Sentir pena de si mesmo – veja como isso pode destruir sua vida

"A autopiedade é facilmente o mais destrutivo dos narcóticos não-farmacêuticos; é viciante, dá prazer momentâneo e separa a vítima da realidade." John Gardner

Stael Ferreira Pedrosa

Todos têm problemas, isso é um fato. Então por que algumas pessoas parecem mais ou menos infelizes que outras? Seria o tamanho ou a quantidade de problemas? Certamente que não, já que cada um sabe a sua dor e não existe, na verdade, um problema maior que outro. Existe, sim, a capacidade de suportar de um maior que a de outro.

Por isso é necessário desenvolvermos alguns sentimentos que nos ajudam a enfrentar os problemas que se apresentam diante de nós. O primeiro deles é a autocompaixão. 

Autocompaixão

Segundo a psicóloga Míriam Rodrigues, autocompaixão é um sentimento saudável de ser paciente com nossos erros, olhando-nos e olhando a situação com olhos compassivos, sabendo que todos erram, todos enfrentam problemas e isso não nos torna pior ou melhor que ninguém, e que é essencial construirmos a autocompaixão para o nosso processo de bem-estar.

A autocompaixão também nos faz desenvolver a autocrítica positiva, ou seja, olhar para nossos problemas, analisá-los, ver onde erramos, reconhecer nosso erro ou parte no erro e corrigir o máximo possível. Se for algo com que temos que conviver, fazê-lo da melhor maneira possível, olhando por um ângulo mais otimista.

Autocompaixão não é autopiedade

É bom deixar claro que sentir compaixão por si mesmo, corrigir-se amorosamente, cuidar-se, proporcionar-se uma vida melhor e mais aceitação não significa sentir dó de si mesmo. Este é um erro que algumas pessoas cometem. É necessário saber distinguir um do outro. A autocompaixão é positiva e dá forças para enfrentar problemas. A autopiedade é destrutiva e pode se tornar um vício.

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Na visão de Stephen John Fry, um comediante, escritor, ator, poeta e personalidade da TV inglesa  “este é certamente o vício mais destrutivo, mais do que orgulho, que é, supostamente, o número um dos pecados capitais – é a autopiedade. Autopiedade é a pior emoção possível que alguém pode ter […] na verdade, o ódio é um subconjunto da autopiedade e não o contrário. Ela destrói tudo ao seu redor, exceto a si mesma”‘.

A autopiedade nos coloca na posição de vítima passiva do que acontece de ruim ao nosso redor. Ao nos colocarmos nessa posição, perdemos o poder de agir, afinal, nada é culpa minha, os outros me fizeram algo, o problema está no exterior e está fora do meu alcance solucioná-lo.

Nós nos tornamos vítimas do acaso, do destino, das outras pessoas e nada nos resta a não ser lamentar. Com certeza, esse sentimento nos tornará pessoas cada vez mais infelizes, mais amargas e revoltadas contra tudo e todos – até contra Deus.

Autopiedade é destrutiva

Tais sentimentos são como uma bola de neve descendo de uma montanha, vai crescendo e destruirá qualquer coisa boa que encontre pelo caminho, ficando só ela mesma.

E é tão simples imaginar porque é difícil reagir, é porque o indivíduo sente que as coisas e pessoas são injustas, que ele é subestimado e que, se alguém fizesse alguma coisa para ajudar, ele seria mais feliz. Mas, não, ninguém ajuda, ninguém faz nada por ele, é um injustiçado e outros sentimentos negativos. Alguns deles podem até ser verdade, pode nos deixar para baixo, mas ter piedade de si mesmo é trazer uma tragédia para a própria vida.

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Quem sempre se coloca como vítima das situações não se sente capaz de enfrentar os desafios da vida, encontrando culpados para justificar seus fracassos

A solução, diz Stephen Fry, seria trazida em um livro: Como ser feliz, por Stephen Fry. Segundo ele, o livro seria um sucesso. E ele conta como seria esse livro: Na primeira página, eu escreveria ‘Pare de sentir pena de si mesmo – E você será feliz ‘. Use o resto do livro para escrever seus pensamentos e desenhos interessantes”.

O que fazer para nos livrar da autopiedade?

Tudo começa com o reconhecimento de que existe um problema, senão nada acontecerá. De acordo com Míriam Rodrigues, devemos olhar para o sentimento doloroso como algo que está acontecendo apenas no momento presente – não fugimos nem tentamos suprimi-los, pois isso, sim, seria negativo. Olhamos de frente para o sentimento desconfortável, sem julgamentos. Sem procurar culpados.

1. Buscar não se identificar com a situação

Quando olhamos para o sentimento de maneira estreita, não vemos todos os ângulos do problema. É necessário um multifoco para identificar o que exatamente está causando a autopiedade. Será que somos realmente vítimas? Não há nada que eu possa fazer para solucionar os problemas? O que eu fiz (somente eu) para estar nessa situação? O que eu posso fazer para sair dela?

2 Mindufulness – atenção total

Quando se dá atenção total ao problema em pauta, a pessoa na postura de mindfulness olha e pensa: “eu errei; é ruim errar, mas estou aprendendo com essa experiência”, o que possibilita uma visão mais realista do mundo. Os erros e os problemas são fundamentais para o processo de evolução do ser humano.

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Mas quando a pessoa olha apenas de maneira estreita pensa: “sou um fracasso, faço tudo errado”, isso aumenta o sofrimento e a sensação de ser vítima. Estas palavras, assim como a lamentação e culpar os outros, não vão ajudar em nada. Apenas pioram as coisas e embotam o pensamento.

Não importa quais foram os acontecimentos que levaram alguém à autopiedade. Se a pessoa não os enfrenta, eles permanecerão ali na memória, produzindo dor e mecanismos inconscientes de proteção (culpar outros, por exemplo).

É necessário um trabalho de profundo autoconhecimento, ressignificar situações, relacionamentos e traumas que possam estar gerando a autopiedade e substituí-la pela autocompaixão, se você deseja uma vida mais alegre e mais leve. Se não consegue, busque ajuda psicológica.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.