Todos somos vilões em uma história mal contada

Só se sabe quem é ou não o vilão da história quando se conhece o ponto de vista de todos os envolvidos.

Erika Otero Romero

“O lobo sempre será o malvado se Chapeuzinho é quem conta a história”

Frase popular

Sempre me importunaram as injustiças. Sou desse tipo de gente que defende as pessoas em situações injustas. Sempre que puder, estou ao seu lado, mesmo que as consequências para mim sejam desastrosas.

Uma vez, há anos, tive uma grande discussão com um familiar que mudou para sempre a minha vida. Por conta disso, levei a “fama” de ser alguém agressiva, grosseira e ofensiva; como se dizer a verdade a alguém fosse algo ruim.

É o mundo ao contrário. Muitas pessoas preferem que lhes digam: “chegarei mais tarde”, e que as deixe esperando; ao invés de dizer: “sinto muito, mas não posso ir”. Qualquer pessoa que seja capaz de ser simplesmente honesta, que se rebele ao imposto porque vai contra seus princípios, é o “vilão da história”.

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Toda história sempre tem dois lados

Costuma-se dizer que a verdade é relativa e que é como uma moeda: tem duas faces. Ouso levá-la mais longe: uma verdade terá tantas versões, quanto tem participantes. Em algumas dessas versões, às vezes seremos os bons e em outras, nem tanto.

A verdade é que ganhar o título “do vilão do filme” é fácil; basta que seja esse tipo de pessoa a quem não é difícil se fazer respeitar. Também basta que seja o porta-estandarte da verdade ou que se recuse a atender às expectativas de alguém para ser o mau da fita.

Eu, a má da história

Quando estava na faculdade, tinha duas colegas que eu considerava minhas amigas, eu estava errada. Elas gostavam de organizar saídas, e em uma ocasião, convidaram-me para ir ver um filme, eu aceitei. Como durante meu tempo de estudante universitária meus ganhos eram escassos, eu tinha que fazer malabarismos para chegar ao fim do mês. O ponto é que elas ficaram de me pegar de carro todas as manhãs para me levar à universidade (por um tempo limitado, é claro) para que eu pudesse economizar esse dinheiro para o dia da saída.

A situação é que, ao mesmo tempo, minha mãe adoeceu, e tive que usar o dinheiro economizado para levá-la ao hospital. Foi assim que chegou o dia da saída e tive que lhes dizer que não podia ir porque tinha que usar esse dinheiro na saúde da minha mãe. Se uma amiga me tivesse dito isso, eu teria compreendido, mas elas não o fizeram. Zangaram-se e reclamaram; suponho que se sentiram usadas, mas a realidade é que não foi assim porque o seu “trabalho humanitário” apenas durou uma semana.

Problema e resolução

A verdade é que sempre que podiam, elas falavam nisso. Nenhuma das duas hesitava em falar mal de mim, reputação que me seguiu até o final do curso. Eu não vou fingir ser uma pessoa que sabe suportar calada o que os demais dizem dela. Apenas sei quando me calar e quando devo me defender, e o fiz.

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Foi o dia em que finalmente íamos entregar a tese. Elas que eram muito dadas “ao diálogo” esclarecedor – esse tipo de conversa onde um ataca e o outro não tem como defender-se porque o atacante é o “dono da verdade”. A questão é que elas não sabiam que eu estava ciente de tudo o que disseram e fizeram contra mim, especialmente uma delas.

O problema é que não imaginaram que eu tivesse argumentos válidos para me defender. Depois de cada acusação que me fizeram, chegou uma defesa que não souberam refutar. Sem insultos, mas sim com firmeza em minha voz, fiz-lhes saber tudo o que pensava delas e que além disso era conhecedora de seus comentários venenosos e de sua má atitude. Esse foi o dia que dei por terminada a minha “amizade” com elas.

Para ser honesta, pouco ou nada me importa a opinião que os outros possam ter de mim. A razão é que assim como algumas pessoas pensam que sou “um amor”, outras me veem como um ogro. Mas, como os outros me veem, isso não me define, nem a você e nem a ninguém.

O problema são as expectativas

A situação é que muitas pessoas têm o mau hábito de esperar coisas de você que às vezes até você mesmo desconhece. Acontece em todas as relações humanas, e se você não cumprir com as expectativas que lhe depositaram, então você será mau, tóxico, sem consideração e até ingrato.

Errado! Ninguém lhe deve nada e você não deve nada a ninguém. Você não tem que cumprir com o que os outros esperam de você, assim como não deve esperar que alguém faça o que você espera. A sua felicidade e a de ninguém deve depender de outra pessoa mais do que de si mesmo.

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É justo que esperemos algo de alguém, mas é justo também que a outra pessoa saiba o que espera. Se as coisas não acontecem, isso não deveria ser problema, mas muito menos deve ser motivo para ferir alguém por que ele não fez o que você esperava.

Como os outros o veem, não é quem você é na realidade

Lembre-se: os outros tendem a se refletir em você. Geralmente, quando alguém não gosta de você, ele vê em você algo em si mesmo que não gosta. No entanto, isso não lhe define, mas os define, tanto no que há de bom como no que há de mau.

Por isso, se o criticam e tentam muda-lo, não deixe que isso o afete. As pessoas fazem coisas, mas você escolhe se o que fazem irá afetá-lo ou não.

Ser alguém genuíno e que não abre mão de seus princípios e valores é para os corajosos. Por isso, jamais aja simplesmente para satisfazer os desejos ou necessidades de alguém se isso vai contra seus princípios ou ideais, não importa que isso lhe torne o lobo mau da história. Ser o lobo é, às vezes, o que o torna especial.

Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original Todos somos malos en una historia mal contada

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.