Memórias negativas não são ruins quando você sabe como lidar com elas

Suprimir ou curar? Você escolhe o que mais lhe convém em seu processo de aprendizagem e crescimento.

Erika Otero Romero

Absolutamente todos temos lembranças que não são agradáveis. Pode tratar-se de experiências traumáticas ou simples experiências embaraçosas que, cada vez que vêm à nossa mente, geram vergonha.

Lidar com essas memórias pode ser cansativo e gerar um fardo que não temos que suportar. O problema é que essas memórias são um problema porque geram bloqueios que impedem que sejamos felizes, que avancemos, que muitas vezes nos impedem de nos relacionarmos efetivamente.

Agora, o que você pensaria se eu dissesse que existem maneiras de mantê-las na linha ou até mesmo esquecê-las? Pelo menos é o que vários estudos científicos revelam.

Memórias negativas e ciência

Há vários estudos sobre isso. Um estudo baseado na análise do cérebro realizado na Universidade Normal de Pequim, China, descobriu que:

  • Uma longa noite de sono consolida a memória e dificulta a supressão de emoções negativas associadas a certas vivências traumáticas.
  • À noite, o cérebro reorganiza a informação recebida durante a vigília. Esta informação é armazenada nos canais da memória a longo prazo. Acontece que esse mecanismo faz com que a remoção de memórias negativas (uma capacidade crucial para a saúde mental) seja mais complicada, porque a memória tem tempo de se consolidar durante o descanso.

O estudo consistiu em fazer com que os participantes memorizassem associações entre duas imagens, um rosto “neutro” e uma figura “desagradável”. Desta forma, ao observar mais tarde uma das faces, pensarão de forma automática numa ideia aversiva.

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Os cientistas descobriram que quando os participantes tentaram suprimir a relação entre um rosto e uma emoção negativa, aqueles que afirmavam ter dormido toda a noite tiveram mais problemas para desfazer a associação na sua memória.

Eles concluíram que “a atividade do cérebro durante essa tarefa mostra que os circuitos neurais envolvidos na supressão da memória, que inicialmente se localizavam no hipocampo, se transformaram para um padrão mais distribuído ao longo do córtex após o sono. Essa mudança parece ser aquilo que torna mais difícil suprimir as lembranças negativas”.

Experiências ruins, aprendizagem e transformação

Se há uma coisa que as más experiências têm, é que, além de colocá-lo em maus lençóis, também traz aprendizado e crescimento. Sei o que isso parece, mas a vida torna-se mais simpática quando se aprende a dar um novo significado aos eventos infelizes que acontecem.

Como se consegue isso? Simplesmente observando atentamente a mudança surgida em você graças a esse evento nefasto. Com os eventos desagradáveis sempre ficam duas coisas: dor e experiência (aprendizagem).

Se nos empenhamos em viver com dor pelo que aconteceu, estamos “revivendo” a má experiência repetidas vezes. No entanto, quando você admite que, sim, sofreu danos, mas graças a isso se tornou mais forte, então essa dor que o fez miserável também o transformou num ser humano mais valente e capaz.

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Agora, é sempre nossa escolha fazer todo o esforço possível para não nos lembrarmos daquilo que nos magoou. A questão é que precisamos sentir que é bom esquecer as memórias que nos causam dor.

É bom esquecer as memórias de propósito?

O Dr. Roland Benoit, chefe do Grupo de Pesquisa da Memória Adaptativa do Instituto Max Planck de Ciências Cognitivas e Cerebrais, explica que o esquecimento também não é positivo.

A questão é que os seres humanos não funcionam como máquinas. Nosso cérebro não esquece, reprime; nós não podemos “ativar” um comando e por ato mágico perder as lembranças.

As memórias, sejam elas quais forem, são necessárias porque enriquecem a nossa vida. Sim, é verdade que há acontecimentos que ninguém deveria ter experimentado na vida. Apesar disso, o melhor que podemos fazer é processá-los, assumi-los e aprender com eles. Quando se faz esse processo, essas lembranças negativas nos fortalecem, não nos enfraquecem.

Deve-se ter em mente que os seres humanos têm um grande poder de decisão. Podemos sempre escolher o que nos afeta e o que não deixamos que nos magoe.

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Se um evento do passado nos é particularmente doloroso e limitante, podemos recorrer a terapia psicológica. Isso nos permitirá curar as feridas, perdoar-nos (se nos culpamos pelo ocorrido) e remover bloqueios. Essas ações são muito mais eficazes do que tentar esquecer algo que não queremos lembrar.

Lembre-se de que a finalidade deste plano existencial é aprendermos a ser melhores seres humanos. Esse processo não é fácil de nenhuma maneira; apesar disso, torna-se mais suportável quando se deixa o papel de vítima.

Se algo é verdade, é que em muitas das coisas que vivemos não tivemos responsabilidade. No entanto, ao lidar com essas memórias, nossa responsabilidade é curar as feridas emocionais. Assumir essa responsabilidade nos dá o poder de controlar e curar; é algo sobre o qual temos controle. Quando nos damos conta de nosso poder interior, podemos curar e seguir adiante sendo mais fortes e valentes.

Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original Los recuerdos negativos no son del todo malos cuando sabes cómo manejarlos

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.