Agorafobia: o medo de ter medo

O pior da agorafobia é o medo de ter medo, e então ter um ataque.

Stael Ferreira Pedrosa

Ágora, em grego, quer dizer reunião, no geral, reunião de pessoas em locais públicos. Também eram assim chamadas as praças principais das antigas cidades gregas, onde se encontrava o mercado e era local de realização de assembleias populares e ou centro religioso.

Da etimologia da palavra ágora, surge a designação para um transtorno de ansiedade: agorafobia. Ágora=espaços públicos e fobia, do grego fobos: medo.

O que é a agorafobia?

De acordo com o Manual MSD, agorafobia é “o medo e a ansiedade de ficar em situações ou locais sem uma maneira de escapar facilmente ou em que a ajuda pode não estar disponível no caso de a ansiedade intensa se desenvolver”. É, portanto, medo de espaços ou situações públicas, de interagir ou mesmo estar perto de muitas pessoas.

Este é um problema grave que afeta a qualidade de vida do indivíduo. Afasta-o do convívio social, limita seu campo de movimentação e afeta suas atividades fora de casa, como trabalhar ou estudar.

Isso porque até mesmo situações em que não há risco (o que é comum no TAG) tendem a desencadear uma crise ansiosa, já que o medo ou a ansiedade é desproporcional à ameaça real. Uma fila de banco, uma sala de aula, um supermercado, cinema ou teatro, ônibus ou aviões, podem representar risco de crises, já que são locais potenciais para que a pessoa afetada entre em pânico.

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Medo de ter medo

Além da potencial crise que afeta o portador de agorafobia, o que já é terrível e lhe causa pânico, sudorese, taquicardia, extremidades frias e até mesmo elevação da pressão arterial, o doente ainda passa a ter medo de ter uma crise, o que o leva a evitar os locais e situações que o coloquem em risco de sofrer um ataque e o coloca em situação de isolamento social e de impacto na vida acadêmica e laboral, incapacitando-o.

Também é comum que o paciente desenvolva uma dependência de outras pessoas para lhe ajudar a se sentir seguro ou socorrê-lo durante o ataque.

Minha história com meu filho

Posso abordar o tema com lugar de fala, já que meu filho mais velho sofreu com esse problema por mais de 5 anos. Foram uma série de acontecimentos que minaram sua saúde mental: minha quase morte por um choque hipovolêmico, a morte dos avós – meu pai e minha mãe de quem ele era muito próximo e que morreram com 3 meses de diferença entre um e outro – inclusive minha mãe morreu no dia do aniversário do meu filho. Até hoje é uma lembrança que o afeta. Meu divórcio e problemas graves com seu pai. A perda de um emprego que ele gostava e, por fim, o assassinato brutal do primo da mesma idade e com quem fora criado próximo.

Tudo isso, em um curto período de tempo, fez com que desenvolvesse depressão e episódios isolados de ansiedade. Em seguida, pânico e por último agorafobia.

Pude ver sua dependência por mim aumentar (não podia me perder de vista) e, consequentemente, sua autoestima e autoconfiança desvanecerem nesse período. Deixou os estudos, não pode mais trabalhar, não conseguiu se relacionar com outros e desenvolveu obesidade e hipertensão. Durante um ataque em que estava só na rua, sentiu-se muito mal, chegando a um pronto atendimento com sua pressão arterial em 280 x 180.

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Esse episódio foi um gatilho negativo na vida dele. A partir daí pareceu entrar em um casulo e recusar-se a sair, mesmo sob qualquer tentativa de dissuasão.

O diagnóstico correto

Até que o diagnóstico fosse fechado, nenhum dos tratamentos surtiu grande efeito. Agora, com a medicação correta, ele começa a dar grandes e promissores sinais de melhora. Além disso, com o correr dos anos, tornou-se um homem mais amadurecido, talvez pelos problemas enfrentados, e com isso uma mudança de mentalidade de “eu tenho medo, eu não posso, eu não quero” para “vou tentar, vou me arriscar”, e finalmente para “eu posso, eu vou fazer”.

Neste início de ano, pude presenciar, com o coração cheio de alegria e gratidão, meu filho desfrutar uma deliciosa viagem a Maceió com seus tios e primas, em dois voos de ida e um de volta (por várias horas dentro de um avião) sem minha presença, sem crises, sem medicamentos. Foram 7 dias de pura alegria e diversão. Não tenho palavras para expressar o quanto essa doença mental é desoladora e o quanto ver meu filho melhorar dela me alegrou.

Sinto que agora ele está preparado para retomar sua vida. Voltar a seus estudos, voltar a trabalhar e fazer planos novamente. Isso não tem preço.

Diagnóstico de agorafobia

Se você sofre de sintomas parecidos, ou um familiar seu, o que é importante saber para enfrentar o problema e alcançar resultados?

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Geralmente começa com ansiedade ou sentimento de tristeza persistente, ocorrendo por volta dos 20 anos ou depois dos 40 e trazendo baixa autoestima, sensação de não haver esperança para os problemas da vida, perda do gosto de fazer o que fazia antes, querer ficar na cama e achar tudo cansativo ou chato.

Pode surgir em pessoas que já tiveram episódios anteriores de ansiedade, mas nem sempre a agorafobia está necessariamente ligada aos transtornos de ansiedade ou síndrome do pânico, de acordo com Carmem Beatriz Neufeld, professora de psicologia da Faculdade de Ribeirão Preto.

Sintomas

Conforme já dito, os sintomas iniciais não significam que seja agorafobia, pois são comuns a outras desordens mentais, como a TAG e a depressão. A agorafobia apresenta sintomas mais graves que devem estar presentes por um período maior ou igual a 6 meses de acordo com o DSM5.  O que inclui medo inexplicável por:

  • Uso de transporte público
  •  Permanecer em espaços abertos (estacionamento, mercado) 
  •  Estar em um local fechado (supermercado, cinema) 
  •  Filas 
  • Multidão 
  • Estar sozinho fora de casa 
  • O medo deve envolver pensamento de incapacidade de se safar sozinho ou de se controlar. Grande necessidade de alguém que ajude.

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Tais sentimentos devem causar sofrimento significativo ou prejuízo social ou ocupacional. Devem ser descartados o Transtorno de Ansiedade Social e o transtorno Dismórfico corporal.

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Tratamento

Terapia cognitivo-comportamental para identificação e controle dos pensamentos e de crenças falsas (pensamentos intrusivos), e para a terapia de exposição e uso de medicamentos.

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É importante frisar que o diagnóstico correto é fundamental, como foi no caso do meu filho. Somente um psiquiatra pode avaliar e prescrever a medicação correta, que deve ser acompanhada de psicoterapia.

Se você sofre desse mal, tenha esperança, cada dia pode ser um novo passo em direção à cura. Busque viver no presente e enfrente seus medos. Embora pareçam, eles não são reais.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.