Praticando o desapego: Como deixar de ser um acumulador de objetos

Qual a diferença entre ser um colecionador e um acumulador? Onde termina um e começa o outro? Cuidado com a mania de guardar tudo achando que será útil um dia. Pode ser doença.

Stael Ferreira Pedrosa

Há alguns meses, uma amiga pediu-me que eu arrumasse o seu guarda-roupa, já que tenho habilidade de organização. Pensei que era só para organizar algumas roupas que deviam estar jogadas no armário. Ao abrir as portas, fui ficando assustada com o que via. Era impossível encontrar uma determinada peça, ou ter algum espaço para organizar seus cosméticos. Eu nem imaginava onde estavam suas peças íntimas, meias ou casacos. Era uma “massa” de tecidos, bolsas, sapatos, cachecóis, lenços e tudo que se pode ter em um armário de quarto.

Depois de separar em montes de acordo com o tipo de objeto, eu comecei a organizá-los dentro das repartições corretas, mas o que me espantou é que havia mais bibelôs do que eu imaginava, mais bijuterias e bolsas do que ela poderia usar em 10 anos. Havia bonecas que ela ganhara de presente há mais de 30 anos. Caixas de presente vazias, batons tão velhos que já cheiravam mal, roupas estragadas, roupas muito velhas que nem serviam mais para serem usadas. Comecei a perceber um problema ali. Fui separando o que eu considerava inútil e coloquei em uma grande caixa. Isso incluiu arranjos de flores artificiais, vidros de perfume vazios e muitas outras tralhas. Aquele armário enorme era um depósito de lixo.

Horas depois, quando terminei de arrumar e organizar tudo, parecia que o armário se expandira. A roupa íntima estava organizada em gavetas, as camisetas em prateleiras, as calças no calceiro, sapatos na sapateira, casacos e vestidos nos cabides, bolsas e malas em seus respectivos lugares. Coloquei as bijuterias em bonitas caixas artisticamente decoradas. Estava lindo!

Chamei minha amiga para ver a obra de arte que eu fizera. Ela adorou, mas parecia preocupada. “O que você fez com as minhas coisas?”, perguntou. Disse-lhe que o que não estava bom para uso, coloquei na caixa para ser jogado fora. Ela quase surtou. “São minhas coisas, eu gosto delas e pode ser que eu venha a precisar.”

Ela dissera a frase mágica que tornou minhas suspeitas em certeza. Minha amiga se tornara uma acumuladora.

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O que é isso?

Disposofobia

É o nome da compulsão que acomete mais pessoas do que suspeitamos. Geralmente é mais comum em idosos, mas pode se manifestar nos mais jovens que sofrem de transtorno de ansiedade, depressão ou se sentem privados de algo. Geralmente são pessoas solitárias ou que têm problemas de interação social, tanto pela compulsão em si (que causa bagunça e vergonha de receber pessoas) quanto por dificuldades de relacionamento que o distúrbio traz.

O apego exagerado aos objetos pode ter raízes psicológicas, como sofrimento por perda de pessoas queridas, síndrome do ninho vazio ou medo do futuro. Na maioria dos casos, o diagnóstico é TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo. Esse vazio interior é preenchido pelo acúmulo de objetos. Segundo o psicoterapeuta do Hospital das Clínicas Geraldo Massaro, “essas coisas passam a ser uma extensão da própria pessoa, é por isso que, para elas, é tão difícil se desfazer delas.”

Como reconhecer essa compulsão?

Caso você ou alguém que você conhece apresente sinais como:

  • Pegar coisas no lixo que podem ser “reaproveitadas”.

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  • Guardar caixas vazias, embalagens descartáveis ou de presentes e dizer que podem ser úteis um dia.

  • Dificuldade de se livrar de objetos.

  • O acúmulo começa a incomodar e obstruir espaços.

Em casos mais graves:

  • As pessoas já notam um transtorno mental.

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  • O acesso à residência ou a compartimentos da casa fica obstruído devido ao acúmulo de objetos,

  • A vida se torna insalubre com acúmulo de alimentos estragados e medicamentos vencidos, dificuldade para limpar a casa e mau cheiro.

  • Ter muitos animais tais como gatos e cães e não cuidar corretamente deles.

  • O não reconhecimento do problema.

Para evitar chegar a extremos, é bom tratar aos primeiros sintomas

  1. Evite guardar pacotes só porque são bonitos e parecem úteis sem ter em mente o que fazer deles.

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  2. Faça uma limpeza em seu guarda-roupa e doe tudo que você não utiliza há mais de seis meses: roupas, sapatos, casacos, etc.

  3. Enfrente o “quartinho da bagunça” e jogue fora o que estiver quebrado, estragado, que ninguém usa mais. Isso inclui brinquedos das crianças, jogos, monitores, impressoras, etc.

  4. Gavetas de papéis costumam acumular cartões de natal, papéis de carta que nunca são usados, tickets de supermercado, recibos de banco. Se não tiverem informações sigilosas, livre-se de tudo.

  5. Mantenha a casa organizada, tendo um lugar para cada coisa e mantendo cada coisa em seu lugar.

  6. Não confunda aquela coleção de tampinhas de refrigerantes do seu marido com acumulação. Só é acumulação quando não existe um objetivo específico ou são acúmulos aleatórios e desorganizados.

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  7. Caso a pessoa sinta-se mal ou tenha dificuldades em se livrar dos objetos, procure ajuda de um terapeuta. Talvez seja depressão, ansiedade ou TOC.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.