Como aprender a amar depois de sofrer violência doméstica

Aprender a perdoar e voltar a amar após sofrer violência no lar, é possível e ajuda no processo de cura.

Stael Ferreira Pedrosa

Não há nada mais devastador que a violência dentro das paredes do próprio lar; seja entre os cônjuges ou outros familiares, a violência é a linguagem do fraco e deplorável em todas as suas formas.

Sofrer violência daqueles que deveriam nos amar e proteger pode deixar sequelas permanentes no corpo e na alma.

Infelizmente esses lamentáveis episódios são um problema mundial, sem considerar nível econômico, cultural, religioso ou status social. As vítimas devem saber que o silêncio é certamente a pior forma de lidar com a agressão no lar. Muitas pessoas não falam por medo, culpa, vergonha ou por achar que ninguém irá se importar. No entanto, olhares atentos de familiares e amigos podem ajudar nesse silencioso desespero.

Violência contra crianças e adolescentes

Os pais podem pensar que uma palmada ou um grito não é violência. Creio que essa questão nunca chegará a um consenso. Estudos indicam que a palmada não educa, conforme artigo dos pesquisadores canadenses Joan Durrant e Ron Ensom sobre castigos físicos baseado em pesquisas realizadas nos últimos 20 anos. (Punição física de Crianças, a lição de 20 anos de pesquisa) entre outros.

Uma criança que não faz algo porque apanhou é uma criança com medo e não disciplinada.

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A dor não é uma forma de ensinar alguém a comportar-se de maneira adequada. Dor física e humilhação não farão de seu filho um ser humano melhor. Há sérios indícios de que isso somente afasta a criança de seus pais emocional e psicologicamente. Impor limites, ensinar pelo exemplo, conversar sobre os problemas, traçar metas de melhora de comportamento exige mais trabalho, empenho e uma melhor atitude dos pais, o que os desencoraja e faz com que prefiram a saída rápida pela “palmada educativa”.

A violência entre os cônjuges

A violência pode ser psicológica ou física, ambas extremamente prejudicais, apesar de a psicológica por vezes ser ainda pior. Caracteriza-se por rejeição, depreciação, discriminação, humilhação, desrespeito e punições exageradas. Trata-se de uma agressão que não deixa marcas corporais visíveis, mas emocionalmente causa cicatrizes indeléveis para toda a vida.

O que deve fazer uma vítima de violência?

Romper o silêncio é o primeiro passo, tendo em mente que a culpa pela atitude do agressor não é sua. O mau trato deve, tanto quanto possível, ser de conhecimento de familiares, vizinhos e pessoas amigas. Não apenas para assistência em caso de necessidade como também para servirem de testemunhas em caso de levar-se à justiça o abuso. O acompanhamento médico e psicológico, bem como o distanciamento do agressor, deve ser considerado imediatamente ainda que não haja marcas visíveis de violência.

Medidas judiciais devem ser tomadas. Se sentir que sua integridade física ou de sua criança, pode estar ameaçada pela denúncia, peça proteção policial e saia de casa.

Após essas questões práticas, deve-se buscar ajuda psicológica para a vítima que deve ser amparada, consolada, fortalecida ao iniciar o processo da mudança interior e o resgate de si mesma. A fé pessoal deve ser utilizada nesse processo.

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A cura pelo perdão

Ainda que a violência doméstica e os abusos sejam um mal, cujas marcas podem permanecer por toda a vida, a vítima pode encontrar conforto e grande parte da cura através do perdão. Perdoar o agressor pode ser difícil e demorar toda uma vida. Não se force a perdoar. Espere, cuide-se, volte a amar-se primeiro e procure viver a vida da melhor forma possível. Para perdoar precisamos estar desconectados, ao menos em parte, da grande carga de emoção negativa que acompanha a lembrança do sofrimento. Não deixe a esperança morrer e nem suas metas e sonhos. Deixe que o tempo amenize o sofrimento e as marcas no corpo e na alma. Então, busque sim a paz interna que advém do perdão sincero.

O que fazer para perdoar o agressor?

Tenha em mente que perdoar não significa ter uma atitude apática para com os erros alheios ou aceitar tudo o que os outros nos fazem de forma passiva e condescendente. Esses são conceitos errados que acabam por dificultar o perdão.

O perdão é uma forma de enxergar o outro compreendendo que todos erram. Uns mais outros menos, mas ninguém é perfeito. Tentar compreender, por mais absurdo que pareça, que aquela pessoa fez o que achava ser certo naquele momento, com o conhecimento que tinha. (Todo agressor acha que está fazendo a coisa certa, ensinando ou corrigindo.) E acima de tudo que o perdão não beneficiará o outro, mas ao que perdoa. Traz alívio, esperança e renova nossa capacidade de amar novamente.

Perdoar é sinônimo de amar

Embora você não tenha um único motivo sequer para amar o que o outro fez, ainda assim pode aprender a amar como Deus ama, ou seja, amar o próximo, independente de seus atos. Livre-se das cargas do passado, e estará pronto para seguir em frente com renovadas forças.

“Aos poucos, estou aprendendo a amar. Estou aprendendo a perdoar, pois o amor perdoa, lança fora as mágoas, e apaga as cicatrizes que a incompreensão e a insensibilidade gravaram no coração ferido.”  Malu Bozzani

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.