Nem suco natural? É exagero ou realmente crianças pequenas NÃO podem comer açúcar?

A OMS já tinha falado, mas a situação tem se agravado a ponto de outras organizações importantes virem a público falar sobre o açúcar.

Stael Ferreira Pedrosa

A organização Mundial de Saúde (OMS) desde 04 de março de 2015 tem sugerido que o consumo de açúcar máximo por dia, para qualquer pessoa, não deveria exceder 50 gramas. Ainda segundo a OMS, quem baixar o consumo para 25 gramas terá benefícios à saúde, independentemente da idade.

Segundo o documento disponível aqui, as doenças causadas por hábitos alimentares errados e sedentarismo são a principal causa de morte em todo o mundo e que, em 2012, essas doenças foram responsáveis por 68% das mortes no planeta, e que dessas mortes, 40% são prematuras, ou seja, antes dos 70 anos.

De acordo com a OMS, a principal causa é a obesidade que tem aumentado em todo o mundo. Já a causa principal da obesidade é o consumo de açúcar, seja este visível – o açúcar adicionado aos alimentos, as balas doces, refrigerantes, sobremesas, etc. – ou invisível – o açúcar adicionado aos alimentos na fabricação tais como sucos industrializados, biscoitos, ketchup, sopas de pacote, pães, macarrão, fórmulas de leite em pó, salsichas, etc.

Recentemente, a Associação Americana do Coração fez uma recomendação onde contraindica enfaticamente o consumo de açúcar para crianças menores de dois anos de idade. Já para os que estão na faixa etária entre 2 e 18 anos, a quantidade máxima é de 25 gramas, ou seja, 6 colheres de chá, o que é bem pouco correspondendo a 1 pedaço de bolo de fubá ou um copo de refrigerante.

A raiz do problema está na infância

O paladar se molda principalmente na infância. Se a criança se acostuma desde cedo a comer menos açúcar, ou nem comer, ela não desenvolverá o paladar para o doce e nem sentirá falta. Já os adolescentes e mais velhos que se acostumaram a comer doces podem reeducar o paladar. Para isso é necessário ir diminuindo a quantidade de açúcar que se adiciona a sucos, cafezinhos, chás, etc. Com o tempo a necessidade diminui e passa-se a apreciar os alimentos com pouco ou nenhum açúcar.

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A OMS ainda informa que a maioria dos brasileiros consome 50% a mais de açúcar do que deveria, ou seja, 75g por dia, em média, o equivalente a 18 colheres de chá. Perdendo para os americanos que consomem uma média de 79g por dia de açúcar, ou seja, mais ou menos 19 colheres de chá.

Este é um dado importante para se compreender o aumento da obesidade no Brasil, principalmente a infantil. Na trilha da obesidade infantil americana, este é também um problema sério por aqui – quase 40% das crianças de 5 a 9 anos estão com sobrepeso na região sudeste de acordo com a ABESO (Associação Brasileira para o estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica), o que reflete um grande perigo, afinal, é conhecida e notória a relação entre obesidade e complicações metabólicas como hipertensão e diabetes.

Infância sem doce?

Isso significa dar adeus aos brigadeiros e beijinhos das festas infantis? Claro que não. Segundo a Dra. Ana Escobar, médica pediatra e Professora de Medicina na USP, “o equilíbrio é a conduta de ouro neste e em tantos outros casos. Sem exageros, nem para um lado e nem para o outro. Pode ser difícil privar uma criança maior de 1 ano de um brigadeiro em uma festinha. Não a prive. São estas exceções que tornam a infância e a vida um pouco mais gostosa e doce; desde que a exceção não se torne a regra, claro!”.

Outro motivo de preocupação é a relação entre a ingestão de açúcar e as cáries dentárias. Atualmente estas são as doenças dentárias mais prevalentes do mundo, causando dor, ansiedade, limitações funcionais (em particular, baixa frequência e mau desempenho escolar entre crianças) e desvantagens sociais devido à perda de dentes).

Atualmente é desaconselhado até mesmo oferecer sucos de frutas naturais às crianças, e as razões procedem realmente. Dê a fruta, dê água, mas não misture os dois. O consumo com consciência e ponderação, embasado no conhecimento científico, é sempre o mais indicado em todas as idades.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.