3 maneiras de criar um vínculo maior entre mãe e recém-nascido

É o vínculo com a mãe que “apresenta” o mundo ao recém-nascido. Se o vínculo for bom, ele terá um comportamento futuro considerado normal.

Stael Ferreira Pedrosa

Muitos são os estudiosos da psique humana a afirmar que o vínculo inicial mãe/filho é de extrema importância para a construção do aparelho psíquico e a formação de um indivíduo saudável mentalmente.

Melanie Klein, Donald Winnicott, Wilfred Bion e muitos outros grandes psicanalistas dedicaram anos de estudo a essa díade, justamente devido à importância para o ajuste do recém-nascido à sua nova realidade fora do útero. O bebê precisa de um objeto (mãe) que o integre, que lhe dê um sentido de si mesmo, já que ele nasce sem essa distinção do que é seu próprio corpo e o corpo da mãe.

Além disso, segundo esses estudiosos, o bebê em seu desconhecimento absoluto do mundo que o cerca, tem medos, “angústias inimagináveis”, segundo Winnicott. Afinal, ele não sabe se um aspirador barulhento é apenas um objeto inofensivo ou um predador que vem devorá-lo e ele chora. A mãe é quem vem receber essas angústias do recém-nascido e apaziguá-lo levando-o ao colo e dando-lhe o seio.

Crianças sem o vínculo

É o vínculo com a mãe que “apresenta” o mundo ao recém-nascido. Se o vínculo for bom e capaz de apaziguar seus temores e dar ao bebê a noção de si mesmo como ser inteiro e separado da mãe, ele terá um comportamento considerado normal. Caso o vínculo seja falho, a criança criará mecanismos de defesa para se livrar dos seus terrores e pode não ter uma real noção de si mesma. Quando o vínculo não existe, a criança sofre instabilidade psíquica e terá dificuldade em se apresentar ao mundo social.

Para Karina Santana, “a mãe, na medida em que oferece uma base de apego seguro, através de um relacionamento caloroso, íntimo e contínuo, torna-se um suporte emocional imprescindível para garantir que os cuidados dispensados, sejam essenciais para a sobrevivência da espécie humana”.

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Para Cristiano Abreu, autor de Fundamentos, Pesquisa e Implicações Clínicas, há uma relação entre a mãe negligente, ou a falta do vínculo materno com jovens delinquentes, desajustados e agressivos.

Como criar um vínculo saudável e suficientemente bom com o bebê

Existem 3 maneiras de uma mãe desenvolver um vínculo maior com o filho recém-nascido. Toda mãe é capaz de fazê-lo, desde que não haja um comprometimento psíquico da mãe ou impedimentos da presença desta.

1. Pegar no colo

Segundo Winnicott, a mãe suficientemente boa é aquela que fornece o necessário para o bom desenvolvimento psíquico da criança, é aquela que leva seu bebê ao colo (holding) o máximo possível. Esse contato do bebê com a pele materna estimula as sensações e vai mostrando ao bebê quem é ele e quem é a mãe, já que um dos temores inconscientes do recém-nascido é se desmanchar (life-spilling-out). A pele da mãe lhe dá uma limitação e acalma seus temores.

2. Amamentar

Para Melanie Klein e Esther Bick, a amamentação permite ao bebê tirar os medos de dentro de si e depositar na mãe para que ela os resolva (introjeção) e através do cheiro da mãe, da gratificação do alimento e do afeto, ocorre um contato harmonioso da mãe com o bebê. Durante a amamentação, fale com o seu bebê (eles gostam de vozes mais agudas, aquela que fazemos quando falamos com bebês). Olhe em seus olhos, toque suas mãozinhas e rosto. Transmita-lhe afeto e a sensação de que você entende o que se passa com ele. O que na verdade, é real. Bion chama essa capacidade de “Rêverie materna”. Por isso a mãe coloca agasalho no filho sem que este o peça.

3. Presença

Mais que tudo no mundo, o bebê precisa da presença materna. Sabemos que muitas mães trabalham fora e precisam deixar seus filhos aos cuidados de outros. O que é simplesmente lamentável. Não existe substituto suficiente para a mãe biológica. A mãe adotiva se aproxima bastante desde que forneça afeto e holding. Algumas mães não podem amamentar, mas devem fazer todo o possível para que a amamentação via mamadeira possa ser um momento onde o bebê recebe colo, afeto, interação e introjeção de seus temores.

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O choro do bebê jamais deve ser ignorado. O terror que ele sente, embora imaginário, tem que ser resolvido pela mãe ao acalentá-lo. Se assim não for, se ele chora e ninguém o atende repetidas vezes, ele vai parar de chorar, é verdade, mas sua psique pode ser alterada para o resto da vida.

Então, mãe, se você deseja um vínculo afetivo com seu bebê e mais – que esse vínculo seja forte e duradouro – siga seu coração. Dê colo, amamente, passe o maior tempo possível com ele. Não se preocupe, isso não irá durar para sempre, logo ele se mostrará mais independente e você falhará algumas vezes em atendê-lo. Essa falha também é importante para que ele amadureça um pouco e comece a perceber que não é o centro do universo. É saudável.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.