Você imagina o quanto os estranhos sabem de você devido às suas redes sociais?

Você é dono da sua vida e de sua privacidade, mas quando abre a sua privacidade a estranhos, eles tomam conta da sua vida.

Erika Otero Romero

Há alguns dias, vi um vídeo no Instagram onde havia muita gente num teatro. Em seguida, chamaram uma garota do público. Ela subiu temerosa ao palco e ficou na frente de cerca de 100 pessoas.

Alguém ao acaso disse: “Ela é Fulana de tal. Alguém sabe quanto mede?” Então, um jovem levantou-se da plateia e disse: “mede 1,75m”. Então alguém disse: “Sim, e ela costuma andar de patins em tal lugar, mas faz tempo que não vai”. Foi assim por cerca de 4 minutos.

Todas as pessoas que estavam no público eram desconhecidas para ela. No entanto, todas sabiam de coisas tão pessoais sobre a moça que estava no palco. Ela, com os olhos arregalados, perguntou: “E como sabem tudo isso sobre mim?” E a pessoa que a fez subir ao palco disse, “você compartilha em suas redes sociais“.

Para ser sincera, fiquei tão chocada como a garota da experiência. É assustador que tantas pessoas que você não conhece saibam tanto sobre você, tudo isso porque você dá acesso à sua vida privada através das redes sociais.

Se um adulto se assusta com o que estranhos sabem de sua vida por causa do que ele posta voluntariamente nas redes sociais, imagine o que pode acontecer a essas crianças cujos pais as expõem diariamente em diferentes plataformas. É assustador.

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Do bizarro ao aterrador

Bizarro, ao contrário do que se pensa, não significa apenas algo estranho ou anormal, significa também corajoso ou alguém que se arrisca (entre outros). E sim, tem que ser muito arriscado e muito corajoso para compartilhar todos os seus segredos e particularidades nas redes sem medo de zombaria ou assédio.

Sejamos completamente francos, nem todas as pessoas que seguimos e que nos seguem nas redes sociais estão mentalmente saudáveis. E, pior ainda, quantas vezes permitimos a completos desconhecidos que sejam parte de nossa rede social virtual? Muitas vezes.

Não que seja errado tentar fazer amigos on-line, mas nunca sabemos quem está por trás de um perfil nas redes sociais.

No meu caso, uma vez, há muitos anos, quando era mais arriscada, adicionei algumas pessoas em uma rede social que eu não uso mais. Cheguei a receber todo tipo de mensagens, desde simples saudações até propostas ridículas. Um dia fartei-me e fechei a possibilidade de aceitar qualquer desconhecido.

Por que eu decidi fazer isso? Porque eu descobri que pessoas que eu não conhecia poderiam ter acesso a informações minhas que eu não precisava que elas soubessem. Não tinha interesse em que soubessem onde moro ou quem eram meus familiares. Também não queria que soubessem das minhas crenças, gostos e muito menos como sou. Pior ainda, há pessoas que pensam que sabem tudo sobre você por causa de alguns dados que veem no seu perfil de rede social.

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Você está no comando de sua vida e é responsável pela vida de seus entes queridos

Há um fenômeno social que se apresenta há vários anos: pais que expõem seus filhos em redes sociais. Este é denominado sharenting.

Do que se trata? Comecemos por assinalar que a palavra é a união de duas palavras em inglês: share (compartilhar) e parenting (paternidade). Basicamente, consiste em documentar e expor em redes sociais até o mínimo detalhe do crescimento dos filhos. Isso não tem nada de errado quando você compartilha fotos e vídeos de seus filhos com um pequeno número de pessoas: amigos e familiares. A situação muda quando as pessoas que acessam fotos e dados de seus filhos são desconhecidas da internet.

O YouTube e várias outras plataformas estão cheios de perfis de pais que, ao fazerem “vlogs diários de sua vida familiar”, dão acesso a todos os tipos de pessoas a sua “vida íntima”; claro, isso inclui seus filhos.

Quem vê isso e o que esses vlogs documentam?

Quando dizemos “todos os tipos de pessoas”, nelas se incluem os pervertidos sexuais. Pessoas que tiram fotos e vídeos dessas crianças e as usam para preencher fóruns inteiros com informações sobre essas crianças. Todos esses dados são compartilhados até em sites para pedófilos.

Da mesma forma que existem esses tipos de sites na internet, a cada dia há mais pessoas que tentam conscientizar esses pais que expõem seus filhos em redes sociais, dos perigos possíveis. Essas pessoas deram-se a tarefa de caçar e denunciar este tipo de páginas de informação.

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O grande problema é que muitos desses “pais” monetizam a exposição de seus filhos no YouTube, por exemplo. Sim, ganham dinheiro e vivem disso. Sei de canais em que os pais deixaram de exercer sua profissão e agora vivem de expor sua vida privada com os filhos incluídos. São canais abertos há anos, que lotados de vídeos mostrando o nascimento e crescimento de seus filhos. Eles documentam cirurgias, consultas ao dentista, primeiro dia de estudo, tudo.

Não é restringir, é saber compartilhar

Cada pessoa é livre para fazer com suas vidas o que lhes pareça conveniente. Há mulheres e homens que pouco se importam em mostrar fotos pessoais, o que comem e onde vivem. No entanto, há outros que sabem compartilhar sem mostrar demais. Eles expõem pequenos detalhes de seus rostos e de seus animais de estimação. Mostram fotos particulares de lugares que visitam ou até onde compram, mas jamais saberemos a rota ou lugar de residência. Você pode ver partes de suas casas, mas não detalhes específicos. Basicamente, você vê dados da vida deles, mas nada que seja revelador e que os coloque em risco. Esse tipo de vídeo é relaxante e agradável.

O convite é para que saiba o risco que você e a sua família estão correndo ao permitir o livre acesso dos outros à sua vida privada. Escolha bem o que compartilha, com quem você compartilha e, por favor, cuide de seus filhos. Eles estão sob sua responsabilidade e deveriam ter o direito de escolher se querem aparecer em um vídeo ou foto. Apenas, escolha bem.

Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original ¿Sabes cuánto saben de ti los extraños debido a tus redes sociales?

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.