Esôfago de Barrett: se você sofre de refluxo estomacal está em sério risco e deve ler isso

Não importa o problema de saúde, tudo vai melhor quando se trata no início

Stael Ferreira Pedrosa

Há alguns anos, precisei fazer uma intervenção cirúrgica no estômago e após esse evento comecei a ter refluxo gastroesofágico e mesmo vômitos recorrentes.

Os vômitos não têm uma ligação direta com a cirurgia, pois foi uma consequência psicológica de histórias ouvidas antes, de que pessoas já haviam morrido por comerem algo que não deviam no pós-cirúrgico. Passei a ter medo de qualquer coisa que comesse e, consequentemente, a vomitar o alimento.

Com tratamento psicológico acabei por me livrar do problema dos vômitos, embora ainda aconteça algumas vezes, mas nem se compara ao que era antes. No entanto, os refluxos ainda continuaram.

Em uma das vezes em que procurei atendimento médico, a profissional que me atendeu pareceu bastante preocupada com o meu caso, já que, segundo ela, refluxos e vômitos recorrentes podem causar uma condição grave chamada “Esôfago de Barrett”. Este é um problema pouco conhecido, por isso aqui estão algumas perguntas comuns que podem ocorrer a quem sofre com refluxos:

O que é “Esôfago de Barrett”?

De acordo com o site de artigos científicos SCIELO, O Esôfago de Barrett ou Síndrome de Barrett é uma condição patológica adquirida, em que o tecido que recobre o esôfago é substituído pelo tecido chamado “epitélio colunar”, próprio do intestino. O nome é em homenagem ao Dr. Norman Barrett, um cirurgião australiano que descreveu a doença pela primeira vez em 1957.

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Como isso ocorre?

Segundo a autora do artigo científico, Maria Aparecida Marchesan Rodrigues, que é Professora-adjunta e livre-docente em Patologia do Departamento de Patologia da (FMB/Unesp), essa condição ocorre em pacientes que apresentam refluxo gastroesofágico de longa duração.

Segundo a médica, esta é uma resposta do organismo para se adaptar à agressão que o ácido estomacal causa quando “sobe” junto com o refluxo para as paredes do esôfago – que não é própria para suportar tal grau de acidez. Por isso sente-se ardor, ou acorda-se no meio da noite com tosse e falta de ar.

Quem pode desenvolver o Esôfago de Barrett?

Ainda de acordo com Maria Aparecida, qualquer pessoa que sofra de refluxo, seja por hérnia de hiato, ou por alguma dificuldade de fechamento do esfíncter inferior do esôfago que permite que o líquido que está no estômago volte para o esôfago.

Qual o maior risco ao se desenvolver o Esôfago de Barrett?

O maior risco desta condição é o desenvolvimento de um tipo de câncer chamado adenocarcinoma de esôfago, que os pacientes de EB podem desenvolver, bem como câncer de estômago e displasia (um tipo de lesão de tecidos que pode evoluir rapidamente para se tornar um tumor maligno).

Isso significa que todas as pessoas que têm refluxo terão câncer?

Felizmente não é bem assim. Acredita-se que apenas 10% das pessoas que desenvolvem o Esôfago de Barrett e não se tratam, terão câncer. E estas são estimativas imprecisas, visto que não existem estudos suficientes para relacionar o número total de pacientes com EB em relação aos que desenvolvem adenocarcinoma de esôfago.  No Brasil, a maioria dos estudos sobre o problema têm como foco a conduta (tratamento), deixando negligenciados outros aspectos do problema como o número de pessoas afetadas e a incidência de doentes que desenvolvem câncer.

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No entanto, todos os estudos revelam correlação entre o refluxo e o esôfago de Barrett, e do esôfago de Barrett com a displasia e desta com o adenocarcinoma. Por isso, devido ao potencial de transformação do problema em câncer, a doença demanda monitoração periódica através de um exame chamado endoscopia digestiva alta.

Como prevenir o problema?

Se você sofre de refluxo gastroesofágico, deve procurar seu médico o mais rápido possível e explicar o problema, conversando sobre suas dúvidas e o que pode acontecer e quais procedimentos serão tomados. Certamente o seu médico irá lhe pedir uma endoscopia digestiva alta.

Enquanto aguarda a consulta ou o exame, você já pode tomar algumas providências para diminuir o problema do refluxo e evitar mais agressões ao esôfago. Algumas atitudes ajudam muito, tais como:

  • Se você é fumante, pare imediatamente com o cigarro.
  • Se você consome álcool, também deve considerar essa substância como altamente prejudicial ao seu estado.
  • Evite alimentar-se por pelo menos 2 horas antes de ir dormir.
  • Evite alimentos que estimulam a produção de ácido pelo estômago tais como café, cítricos e pimentas.
  • Evite tomar leite antes de dormir.
  • Divida os alimentos em porções menores e coma de 2 em 2 horas ou de 3 em 3 horas.
  • Coma de maneira calma, mastigando bem os alimentos.
  • Elevar a cabeceira da cama ou dormir recostado.

Prognóstico

O risco de alguém com esôfago de Barrett desenvolver um adenocarcinoma é bem maior (cerca de 30 a 125 vezes mais) do que as pessoas que não têm esta doença. Porém isso não significa que o doente irá desenvolver câncer. De acordo com os médicos cirurgiões gástricos Darwin e Reshamwala, essa possibilidade está estimada em 0,4 a 0,5% por ano em pacientes que têm o problema, mas que realizam o acompanhamento médico.

Ter refluxo, como já dito, não significa que você está condenado a desenvolver esôfago de Barrett e câncer. No entanto, esta é uma condição que demanda cuidados e mudança de hábitos que prevenirão problemas maiores e ainda lhe darão melhor qualidade de vida. Portanto, cuide de si mesmo e viva melhor.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.