O mal de muitos relacionamentos: o castigo cruel da indiferença

Ignorar quem você ama não evita nem diminui os problemas, torna-os maiores e deixam feridas profundas.

Erika Otero Romero

Houve uma época em que vivi um amor ruim. Estava tão apaixonada que não percebia que era maltratada por ele. Cheguei ao ponto de tolerar o que um dia disse que não suportaria de ninguém.

Se eu fazia algo que o deixava irritado, ele simplesmente me ignorava. Ele passava dias me punindo com sua indiferença. Era como se eu não existisse. Sua atitude feria profundamente. Enquanto eu me afogava em sofrimento, ele continuava sua vida como se nada estivesse acontecendo.

Não obstante, depois de muitas lições aprendidas, um dia me despedi dele. Foi quando a situação mudou. Foi ele quem começou a me procurar. Ele já estava em um relacionamento sério e eu não sentia mais nada por ele.

Foi então que entendi uma frase que minha mãe sempre dizia: “Carícias geram amor”. E, de fato, eu não poderia dar a ele mais do que recebi dele.

O castigo cruel da indiferença

Somos vítimas e algozes. Todos nós já estivemos no lugar de um ou de outro. O mais triste é que, embora saibamos que dói ser tratado com indiferença, muitas vezes não evitamos tratar da mesma maneira.

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De jeito nenhum estou justificando esse comportamento. Não é bom tratar nem ser tratado assim. É exatamente por isso que devemos evitar ser indiferente com alguém.

O pior é que não costumamos considerar agressiva essa forma de tratamento. Isto porque o dano que causa não pode ser visto facilmente. Porém, as feridas que deixa são profundas e difíceis de curar, tanto no relacionamento quanto na pessoa.

Não há agressão física, mas é violência

Imagine-se discutindo com alguém da família, alguém com quem tenha menos afinidade, embora a ame. Há um mal-entendido devido a algo que você disse e que foi interpretado incorretamente, e você tenta esclarecer a situação. Embora tenha tentado consertar o problema de várias maneiras, você não consegue, pois toda vez que tenta se aproximar, essa pessoa o ignora. Você se tornou literalmente um fantasma.

Sei que isso já aconteceu com você. Lembra-se de como se sentiu? Talvez frustrado? Impotente? Sei por experiência própria que às vezes dá vontade de gritar, de pegar a pessoa pelos ombros e sacudir para que ela não passe reto por você, mas pare para ouvi-lo. No entanto, você não o faz porque sabe que pode piorar as coisas.

Muitas vezes, essa pessoa volta a falar com você como se nada tivesse acontecido. Isso gera mais incógnitas na sua mente, mas você opta por ficar quieto. O resultado de agir assim é acabar gerando muito mal-estar. Aos poucos você segue adiante, mas não é a mesma coisa, pois você não se sente bem, o que aconteceu pesa sobre você.

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A verdade é que quando se assume esse tipo de atitude, muito estresse e sofrimento são gerados. Estresse, porque é uma situação que reduz seu bem-estar; e sofrimento, porque quem nesta vida gosta de ter conflitos com a pessoa amada?

Ao ignorá-lo, você acaba sendo anulado

Anular uma pessoa significa tirar sua autoridade ou importância. Em outras palavras, é fingir que essa pessoa simplesmente não existe. Este é um ataque passivo, mas mortal, à identidade da pessoa ignorada. Quem sofre esse tratamento tende a não se defender. Não se defende por saber que não haverá nenhum tipo de resposta de seu agressor, apenas silêncio.

Por que as pessoas não se defendem de ataques? Porque, ao serem ignoradas, o que é um tipo de abuso muito comum, elas perdem o amor-próprio.

Ignorar conscientemente as reivindicações de um ente querido é o mesmo que desprezar sua presença. Qual o sentido, então, de expressar o que você pensa ou sente se não vai haver nenhum tipo de resposta?

O que a atitude de ignorar revela sobre uma pessoa?

O “tratamento de silêncio” ou castigar com o “chicote da indiferença” mostra que essa pessoa não sabe comunicar suas insatisfações.

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Pode ser que tudo o que ela deseje seja não discutir, mas essa também não é a maneira certa de resolver um problema. Ignorar alguém também não é uma técnica para ajudar o outro a mudar o comportamento. É maltrato, é humilhar, é fingir que o outro não existe.

Além de denotar dificuldade de comunicação, esse tipo de tratamento revela profunda insegurança.

Muitas vezes, as pessoas se calam para evitar o agravamento de um problema; isso é sensato. Por exemplo: digamos que você discuta com seu parceiro. Você sente que as coisas estão ficando fora de controle e que pode acabar dizendo coisas realmente ofensivas. Então, você decide dizer que é melhor conversarem em outro momento.

Muito diferente é tratar o outro com indiferença quando ocorre um desentendimento. É dar um tratamento de silêncio: eu não escuto, não falo e, portanto, não há problemas.

Resolvendo os problemas

A única maneira de resolver os problemas é ouvir ativamente, sem interromper. Obviamente, você deve receber o mesmo tratamento respeitoso de escuta ativa, que lhe dá a certeza de que suas palavras não estão sendo “lançadas ao vento”.

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Quando se comunicam dessa maneira, os dois podem encontrar uma solução eficaz para o problema. Nesse tipo de intercâmbio de ideias, não há mágoas ou aborrecimentos cumulativos, apenas reconciliação.

Traduzido e adaptado por Erika Strassburger, do original El mal de muchas relaciones: el cruel castigo de la indiferencia

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.