Hiperatividade ou agitação comum na infância? Como resistir à pressão de medicar o seu filho sem necessidade

A infância acontece apenas uma vez na vida. Aproveite-a com o seu filho e não se deixe levar pela facilidade do medicamento ou pela pressão da sociedade.

Caroline Canazart

Eu tenho um filho lindo. Ele é esperto e ativo. Fico encantada em ver como cria brincadeiras com um pedaço de madeira qualquer ou uma fita que veio num embrulho de presentes. O meu doce menino, que parece fisicamente com o meigo e calmo Pequeno Príncipe, na verdade, pode ser definido assim: Ele tinha o olho maior que a barriga. Tinha fogo no rabo. Tinha vento nos pés. Umas pernas enormes (que davam para abraçar o mundo) e macaquinhos no sótão.Sim, ele é O Menino Maluquinho, personagem do ZiraldoEle não para. Nunca. Corre o dia todo. Pula sem parar. Ele pensa que é o Homem-Aranha. Imagina? Ele sobe e desce do sofá da sala como se estivesse no mais alto edifício da cidade. E ele é assim em qualquer lugar.

Remédio para acalmar as crianças?

Claro que às vezes o meu filho me tira do sério e tenho que respirar fundo, me acalmar e entender o que se passa com ele. E, por conta desse comportamento, uma vez alguém me perguntou: você conhece um “remedinho” chamado Ritalina? Ele é muito bom para acalmar as crianças…

Como? Ele só tem dois anos (na época do ocorrido). Era um bebê outro dia. É só uma criança explorando o ambiente! Eu não quero que se acalme. Quero que seja ativo, que saiba tudo o que está acontecendo ao seu redor! Não, eu não respondi assim para a pessoa. Fiquei muda. Não acreditei que tinha escutado aquilo. Fingi que não ouvi. Eu, uma simples mortal, que apenas já havia lido algumas coisas sobre TDAH, escutei isso de uma pessoa que cursou quatro anos de medicina e sabia muito bem do que se tratava o “remedinho”.

Quantas crianças por esse mundo afora estão sendo medicadas apenas para ficarem quietinhas, para não serem inconvenientes diante dos amigos dos pais, na escola, na igreja, no parquinho? E aí mora o perigo dessa questão. O uso desenfreado de um medicamento que pode tornar a pessoa dependente está sendo distribuído para resolver, muitas vezes, o mau comportamento de crianças e jovens.

A polêmica da medicalização de crianças e adolescentes só cresce. Só não mais do que o uso da Ritalina no Brasil que aumentou 775% em dez anos. Isso mesmo, 775% de acordo com uma pesquisa que saiu no início de 2014 do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). O país é o segundo maior consumidor do mundo, perdendo apenas para os Estados Unidos. Eu, como mãe, que daqui a poucos anos terei dois filhos na escola, fico me perguntando: o TDAH virou uma epidemia para esses números terem aumentado dessa forma? Os professores, que na maioria das vezes são os primeiros a “diagnosticar”, estão preparados para isso? Nós, como pais, temos o direito de introduzir essas drogas na vida de crianças, às vezes com cinco, seis anos de idade? Eles fariam essa escolha, ou buscariam alternativas para o problema, se pudessem decidir por eles mesmos?

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TDAH ou agitação comum da infância?

De acordo com especialistas que acreditam na existência desse problema, o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que aparece na infância e que pode acompanhar o indivíduo por toda a sua vida. Os sintomas são desatenção, inquietude e impulsividade. Para tratá-los os médicos recorrem ao medicamento conhecido como Ritalina que acalma e focaliza a pessoa para uma única atividade. Os efeitos colaterais do uso do remédio são muitos. Entre eles estão: perda de apetite, dores de cabeça, sensação de opressão no peito, taquicardia, tremores e mãos úmidas, boca seca, aumento da ansiedade, entre outros. Ele pode causar também crise de ansiedade ou pânico, surto psicótico e pensamentos suicidas, especialmente em pessoas que tenham tendência, incluindo crianças e jovens. Para crianças com problemas de desenvolvimento da altura e hormonais a medicação não é recomendada.

Não sei você, mas esses efeitos colaterais me deixam bem preocupada já que o medicamento estará agindo num corpinho tão pequeno como o de uma criança.

O psiquiatra Allen Frances, autor do livro Saving Normal,ainda sem tradução para o português, também tem se preocupado com esse tema. Ele, que em 1994 foi o diretor do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, que é a bíblia dos psiquiatras, diz que os diagnósticos mentais estão engolindo a normalidade e que as dificuldades diárias estão sendo resolvidas com medicação tarja preta. Especialmente sobre o TDAH, o psiquiatra diz que 3% das crianças podem ter esse transtorno, mas que nos Estados Unidos, 11% são diagnosticadas com o problema. Mostrando então, que muitas delas são medicalizadas sem necessidade. Sobre isso Frances afirma: “Fazemos um vasto e descontrolado experimento em nossas crianças, banhando seus cérebros imaturos com produtos químicos fortes sem saber seus efeitos de longo prazo. Pais precisam se tornar consumidores informados e proteger seus filhos”.

Alternativas ao medicamento

Algumas mudanças na rotina das crianças podem ser alternativas ao medicamento, caso não seja uma opção para a família oferecê-lo à criança. O comportamento dela pode ser melhorado com:

  • mudanças na alimentação;

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  • inclusão de atividades como pintura, música, brincadeiras ao ar livre;

  • aprendizagem de algum tipo de luta, aula de meditação;

  • ou até mesmo o cancelamento de atividades agendadas para ela.

Tudo pode ser em companhia de profissionais da área que não queiram em primeiro momento receitar a medicação.

Algumas vezes o problema que a criança está enfrentando pode ser outro como falta de visão, então não consegue aprender e seguir os colegas na escola, ou ansiedade por discussões e brigas na família. Se o “diagnóstico” surgiu na escola, mais uma vez é importante ter cautela, pois em muitos casos é a escola que não sabe lidar com as diferenças. Cada indivíduo tem sua personalidade e sua forma de aprender. Não dá para colocar todos dentro da mesma caixinha. Portanto, o diagnóstico de TDAH precisa ser mais bem estudado.

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Pais, não deixem que este ou qualquer outro tratamento direcionado ao seu filho seja dado e definido numa única consulta médica. Pesquise, busque, informe-se antes de tomar qualquer decisão.

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Caroline Canazart

Caroline é uma jornalista catarinense que optou por ser mãe em tempo integral depois do nascimento dos filhos. Ama escrever e ainda acredita que pode mudar o mundo com isso.