Você pode ser completamente honesto com o seu parceiro?

Às vezes, apesar do que se possa acreditar, o melhor é não saber tudo sobre o seu parceiro e que o outro também não saiba tudo sobre você.

Erika Otero Romero

A formulação deste tema pode ser muito controversa para muitas pessoas, mas é um ponto de discussão muito importante no estabelecimento de uma relação de casal.

Algumas pessoas dirão que é imprescindível ser completamente sincero e transparente com o seu par. Também haverá quem não pense dessa maneira. Outros preferem omitir certos detalhes de sua vida passada com o intuito de evitar problemas; enquanto alguns afirmam que “o que foi antes da relação atual não tem por que fazer mal”. Seja como for, todas estas afirmações são verdadeiras, mas há uma grande incógnita na equação: as partes em conflito.

Sejamos francos, há pessoas que são mais maduras e emocionalmente estáveis do que outras. Existem também aquelas de mente mais aberta às quais nada ou quase nada afeta. Apesar disso, também há aqueles que se sentem feridos por atos do passado de seu parceiro. Aqueles que se enquadram nesta categoria vão guardar rancor e, de tempos em tempos, vão trazer essa situação para discussão.

Outro aspecto é que, por mais que asseguremos conhecer nossos parceiros, não há nada mais errado do que isso. A razão é que as pessoas mudam com o tempo e as experiências também. Além disso, nós nos adaptamos a pessoas e situações de acordo com nossos interesses. Em situações assim, torna-se difícil dizer que conhecemos alguém.

Ser sincero deve ter um indicador métrico

Todos devemos ter a capacidade de “ler”, mesmo que seja medianamente, os nossos parceiros. Isso é para que se possa medir o quanto o parceiro pode ficar magoado se descobrir um segredo inconfessável seu.

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Penso que, se uma situação não o afetou porque você não estava com essa pessoa, não tem por que se magoar. A situação é que muitas pessoas não pensam dessa maneira. Pode acontecer que, ao saber que algo aconteceu com você, seu parceiro pode usar isso para recriminá-la. Isso só fará com que a dor aumente e você se envergonhe novamente. Não serão todos, nem todas as vezes, mas se alguém não puder ajudar, que necessidade tem de abrir sua ferida?

Agora, se você é do tipo que defende a sinceridade apesar dos danos que possa causar, a recomendação é que coloque “seus assuntos sobre a mesa” antes que a relação se torne séria. Cabe a ambos decidir se querem ou não prosseguir, mas há consequências a assumir. Logicamente, isso requer maturidade mental e emocional de ambos para seguir adiante sem que esses eventos sejam prejudiciais para nenhuma das partes.

É claro que existem segredos. Não é o mesmo esconder que você foi abusada por alguém e confessar que você está fugindo da lei por um crime.

Há coisas que decidimos calar e não contar ao parceiro porque tememos que ele ou ela use esse segredo para nos prejudicar. E há outras que escondemos por vergonha de ser julgados por quem éramos naquele tempo. Alguns outros segredos guardamos porque não lhes damos importância. Seja qual for a situação, é escolha de cada um se depois de conhecer melhor o seu parceiro decidir ser sincero ou não.

Sinceridade versus prudência

A sinceridade é a virtude de comunicar e agir segundo seus sentimentos, crenças ou pensamento. No entanto, essa virtude muitas vezes é usada para ferir outras pessoas sob a desculpa de ser “sincero”. É aqui que a prudência desempenha um papel importante.

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É isso que quero dizer quando digo que devemos ser capazes de avaliar se podemos ou não ser honestos com o parceiro. Decidir contar-lhe algo que nos é incômodo implica que se avalie se o outro é digno de confiança. Como se consegue isso? Medindo o seu nível de prudência, aceitação e maturidade emocional.

Não é o mesmo contar a alguém prudente um segredo, que contar a uma pessoa temperamental e impulsiva que, ao primeiro problema, jogará na sua cara.

É aqui que entra em jogo que você pode ler o seu parceiro. Se você o vê como alguém prudente, não há uma razão para  não ser sincero. No entanto, a situação muda quando você sabe que é alguém fechado e com crenças que geram conflito.

Outro aspecto importante é que a honestidade não deve ser uma desculpa para ferir o parceiro. Haverá sempre coisas do nosso cônjuge que não são do nosso agrado, mas não temos o direito de magoar ninguém. É aqui que entra em jogo a prudência. Se algo lhe incomoda ou não lhe agrada, sempre pode falar sobre isso com amabilidade. Uma virtude não briga com a outra.

Omitir não é o mesmo que mentir

Vamos deixar claro que a mentira é a distorção proposital da realidade. Quando você mente, está alterando a situação para sair limpo. Isso está muito longe de omitir algo que lhe aconteceu para evitar que você ou o outro se magoe.

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A segunda opção não altera nada, porque o último evento não magoa ninguém. Com as mentiras, sim, porque você quer sair em limpo ou ficar bem.

Agora, se se trata de eventos presentes, é justo que falem do assunto. Acontece que, o que quer que lhes aconteça no presente, prejudica a ambos. Ambos devem poder sabê-lo e, assim, poderem resolver o problema.

Só me resta dizer que decidir ser sincero ou não com o seu companheiro é uma escolha pessoal. A verdade é que, se um dia vier à tona o que quer que esteja escondendo, você tem de estar preparado para as consequências que isso possa trazer.

Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original ¿Puedes ser completamente sincero con tu pareja?

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.