Pai e filho foram ao fundo do poço por causa do alcoolismo e contam como conseguiram dar a volta por cima

O pai foi abandonado pela esposa. O filho "acordava em qualquer lugar porque bebia até desmaiar". Veja o que eles fazem para se manterem sóbrios há mais de 20 anos .

Erika Strassburger

Por mais de 30 anos, a família Leme foi assombrada por uma droga com alto poder de destruição, que tem assolado muitos lares e, segundo site do Governo Federal, causa mais morte do que qualquer outra droga: o álcool.

Segundo matéria da Folha de São Paulo, a droga entrou na vida patriarca da família, o médico Paulo de Abreu Leme, 77 anos, em 1963. Em 1989, ele iniciou sua recuperação, mas, a essas alturas, seu filho mais velho, o advogado Paulo Filho, de 43 anos, já estava no mesmo caminho havia dois anos. Somente em 1996 a família Leme pôde respirar aliviada, ambos estavam longe do vício.

A nossa história foi contada pelo jornal Folha de S.Paulo neste domingo. Leiam mais em…

Posted by Paulo Leme on Monday, March 16, 2015

Grandes perdas

O pai

Já faz 28 anos que Paulo pai não deu mais o primeiro gole. Ele contou à Folha que começou a beber no fim da adolescência, nas festas com os amigos. “Ficava desinibido, era bom perder a autocrítica”. Mas, a partir dos 30 anos, sua dependência se tornou evidente.

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Naquela época, ele tinha três excelentes empregos em grandes companhias. Mas, por haver chegado ao ponto de consumir dois litros de uísque diariamente, ele não estava mais em condições de trabalhar. “Não sabia mais o que estava fazendo”, conta. Então, pediu demissão de um emprego, abandonou o outro e, por fim, acabou sendo despedido do terceiro. Sua mulher foi embora, levando seus três filhos mais novos. O mais velho, Paulo Filho, ficou morando com o pai.

Ficar desempregado foi um baque que o fez acordar para a dura realidade. Ele sabia que tinha que dar um basta. Em 1989, com a ajuda da mulher, que àquelas alturas já tinha voltado para casa, decidiu internar-se em uma clínica de desintoxicação, onde conheceu o AA (Alcoólicos Anônimos), cujas reuniões passou a frequentar diariamente, o que fez por 15 anos. “Passei a estudar a doença do alcoolismo, a entender a dependência e a evitar o primeiro gole”, conta.

Longe do álcool, Paulo foi reconquistando sua vida. Ele recuperou seus empregos e, desde então, dá palestras gratuitas como meio de promover a conscientização sobre a doença. Ele não teve recaídas. “Hoje eu não bebi. Amanhã, não sei”, diz à Folha.

Meu pai, o médico Paulo de Abreu Leme, fala sobre a sua experiência com a dependência química. #PauloLemeVereador #18018

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O filho

Paulo Filho começou a beber aos 16 anos, quando cursava o segundo ano do ensino médio. Ele matava aula para beber e jogar truco com os amigos. Quando entrou na Faculdade de Direito da USP, descobriu “o paraíso”. Ele já não precisava mais beber escondido e “o bar era dentro do centro acadêmico”, conta.

Como era de se esperar, o vício em álcool afetou seu rendimento acadêmico, e acabou levando-o a usar também drogas ilícitas, como maconha e cocaína. Paulo perdeu um ano na faculdade. Mas, vendo seus amigos avançarem no curso enquanto ficava para trás, resolveu dedicar-se mais aos estudos sem, no entanto, abrir mão de seus vícios. Em 1994, ele abandonou o estágio e a faculdade.

Sem estudar nem trabalhar, a vida de Paulo se resumia a se embriagar e usar drogas. “Acordava em qualquer lugar porque bebia até desmaiar”, conta o advogado. Ele relembra que acordava muito mal e tremendo, mas, algumas horas depois, já estava bebendo até apagar novamente. Paulo causou 5 acidentes por dirigir embriagado, que, por sorte, não acabaram em morte.

Em 1996, seus pais lhe deram um ultimato: “Eles disseram: ‘Você é alcoólatra, está doente e tem que se tratar. Se não quiser, vá morar em outro lugar’. Só me restava a rua”, relembra.

Venha comemorar comigo! É amanhã!

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Paulo decidiu seguir o exemplo de abstinência do pai, passou a frequentar o AA e abandonou o álcool e as drogas. Ele não bebe há 21 anos.

O que as pessoas precisam saber

Em entrevista a um programa de rádio, o doutor Paulo, que há mais de 20 se dedica ao estudo da doença do alcoolismo e é autor, junto com o filho, do livro A Doença do Alcoolismo, fornece algumas informações importantes sobre a doença, informações essas que o têm ajudado a se manter sóbrio durante todos esses anos.

O que é a doença do alcoolismo

Segundo o médico, trata-se de “uma doença primária”, ou seja, “uma doença por si mesma”. Muitas pessoas nascem com “um defeito de fabricação no metabolismo” que fará com que elas tenham propensão de desenvolver dependência logo no início do contato com a droga. Dez por cento da população tem esse defeito no metabolismo.

O alcoolismo é, também, uma doença crônica e progressiva. O indivíduo vai passando por estágios cada vez mais intensos e aí vem a má notícia: não têm regressão.

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De que forma o alcoolismo não tem regressão?

Suponhamos que uma pessoa que tenha chegado a um estágio avançado da doença para de beber e fica 15 anos sem tomar um único gole. Ela deixou de ser alcoólatra? Infelizmente não, segundo os especialistas. A doença ainda está lá, estacionada no mesmo estágio em que estava quando ela deu seu último gole. Se tiver uma recaída, ela vai retornar ao estágio em que parou e não ao estágio inicial.

Para o médico, a saída é a informação. O doente precisa conhecer a doença e entender sua condição. Ele “tem de aceitar as condições dele e tocar a vida em frente”, diz. Ele ressalta a importância dos grupos de ajuda, como os Alcoólicos Anônimos. Eles são fundamentais para o tratamento e recuperação do viciado.

Tratamento e recuperação

A única maneira de se recuperar da doença é a mais óbvia: nunca mais ingerir qualquer bebida alcoólica. Não existe “beber socialmente”, não existe “beber apenas hoje” para um alcoólatra.

Preconceito

“O doente sofre muito preconceito”, diz o médico ao programa. À Folha de São Paulo, pai e filho dizem que é comum as pessoas verem o alcoólatra como irresponsável em vez de doente. Paulo Filho diz que quando recusa a oferta de álcool, os amigos insistem, “Mas nem um pouquinho?”. E quando o veem pedindo refrigerante, surgem as piadinhas: “Vai pedir brigadeiro também?”.

Ao romper corajosamente o anonimato – algo que foge da tradição e “não tem a aprovação da maioria esmagadora de seus companheiros de Alcoólicos Anônimos”- para contar suas histórias, Paulo de Abreu Leme e Paulo Filho ajudaram desestigmatizar e a conscientizar tanto os doentes do alcoolismo e seus familiares, como a sociedade de maneira geral.

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Aí está uma boa oportunidade de abolir determinadas práticas sociais, como encontros e jantares regados a álcool. Não conseguimos aproveitar muito mais a vida estando totalmente sóbrios?

O artigo abaixo mostra os estragos que o vício em álcool causou na vida de Brad Pitt

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Erika Strassburger

Erika Strassburger nasceu em Goiás, mas foi criada no Rio Grande do Sul. Tem bacharelado em Administração de Empresas, trabalha home office para uma empresa gaúcha. Nas horas vagas, faz um trabalho freelance para uma empresa americana. É cristã SUD e mãe de três lindos rapazes, o mais velho com Síndrome de Down.