Como se tornar pais adotivos

Na gravidez do coração, a barriga não cresce. Para engravidar, seja biologicamente, seja do coração, existem alguns caminhos a serem percorridos, e neles terão alegrias e dores, mas a recompensa, sempre.

Beth Proenca Bonilha

Vocês acabaram de se tornar pais adotivos ou estão pensando seriamente nisso? Então, devem estar sentindo um misto de alegria e medo, desejo e incerteza perfeitamente naturais, pois aceitar um ser que está precisando de cuidados e amor é, realmente, algo de que se deve ter muita certeza. É preciso ter certeza da disposição em aceitar todas as responsabilidades e desafios, além é claro, das alegrias, realizações e satisfação que virão juntos em alguns momentos mais positivos e em outros mais negativos. Mas será que ser pais biológicos, também, não causa esses mesmos sentimentos? Claro que sim, a diferença é que quando o filho nasce de parte de nós parece que tudo é mais fácil de ser enfrentado, mas no final, os desafios são os mesmos ou bem parecidos.

Neste artigo, vou sugerir algumas ações que podem amenizar a dúvida ou pelo menos saber o que esperar.

Descubram como se sentem os pais adotivos

tenham eles tido sucesso ou não, conheçam os desafios que enfrentaram e quais foram os sentimentos e as ações que utilizaram nos momentos difíceis e bons. Leiam sobre o assunto, procurem pela Vara da Infância em sua região. Busque grupos de apoio às famílias que adotam.

Descubram como se sentem as crianças adotadas

essa descoberta é muito importante, seja um bebê ou uma criança de três, quatro ou oito anos. Usem de empatia, imaginem-se na situação de abandono, maus-tratos e negligenciado. Imaginem como vocês iriam olhar o mundo, como vocês reagiriam com as pessoas estranhas com as quais tivessem que conviver. Respeitem as dificuldades da criança em lidar com todos esses desafios e tentem entender e ajudar na transição, com muito amor, paciência e autoridade.

Quando tomarem a decisão, devem compartilhá-la com os familiares

lembre-se de que os familiares podem contribuir e que vão fazer parte da vida da criança, e isso precisa ser de uma maneira positiva para que a adaptação aconteça naturalmente e mais fácil. Porém, a resistência e reprovação virão quase que na mesma medida do apoio, principalmente, se já tiverem filhos. Por isso, a decisão precisa ser tomada pelo casal e então comunicada aos familiares, preparando-os para receberem e aceitarem a criança.

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Estejam preparados para contar a seu filho que ele foi adotado

se a adoção for de um bebê ou recém-nascido, decidam antes como será feita a revelação à criança. A sugestão é que desde bebê, esse seja um assunto natural entre a família, sem discriminação ou tabu, como se estivessem contando a um filho como foi escolhido o seu nome, por quê quiseram ter um filho, como foi o nascimento ou a chegada dele na família, isso deve ser muito natural.

Vamos falar um pouco sobre adoção de crianças com mais de três anos, a chamada “adoção tardia”. Existem muitas crianças nas instituições esperando por uma família e, certamente, muitas famílias que poderiam optar por esse tipo de adoção, pois a criança já desenvolveu autonomia parcial: não usa fraldas, come alimentos sólidos ou até come sozinha, fala, anda, banha-se sozinha. Porém, há sempre o receio da história de vida dessa criança, o medo do passado, das vivências que já acompanham esse serzinho e o receio de não saberem lidar com isso. Fica-se com a impressão de que um bebê é mais facilmente “moldado”, que é mais fácil amar um bebê totalmente dependente do que uma criança maior. Para optar por uma adoção tardia é preciso preparo, abertura e disposição para enfrentar a fase de ajustamento. A história da criança pode ser marcada por dor, abandono, sofrimento, negligência.

Sou mãe de cinco filhos biológicos e há um ano e meio adotamos nossa sexta filha, quando ela tinha sete anos. Ela havia passado por negligencia e maus-tratos com a mãe biológica. Passou por instituições dos 5 anos aos 6 anos, foi separada dos dois irmãos menores que eram filhos de outro pai, porque a avó paterna ficou com a guarda. Aos sete anos, foi levada por uma família que já tinha uma filha adotada desde bebê e queriam dar a ela uma irmãzinha. Mas se esqueceram de que eles é que precisavam desejar outra filha, pois minha filha precisava mais de pais do que de uma irmã. Em quatro meses ela foi devolvida, com a alegação de que eles queriam uma filha boazinha, e ela tinha surtos de raiva, agressões e isolamento.

Ela, então, entrou em nossas vidas e, logo nos primeiros meses, passei, exatamente, o que eles relataram. Não foi fácil, mas a diferença é que eu e meu marido a queríamos como filha e esperamos com amor, paciência e autoridade que ela nos quisesse como pais.

Os conflitos foram muitos, mas, hoje, vemos que cada desafio vencido valeu à pena. O processo ainda não terminou, mas não conseguimos imaginar nossa vida sem a presença dela.

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Entre as muitas batalhas e tentativas de entender e amenizar os conflitos, uma psicóloga me disse que eu nunca deveria tentar apagar as dores e sofrimentos que minha filha passou, pois não posso mudar isso. Mas que deveríamos, eu e ela, encarar como parte da história de vida dela, não deveria ser um tabu, e que precisamos, a todo o momento, focar na construção de nosso relacionamento.

Nossa família precisa focar em fazer com que ela se sinta segura e amada, fazendo com que perceba a diferença entre o abandono e a aceitação, entre a rejeição e o amor, até que aos poucos possa confiar, novamente, que nunca mais sofrerá as mesmas dores e perdas do abandono.

Outro conflito que tivemos que lidar foi a aceitação de nossos filhos biológicos e dos familiares, mas estamos vencendo aos poucos cada desafio. Sei que quando olho para ela sorrindo, brincando com os irmãos ou mesmo quando tem que se defender e conquistar seu espaço, sinto-me feliz e agradecida por ter essa história para contar.

Somente de uma coisa tem que se ter certeza na hora de decidir pela adoção: será para sempre, não será fácil, mas com amor tudo é possível.

Consulte mais em: psicologiaeadocao.blogspot.com

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Beth Proenca Bonilha

Graduada em Administração de Empresas com MBA em Empreendedorismo. Casada mãe de 6 filhos, avó de 2 netos. Atua profissionalmente como Analista Instrutora da Educação Empreendedora no SEBRAE - SP. Como hobby gosta de artesanato, música e leitu