3 motivos que muitas mulheres acreditam serem válidos para continuar em um casamento horrível

Nem sempre é fácil sair de uma relação e os motivos são muitos. Aqui estão 3 que as mulheres entendem como válidos para permanecer. Mas, não são.

Stael Ferreira Pedrosa

São inúmeras as razões que levam uma mulher a acreditar que pode (ou deve) permanecer num casamento ruim e abusivo. Este tem sido um tema de pesquisa encontrado em artigos científicos, teses de mestrado e ou doutorado de diversos cursos superiores ou extensões tais como psicologia, psiquiatria, serviço social, sociologia entre outros.

Isso porque o assunto é complexo e se refere a um profundo sofrimento que pode levar à depressão, ao assassinato (feminicídio) ou ao suicídio. Os motivos para a permanência são inúmeros. E vão desde dependência emocional e econômica, a valorização da família, a preocupação com os filhos, a idealização do amor e do casamento, o desamparo social, constrangimento perante conhecidos, culpa, até ameaças de morte, entre outros.

Viver em um casamento ruim, ou em uma relação de dominação produz na mulher um sentimento de frequente insegurança, estresse ou medo de que algo possa lhe acontecer a qualquer momento. Muitas vezes a mulher que sofre violência e não deixa o agressor é apontada como aquela que “gosta de apanhar”, o que além de representar sexismo, não é verdade.

A Fundação Perseu Abramo, em parceria com o SESC, analisou o depoimento de 2.300 mulheres e 1.100 homens, em 25 estados brasileiros. A pesquisa concluiu que a cada dois minutos, cinco mulheres são agredidas violentamente no Brasil.

Flávio Gikovate, psicoterapeuta, aponta uma das razões: “Apesar de tudo, elas amam os agressores e são governadas pela ideia de que o amor deve tolerar tudo”.

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Muitas vezes as mulheres têm que sofrer caladas e permanecer na relação como se fossem objetos de posse do marido, parceiro. Ele a ameaça até de morte caso ela se separe. É muito comum nos noticiários a história de “matou porque não aceitava a separação”. Muitas mulheres creem que isso é porque o marido, parceiro as ama, o que nem de longe é verdade. Isso é sentimento de pose, de objetificação da mulher. Ela lhe pertence como um carro, um relógio ou computador.

É difícil apontar três razões porque as mulheres permanecem em casamentos claramente ruins, mas de acordo com as pesquisas, os maiores motivos são:

1. Medo da solidão

Seja para manter a família, para manter os filhos, por amor ao parceiro, mulheres permanecem em situações por vezes degradantes. Seja de violência física, psicológica ou de desprezo (quando o marido é ausente e não se importa com a mulher). Nesse caso, as mulheres costumam pensar que “antes mal acompanhada do que só”.

2. Dependência financeira

É comum o homem tolher a mulher de estudar, de querer uma carreira ou mesmo de trabalhar fora. Isso cria uma dependência financeira que a mantém acorrentada ao parceiro. Segundo os pesquisadores Mizuno, Fraid e Cassab, esta é a maior razão apontada pelas mulheres que permanecem em relacionamentos abusivos. Segundo a pesquisa, as mulheres muitas vezes se submetem a uma relação de violência por não terem condições de manter um nível adequado de vida ou até mesmo de subsistência para si e os filhos.

3. Submissão

Para os pesquisadores Patrícia Souza e Marco Aurélio da Ros, “a necessidade de ter alguém como ‘referência’ leva a mulher à submissão e a sujeição às agressões, que vão da emocional à física e, muitas vezes, intercalam-se”. Também são comuns interpretações religiosas equivocadas que mantém as mulheres submissas. Fato é que não há uma única escritura na Bíblia que ensine que a mulher deva se manter num casamento onde é humilhada, desprezada e agredida.

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Ainda existe o problema da percepção social da violência que muda de uma cultura para outra, de um país para outro e mesmo de um momento histórico para outro, segundo a professora, doutora em ciências humanas, Miriam Grossi. A saída, para a ativista Solange Jurema, é romper com a tolerância social que forma obstáculos à denúncia e gera impunidade.

Creio ser necessário acrescentar que há que se empoderar a mulher que permanece em um casamento ruim devido a dificuldades financeiras, criando mecanismos de suporte social/governamental de apoio àquela que deseja se separar, mas tem dificuldades de se manter financeiramente.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.