A forma como lidamos com nossos filhos pode decidir seu futuro, saiba por quê

Quer que seu filho seja bom cidadão, honesto, empático e bem-sucedido? Aqui está a chave para que isso aconteça.

Stael Ferreira Pedrosa

Desde o ventre, a maneira como nos comunicamos com nossos filhos os afeta. Essa relação se intensifica no pós-parto e, por isso, renomados psicanalistas como Melanie Klein, John Bowlby e Donald Winnicott dedicaram a maior parte de seus estudos ao binômio mãe e bebê, devido à importância desse relacionamento para a vida e felicidade do indivíduo.

Segundo os autores, a personalidade de cada um é formada e permanentemente fixada na primeira infância, sendo de grande importância a interação mãe-bebê no primeiro ano de vida para a formação do aparelho psíquico saudável na criança e, consequentemente, na formação do adulto saudável.

Se houver falha nesse processo, ocorre um problema chamado de sofrimento psíquico, que pode causar danos permanentes à saúde mental e à interação social da pessoa que dele padece.

O pai também tem papel fundamental no processo de adaptabilidade mental e emocional da criança ao meio em que vive. Após o papel quase que exclusivo da mãe na formação do vínculo, o pai é aquele que vem diminuir essa proximidade, levando o filho a outras experiências e dando segurança à mãe de que ela é suficientemente boa.

A chave é o comportamento

Para conseguir o que se deseja para os filhos, o segredo não é criar expectativas ou tentar definir caminhos para eles traçarem. A chave é o comportamento dos pais. De acordo com dois estudiosos do desenvolvimento intelectual das crianças, Lev Semyonovich Vygotsky, psicólogo russo e Jean Piaget, biólogo, psicólogo e epistemólogo suíço, as crianças aprendem por imitação, ou seja, a criança imita ou representa aquilo que ela vê ou experimenta. É assim que se forma sua memória e, mais tarde, condiciona os pensamentos que ela crê serem somente seus.

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E a quem a criança observa? Seus pais, claro. Inicialmente, sua convivência é com a mãe e, em seguida, com ambos, de quem ela absorverá palavras, atos e sentimentos, a partir do que experiencia com eles, o comportamento dos pais, modelará como elas se sentirão e que visão de mundo terão.

Exemplos:

Situação 1

A mãe trata o trabalho doméstico como um fardo, deixa a casa suja, atrasa as refeições, briga com as crianças, como se elas fossem as responsáveis pela bagunça. O pai chega em casa reclamando do trabalho, do chefe, dos colegas, briga com a mãe e diz que trabalhar é um martírio, e que se sente um escravo.

Mensagem passada: trabalhar é ruim, as pessoas querem se aproveitar de nós e nos explorar, podemos deixar a casa suja e negligenciar a saúde. Os outros são responsáveis por nossos problemas e nós, as vítimas.

Situação 2

A mãe canta enquanto limpa a casa e demonstra prazer em ter tudo organizado e limpo. As refeições são preparadas com carinho e os filhos estimulados a fazerem sua parte para a organização e manutenção da limpeza do lar. O pai tem planos de ascensão profissional e passa uma ideia positiva do trabalho como fonte de realização pessoal.

Mensagem passada: trabalho traz satisfação, realização pessoal, nos possibilita crescer em várias áreas, modifica o ambiente para melhor e servir aqueles a quem amamos é motivo de alegria. Cada um é responsável por fazer sua parte para o bem comum.

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Isso, claro não se aplica somente aos papeis estereotipados, mas à pessoa responsável por cuidar do lar e das crianças, que, no caso, pode ser um pai e também daquele que provê, que pode ser a mãe. O importante não é quem faz, mas o que faz e como faz.

Atos e palavras

Atos

O comportamento dos pais é importante para a formação da personalidade infantil, bem como promotor do comportamento social e emocional saudável. No entanto, não é apenas isso. É necessário ser verdadeiro. As crianças percebem o comportamento falso ou “de fachada”. Também não deve ser algo idealizado, por exemplo: fazer transparecer que o trabalho é fonte completa de realização e felicidade e somente uma casa limpa pode deixar o lar aconchegante, são ideais falsos e podem gerar no adulto maiores chances de se frustrar caso não sejam bem-sucedidos nessas tarefas.

Além disso, o trato com o outro, a ética e os sentimentos genuínos são cuidadosamente observados e assimilados pelas crianças. É muito comum filhos de pessoas que se voluntariam em causas nobres seguirem os passos de seus pais.

Palavras

Diz o ditado que as palavras comovem, mas o exemplo arrasta. É verdade, mas nossas histórias também têm grande efeito sobre os filhos. A maneira como falamos de nossos pais, nossa infância, das pessoas que nos rodeiam, como colegas de trabalho ou mesmo dos nossos inimigos, modelam a maneira como falarão de nós e de seus colegas e pares. Portanto, se queremos que nossos filhos tenham uma atitude positiva diante da vida, das pessoas, do trabalho com ética e verdade, sejamos nós, pais, os primeiros a agirem dessa forma.

A chave para ter filhos bem-sucedidos é sermos, nós, pais, também bem-sucedidos em ser bons pais, bons filhos, boas pessoas, bons profissionais e bons cidadãos – não os melhores, não para impressioná-los, mas por ser parte do nosso caráter. Eles seguirão nossos passos.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.