Bela, recatada e do lar

A revista Veja trouxe em matéria de capa a foto da esposa do vice-presidente Michel Temer, com o título “Bela, recatada e do lar”. São apenas esses os valores femininos?

Stael Ferreira Pedrosa

A revista Veja trouxe em matéria de capa a foto da esposa do vice-presidente Michel Temer, Marcela Temer, com o título “Bela, recatada e do lar”. É uma bela jovem que com certeza não é fã dos holofotes, já que quase não é vista na mídia.

São poucas hoje em dia as recatadas e do lar em todo o mundo. São mulheres que realmente fazem a diferença ficando em casa, criando os filhos e contribuindo para uma sociedade mais feliz. O recato é uma qualidade admirável num mundo que desvaloriza o corpo feminino e o “objetifica” até para vender cerveja.

Mulheres recatadas e do lar, não pensem que são inferiores às que trabalham, têm uma carreira, ou que não têm filhos, ou ainda àquelas que são famosas e têm vida glamorosa. Mas, também não são superiores. Toda mulher, esteja ela onde estiver, ou fazendo o que faz, é uma filha amada e valiosa para Deus e para quem a ama.

Leia: A missão da mulher

Uma mulher não deve ser considerada valiosa somente por sua contribuição através do trabalho doméstico ou pelo comprimento de sua saia. Existem muitos outros valores que tornam todas as mulheres seres admiráveis. Alguns são:

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Inteligência

É necessário, sem dúvida, ser muito inteligente para ficar em casa e resolver os conflitos que um lar normal traz. A mulher tem que ter jogo de cintura para ser um pouco de tudo. Enfermeira, psicóloga, conselheira sentimental, professora, economista, chefe de cozinha e muitos outros talentos para o bom funcionamento do lar.

Porém, temos que nos lembrar das grandes mulheres que não foram “do lar” e deram valiosas contribuições para a humanidade, além de serem pioneiras em áreas que eram proibidas às mulheres e que sequer são lembradas como Sarla Thakral, a primeira indiana (país que pouco valoriza as mulheres) a conseguir uma licença para pilotar em 1936; Annie Lumpkins, negra e batalhadora pelo voto feminino nos EUA; Annie Fisher a primeira mãe a ir em uma nave ao espaço. Ainda, Jane Goodall, antropóloga, primatologista e defensora dos direitos dos animais e não poderia deixar de citar Marie Curie, que foi a primeira mulher do mundo a ganhar um prêmio Nobel (e em uma época em que apenas homens iam para a universidade). E como não citar Rachel de Queiroz, primeira mulher a entrar para a Academia Brasileira de Letras?

São muitas e não poderia citar todas aqui, em todas as áreas do conhecimento humano, dedicando muitas vezes suas vidas atrás de um microscópio, buscando a cura de doenças ou soluções para os problemas humanos, além de muitas vezes serem também esposas e mães.

Sensibilidade

Sem sensibilidade eu creio ser impossível administrar um lar e uma família. Perceber pelo olhar quando seu marido ou filho tem um problema, ouvir a voz mansa divina na condução do lar ou da família, ser conselheira, amiga, mãe e companheira amorosa.

Mas, essa mesma sensibilidade e amor foram levados ao mundo por muitas mulheres que não eram exatamente do lar. Temos o grande exemplo de Madre Tereza que nunca teve seus próprios filhos, nunca foi “do lar” e no entanto deixou sua passagem marcada na história por seu amor, sensibilidade e compaixão pelos filhos de Deus. Essa mesma sensibilidade fez de Nise da Silveira, a primeira psiquiatra a se recusar usar o eletrochoque para pacientes esquizofrênicos a aplicar a Terapia Ocupacional como alternativa e descobrindo talentos entre seus pacientes. No Brasil, ainda temos Zilda Arns, Irmã Dulce, e tantas outras como exemplo de amor ao próximo e dedicação.

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Coragem e força

Ser mãe e dona de casa envolve muita coragem e força. Não é fácil e nem simples lidar com momentos como a doença ou a perda de um filho, ou mesmo enfrentar uma viuvez e ter que além de cuidar da casa, prover o sustento da família. Amamos e admiramos essas guerreiras e espero que sua jornada diária seja exaltada como deve.

Admiramos também aquelas mulheres fortes que lutaram em guerras, foram enfermeiras e cuidaram de mutilados ou apenas seguraram a mão de um moribundo ferido e longe de casa. Admiramos as mulheres fortes, guerreiras ou políticas que pegaram até mesmo em armas para defender seus valores, sua pátria ou seus ideais. Temos Cleópatra, Joana D’arc, Anita Garibaldi, Maria Quitéria (a Joana D’arc brasileira), Indira Ghandi, Benazir Bhutto, Dilma Roussef – primeira mulher presidente do Brasil e muitas outras. E o que dizer de Malala Yousafzai a menina de 15 anos que desafiou o Talibã no Paquistão e acabou sendo baleada na cabeça porque queria estudar. Ela sobreviveu e tornou-se a mais jovem ganhadora do prêmio Nobel aos 17 anos.

Todas as mulheres são maravilhosas, são filhas de um Pai no céu que as ama e não se agrada de que sejam agredidas, mortas, ofendidas ou mesmo rotuladas, não importa sua condição ou modo de vida. Mesmo a mulher adúltera Jesus não a condenou, então não o façamos nós. Por mais amor e mais companheirismo entre homens e mulheres, companheiros da jornada humana, não rotulemos. Rótulos são nocivos.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.