Às vezes não temos consciência do sofrimento que causamos quando ferimos com nossas palavras

A ferida que mais dói não é a que sangra, é a que fica marcada na alma e jamais cicatriza.

Erika Otero Romero

Em minha juventude, costumava dizer a primeira coisa que me passava pela cabeça. Era como se meu cérebro e minha língua não se conectavam antes de dizer alguma coisa. Foi assim até que fui vítima de alguém como eu, que me fiz consciente da má pessoa que estava sendo.

Honestamente, eu me ufanava de ser sincera. Gostava de argumentar que não havia nada mais valioso que a sinceridade. Francamente, é um argumento que mantenho, no entanto, uma coisa é ser sincera, outra é ser mordaz. E a segunda era o que eu era.

Aprendi da pior maneira que era malvada com minhas palavras. Foi então que me dei conta de que deveria fazer uma grande mudança em mim.

Ferimos as pessoas de muitas maneiras; se não bastasse, as piores feridas são aquelas que vêm mascaradas de “boas intenções”. Muitas vezes, as palavras ofensivas doem mais que uma pancada. As feridas físicas curam muito mais rápido que as que vão direto à alma.

Existem muitas maneiras em que ferimos com nossas palavras. Em seguida, abordo as mais frequentes.

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1. Acusar sem argumentos

Imagine que um dia, do nada, você é acusado de algo que não fez. Você fica tão confuso que não pode sequer se defender. As acusações não têm base, mas para a pessoa que o acusa, você é diretamente responsável do que é acusado. O pior é que essa pessoa não admite argumentos, é dona da verdade e não lhe possibilita defender-se.

O que torna a situação ainda pior é que as acusações vêm de especulações ou comentários mal-intencionados de terceiros.

Esse tipo de ações fraturam as relações. Uma pessoa que acusa outra faz um dano inimaginável à acusada. A realidade é que a confiança se quebra e a relação jamais volta a ser a mesma.

2. Críticas

Existem críticas e críticas. Temos a crítica construtiva e a destrutiva. Na primeira, há apenas sugestões para melhorar algo. Na segunda, a única coisa feita é recriminar algo que o desagrada.

É justificável irritar-se quando a outra pessoa não escuta o que você tem para dizer, mas tudo tem limites. Quando se cai na crítica destrutiva, o que se faz é ridicularizar e menosprezar as habilidades do outro. Com que sentido? Fazê-lo sentir-se mal.

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Quem faz isso, não leva em conta que isso pode destruir a moral e amor próprio da outra persona. E por quê? Para sentir que se é capaz de dizer o que pensa sem filtros? Isso é ruim.

3. Generalizar

Começarei com alguns exemplos deste tipo de declarações para colocá-la no contexto:

“Você não é capaz.”

“Com você é sempre assim.”

“Tudo lhe faz mal.”

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“Isso de novo?”

Esses tipos de expressões só servem para “mostrar” à outra persona que jamais se pode esperar algo de bom dela.

Existem maneiras de se dizer o mesmo sem ferir os sentimentos alheios. É questão de colocar-se no lugar do outro e perguntar-se como seria melhor dizer o que o incomoda sem ferir o outro.

4. Tirar o mérito

Diminuir a importância das ações ou conquistas de outra pessoa é desmoralizante. É como dizer que seus esforços jamais são suficientes.

Quando se tira o mérito pelo esforço do outro, o que se consegue é minar seu amor próprio, fazendo-o sentir incapaz e tolo.

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Imagine que você fala sempre a seu filho que sua nota 4,5 (quando o excelente é 5.0) “está bem” ou “que poderia ser melhor”. Suponha que você chega em casa, e ainda que tudo esteja pronto e limpo, sua esposa não teve tempo de se arrumar e você a recrimina por sua aparência. Isso acaba com a paciência e o amor da pessoa mais amável do mundo.

Quando você se conscientiza de que não é perfeito, valoriza o que os outros fazem para fazê-lo feliz.

5. Atenção negativa

Ao concentrar-se naquilo que alguém não fez ou fez mal, você coloca foco na situação de maneira equivocada.

Não é o mesmo que dizer a seu filho: “Que péssimo aluno você é! Sempre tira um 3 em vez de 5, não lhe falta nada em casa. Qual é o problema?”, em vez de: “Vamos ver o que está acontecendo? Por que você vai mal no colégio?”

Vê a diferença? Nada se ganha em atacar a pessoa e ignorar o problema por trás do resultado. Deve-se focar no problema, dessa maneira, evita-se atingir a autoestima dessa pessoa, ela já está enfrentando um problema.

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Desenvolver assertividade

O mundo seria um lugar melhor para viver se as pessoas soubessem como expressar o que sentem.

A assertividade trata exatamente disso, de sabermos expressar-nos sem ferir a ninguém. Uma pessoa assertiva é capaz de expressar de maneira amável e franca o que sente e pensa.

Não significa que não devamos ser sinceros. A sinceridade não é sair pelo mundo ferindo com suas palavras e fazendo alarde de que você é muito sincero. Isso é um grande erro.

Uma pessoa assertiva saber dizer o que pensa, negar, ser flexível e negociar e o faz a partir do respeito a si mesmo e aos outros, sempre.

No princípio pode ser difícil tornar-se assertivo, mas não é impossível. É questão de colocar-se no outro lado e pensar: “Como eu me sentiria se me dissessem algo que me ferisse sob a premissa de que é a verdade?” Quando nos tornamos conscientes disso, aprendemos a valorizar o respeito pelos demais.

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É questão de aprender a ser prudentes, de querer aprender a expressar-nos de maneira adequada. É questão de vontade, de pensar duas vezes no que se vai dizer.

Convido-o a colocar em prática esse exercício. Asseguro-lhe de que suas relações melhorarão muito e você irá atrair mais amabilidade à sua vida.

Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original A veces no somos conscientes del sufrimiento que causamos cuando herimos con nuestras palabras

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.