Abrace, valorize, agradeça, ame e perdoe, sua família é tudo que você tem

Sua família vale mais do que todo o ouro do mundo; portanto, todo o tempo que você gasta com ela é inestimável.

Erika Otero Romero

As recordações que tenho da infância são muito pontuais, não guardo muitos detalhes delas. Minhas lembranças não seguem uma linha contínua que me permita construir uma história. Minha mãe, por outro lado, lembra-se de acontecimentos em sua vida como se fossem eventos em um filme.

Minha mãe se lembra de quando brincava com seus irmãos e seus cães em toda cidade onde moravam. Ela se lembra de seus amigos, das árvores em que subiam, dos riachos que cruzavam em suas aventuras, inclusive dos acidentes que resultavam de suas travessias. Acredito que se ela dedicasse um mês para me contar sua vida, ela poderia fazer relatos desde que tinha seis ou sete meses. Por incrível que pareça, ela se lembra de quando minha avó a colocava para dormir no berço nessa idade.

Tempo, tudo é questão de tempo

Algo que também é muito particular para mim é a diferença na concepção de tempo para nós, adultos, em comparação à das crianças. Por exemplo, quando eu era criança, um ano durava uma eternidade para mim. No entanto, os dias, agora, parecem mais curtos do que eram na infância. Tenho sempre a impressão de que não tenho tempo suficiente para fazer o que quero. É como dizer “Feliz Ano Novo!” à meia-noite de 31 de dezembro e, de repente, zaz! Passam alguns dias e já é março. Quando me dei conta desse “desperdício consciente” de tempo, também notei que não aproveitava a minha família tanto quanto deveria.

Nesse sentido, um grande erro que sempre cometi foi viver sonhando com o futuro ou relembrando eventos do passado. Isso igualmente me prejudicava. Viver sonhando com o futuro ou recordando o passado me impedia de viver o presente e, portanto, aproveitar minha família. Além disso, a esperança de um futuro incerto me deixava cheia de angústia e a lembrança de coisas do passado, cheia de tristeza ou raiva. Ninguém merece viver assim.

É importante fazer uma mudança

Naquela época, eu não sabia o que fazer. Sei que parece óbvio, mas, na verdade, eu estava tão acostumada a essa situação, que fazer uma mudança era um incômodo para mim. Eu sabia que se eu não quisesse acabar me arrependendo no futuro de ter perdido um tempo precioso por viver uma “realidade alternativa”, então teria que começar a passar tempo com minha família. Foi aí que comecei a me oferecer para acompanhar minha mãe nas compras, assistir televisão com eles, sair para passear e tomar sorvete, e assim por diante.

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Foi difícil para mim manter esse ritmo no começo, pois gosto de passar meu tempo sozinha. No entanto, admito que essa mudança me permitiu descobrir o quanto meus familiares são valiosos. Além disso, posso dizer que estar com eles me preparou para outros momentos da vida.

Não esperemos até que seja tarde demais

Não tenho medo da morte, não da minha, mas penso muito no dia em que perder meus parentes. Talvez seja a maior razão pela qual muitos têm medo da morte. Claro, também há aqueles que temem a morte pelas incertezas. Outros podem ter medo da dor que possa ser sentida. Há até aqueles que não temem a morte em si, mas o que possa causá-la. Mesmo assim, não dá para negar o quanto pode ser profunda a dor de se perder um membro da família.

É por isso que, por não sabermos quando nem como perderemos a vida, precisamos aproveitar todos os momentos possíveis na companhia da nossa família. Isso não quer dizer que tenhamos que estar juntos 24 horas por dia, sete dias por semana; isso seria sufocante. Mas podemos colocá-los como prioridade.

Esse foi um fenômeno em que muitos jovens começaram a “aterrizar” nos últimos tempos. Quando começou a quarentena pelo coronavírus, muitos deles, acostumados a viajar com frequência e a ficar longe da família, viram escapando das mãos a oportunidade de estar com seus pais em breve.

Era normal ficar vendo suas publicações nas redes sociais, com vontade de “vê-los novamente e abraçá-los”. É o desejo de muitos que tudo termine da melhor maneira possível e, assim, possam de abraçar seus pais, irmãos e amigos.

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Na verdade, o panorama pode piorar quando menos imaginarmos. Devemos ter bom ânimo e fé de que toda essa situação que nos distancia daqueles que nos amam e a quem amamos termine em breve, para que possamos passar um tempo com eles novamente.

Abrace, seja grato, diga o quanto você os ama, perdoe e se reconcilie

Estas cinco ações, quando realizadas todos os dias entre você os seus, garantirão um tempo de qualidade e bem gasto.

Passamos muito tempo guardando rancor por pirraça. Outros acham que os pais têm a obrigação de tolerar seu desrespeito. Muitos membros de uma família ficam o dia todo sem ver o rosto uns dos outros morando na mesma casa. É o que a vida moderna deixou para as pessoas: frieza, indolência e desapego.

Sou da opinião que todo evento da vida tem uma razão de ser. Se eu aplicar essa “filosofia” ao que aconteceu com o coronavírus, pode-se dizer que o vírus veio não apenas para resgatar a humanidade, mas também nos forçar a ficar em casa para passar um tempo com as pessoas que amamos. Esse tempo deve ser usado para abraçá-los e dizer o quanto você os ama. Também para agradecer por estar com eles e pelo que lhe dão. Além disso, essa aproximação o convida a perdoar e se reconciliar com eles, tudo isso é válido porque, no fundo, você sabe que a vida é curta.

E esse é o convite que deixo hoje. Abrace, valorize, agradeça, ame e perdoe; você não sabe quanto tempo mais terá para passar com sua família e amigos.

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Traduzido e adaptado por Erika Strassburger, do original Abraza, valora, agradece, ama y perdona, tu familia es todo lo que tienes

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.