor. De acordo com especialistas as crianças que são agredidas se sentem rejeitadas pelos pais e, dessa forma, contribui para uma baixa autoestima, estresse, depressão e transtornos de ansiedade na infância e na vida adulta. Você se reconhece nesses sintomas?

Mas, o que fazer para evitar a agressão? Podemos começar pensando no que fazemos quando o filho do vizinho, o primo ou o amiguinho da escola está em nossa casa brincando com nosso filho e tem um acesso de birra. O que você faz com “os filhos dos outros”? Conversa, encontra alternativa para cessar o choro, muda o foco do problema? Por que não usar dessas mesmas atividades para com o seu próprio filho ao invés de bater?

A disciplina positiva é uma forma de quebrar de uma vez por todas com a amarra da violência contra as crianças. É a forma de perdoar nossos pais e seguir em frente de forma diferente, sem deixar mágoas e traumas no futuro de nossos filhos. Claro que não é de um dia para o outro que toda a carga de agressividade vai embora de nossas vidas. É necessária muita leitura sobre o assunto, troca de experiências com outros pais que também querem seguir essa linha de educação, prática e paciência.

Um religioso, Gordon B. Hinckley, disse: “As crianças não precisam ser espancadas. Precisam de amor e encorajamento. Precisam de pais para quem possam olhar com respeito e não com medo. Mas acima de tudo precisam de exemplos. (…) Meu apelo (…) é para que salvemos as crianças. Há crianças demais padecendo de dor e medo, de solidão e desespero. As crianças precisam da luz do sol. Precisam de alegria. Precisam de amor e cuidados. Precisam de bondade, de conforto e de afeição. Todos os lares, independentemente do valor monetário da construção em si, podem prover um ambiente de amor que se transformará num ambiente de salvação”.

Aqui você pode ver algumas formas de alternativas para as palmadas.

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Caroline Canazart

Caroline é uma jornalista catarinense que optou por ser mãe em tempo integral depois do nascimento dos filhos. Ama escrever e ainda acredita que pode mudar o mundo com isso.