São traços de personalidade ou traços de ansiedade? Descubra

A ansiedade é um transtorno com o qual você pode aprender a conviver se souber lidar adequadamente com ela.

Erika Otero Romero

O corpo humano é sábio. Do cérebro à parte mais “insignificante” do corpo, é incrivelmente adaptável.

Algum tempo atrás, li em um jornal médico sobre uma cirurgia que foi feita em uma garotinha. Nela foi extraída um hemisfério cerebral. A operação foi necessária porque a menina sofria de graves crises epilépticas que tornaram sua vida miserável. Os pais concordaram com o procedimento, mas com medo. Eles temiam que ela tivesse sequelas sérias, mas isso não ocorreu.

O hemisfério funcional “ativou” áreas específicas para “substituir” aquelas que foram retiradas na operação. Com o passar do tempo e a devida recuperação, a menina parou de ter convulsões. Ela agora desfruta uma vida saudável com todas as suas habilidades em pleno uso.

Desde a situação mais grave até a menor lesão, o corpo “se organiza” para compensar o dano. Quando você tem um pé lesionado, você compensa colocando seu peso no lado oposto.

A mesma coisa acontece quando sofremos de ansiedade: o corpo se ajusta ao estresse para seguir em frente. Com o tempo, esses comportamentos adaptativos tornam-se hábitos de personalidade; mesmos que o ajudem a lidar com o desconforto causado pela ansiedade.

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Como é viver com ansiedade?

É complicado, mas pode passar despercebido, muitas vezes; esse foi o meu caso.

Durante anos, vivi com pequenos momentos de ansiedade aos quais não dava importância. Simplesmente adaptei-me a eles para tornar o meu dia a dia mais suportável. Eu soube o que era realmente uma crise de ansiedade quando comecei a apresentar sintomas mais fortes em plena pandemia.

Houve momentos em que tive que me enrolar para não cair no chão enquanto chorava, porque sentia um medo inexplicável. Isso se tornou uma coisa diária, até que eu tive que fazer algo para controlar os ataques.

Hoje, sei que muitos dos meus “traços de personalidade” nada mais são do que adaptações do meu cérebro à ansiedade. Além disso, quase todos nós que sofremos de ansiedade temos as características que descrevo abaixo:

Perfeccionismo

Se você é do tipo que nunca está satisfeito com o que faz, mesmo depois de repetir algo várias vezes porque “sente” que não foi bem feito, você é perfeccionista.

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O nível de exigência não é apenas direcionado a si mesmo, mas também aos outros. Por isso, as pessoas o veem muitas vezes como uma pessoa autoritária e rígida.

Quando você é perfeccionista, tem dentro de si uma sensação constante de que as coisas nunca estão completas. Viver assim é terrível, porque você pode acabar deixando as coisas inacabadas por nunca ficar satisfeito.

Para muitas pessoas, essa característica pode ser boa, porque, em se tratando de trabalho, você sempre dá 110%. O problema é quando você aplica o mesmo nível de exigência aos outros. Você pode ser considerado um pouco cruel. Isso porque é insustentável e desnecessário manter esse ritmo. Você não consegue viver em um estado constante de controle e exigência, pois é exaustivo. Você pode diminuir um pouco seu perfeccionismo quando escolhe ter mais consideração com os outros e consigo mesmo.

Resistência à mudança

As mudanças são insuportáveis ​​para alguém com ansiedade. Sair da zona de conforto é avassalador. Prefiro o “velho conhecido do que o novo a ser conhecido”. Sim, somos resistentes à mudança porque somos atormentados pela incerteza.

Gostamos de nossas rotinas porque sabemos o que esperar delas. Achamos difícil nos adaptar a situações que não podemos controlar. Pelo menos eu fico muito incomodada quando chegam visitas inesperadas.

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Vício em trabalho

Estamos sempre fazendo alguma coisa. A questão é que achamos que, se não cuidarmos nós mesmos das coisas, não vamos terminá-las a tempo. Quando terminamos algo, sempre há algo mais para fazer.

É muito comum assumirmos mais responsabilidades do que o necessário. Também, que nos comprometemos com muitas coisas e, no final, acabamos extremamente exaustos. Isso é gerado pela sensação constante de que podemos dar conta de tudo; apenas para lidar com a “necessidade” de ter tudo sob controle.

Procrastinação

Por estereótipo, acredita-se que a pessoa que procrastina é preguiçosa, e nada poderia estar mais longe da verdade. Cada pessoa lida com o estresse de forma diferente; e é assim que as pessoas com ansiedade fazem.

É comum que, sob a pressão de terminar algo no prazo, às vezes deixemos uma atividade para depois. Nesse meio-tempo, podemos assistir algo na TV, ouvir música ou até mesmo dormir um pouco. Em seguida, retomamos a atividade.

No meu caso, causa-me muito mais estresse deixar minhas responsabilidades para o final; então, eu acabo me saturando de trabalho para terminar o mais rápido possível. Muitas vezes eu durmo entre as atividades, mas nunca atropelo o tempo, pois não quero lidar com um ataque de ansiedade.

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Esse é o problema da procrastinação: ela torna a ansiedade maior e mais complexa de gerenciar.

Introversão

Eu sou introvertida. Eu gosto de manter meus sentimentos e pensamentos para mim.

Isso não é um problema quando a vida é boa; o caso é diferente quando temos problemas com outras pessoas. Pensamentos destrutivos e emoções negativas nos desgastam bastante . É muito possível que tenhamos pensamentos suicidas.

Convido-o a conversar com alguém de sua confiança sobre como se sente; isso alivia a pressão das emoções reprimidas e torna a carga emocional mais leve.

Vontade de agradar

Muitos de nós são amigáveis ​​e prestativos. No entanto, isso pode se tornar um problema de abuso por parte de outros. Tanto que, se você não fizer o que esperam de você, você se torna uma “pessoa ruim”.

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Confesso que já fiz isso antes, porque achava que era uma forma de “me dar bem”. Quem neste mundo não quer agradar? Todos querem, mas o ponto é que isso pode jogar contra você. Você se torna tão gentil, que carrega mais peso do que pode suportar. O problema surge quando você percebe que muitos abusam da sua boa vontade, e você dá um basta. Então, passa a ser vista como uma “pessoa má”.

O ponto chave é conhecer seus limites; ser gentil sem exceder suas próprias habilidades.

Resta-me salientar que você sempre pode se tornar uma versão melhor de si mesmo. Sempre que estiver ciente de suas fraquezas, você pode transformá-las em pontos fortes.

Traduzido e adaptado por Erika Strassburger, do original 7 señales de que estás agotado emocionalmente y qué hacer

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.