Seu método anticoncepcional irá lhe matar?

Muitas brasileiras descobriram, quase à beira da morte, que não podiam tomar anticoncepcionais. Você sabe se o medicamento que está ingerindo é seguro para o seu corpo?

Caroline Canazart

A informação é a melhor forma de prevenir-se contra reações adversas que medicamentos possam oferecer à saúde. Com as pílulas anticoncepcionais não é diferente. A segurança que o produto dá para evitar a gravidez ou tratar doenças como endometriose e acne na pele, entre outras, pode esconder os graves riscos no uso do medicamento.

O principal deles é que a utilização das pílulas hormonais pode levar à formação de uma trombose na circulação sanguínea, desencadeando tromboembolismo, embolia pulmonar, trombose venosa profunda ou trombose cerebral. Todos, se não tratados com urgência, levam à morte.

Por que a pílula anticoncepcional pode causar esses danos?

Os hormônios combinados podem gerar coágulos na corrente sanguínea, principalmente em mulheres que tenham trombofilismo, uma predisposição genética ou adquirida, que aumenta em 30 vezes a possibilidade de uma trombose. Porém, a Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária – alertou em 2014 que mulheres que não tenham nenhuma predisposição também podem sofrer uma dessas doenças se estiver fazendo o uso de pílula. De acordo com especialistas, obesidade, fumo, sedentarismo, diabetes e viagens prolongadas também podem contribuir para as reações.

Uma pesquisa britânica, publicada pela The BMJ Today, diz que mulheres que tomam anticoncepcionais orais que tenham como princípio ativo desogestrel, ciproterona, gestodeno e drospirenona têm um risco de trombose venosa aumentada em até quatro vezes em relação a quem não toma. Então é bom você pegar a caixa da sua pílula, ver qual a base dela e ficar alerta.

Esses são os contraceptivos chamados de terceira e quarta geração. Eles foram lançados no início dos anos 2000 e são os mesmos que, depois de todo o sucesso entre as norte-americanas, já deram um prejuízo de 1,7 bilhão de dólares para a Bayer em mais de oito mil processos contra a empresa farmacêutica por danos à saúde de consumidoras de suas pílulas. Muitos outros processos continuam em andamento.

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Para quem toma os contraceptivos orais mais antigos, de estrogênio, que contêm levonorgestrel, noretisterona ou norgestimata, as chances são menores mas, mesmo assim, ainda são duas vezes maiores de ter uma complicação em relação a quem não toma anticoncepcional.

Como prevenir?

A luta atual das mulheres que já sofreram com tromboembolismo, embolia pulmonar, trombose venosa profunda ou trombose cerebral por causa do contraceptivo é conscientizar as 11 milhões de brasileiras que fazem o uso da medicação. O objetivo não é retirá-los das prateleiras das farmácias, mas sim, dar a opção de mais informações para as usuárias, com alertas contundentes sobre os riscos nas bulas e caixas do medicamento.

Outro pedido é para que médicos ginecologistas possam incluir na rotina de exames o de rastreamento genético, feito por sangue ou saliva, para verificar se a mulher tem trombofilia. Além disso, informar a paciente sobre os riscos e verificar o histórico familiar dela.

Movimento no Brasil

Nos Estados Unidos, os anticoncepcionais só podem ser comprados com prescrição médica. Além disso, a agência FDA, que regula os medicamentos naquele país, exigiu, depois de um grande debate e estudos sobre o assunto, que as empresas farmacêuticas incluíssem avisos sobre os riscos e as contraindicações dos medicamentos nas bulas. A França e o Canadá também agiram a respeito e por lá os contraceptivos orais de terceira e quarta geração são vendidos com a retenção da receita médica.

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No Brasil, a movimentação sobre os perigos do uso do anticoncepcional só veio à tona depois que a professora Carla Simone Castro, de 41 anos, decidiu publicar um vídeo falando sobre a sua situação. Ela sofreu uma trombose cerebral, em setembro de 2014, depois de usar por seis meses a pílula Yasmin com o objetivo de combater cólicas devido a miomas uterinos.

O vídeo era apenas para explicar aos alunos sobre a razão dela estar ausente das aulas e fazer um alerta sobre o problema. Mas a repercussão foi muito maior e chegou aos ouvidos de outras mulheres que também sofreram danos por causa da medicação. Com o movimento acabou surgindo uma página numa rede social – Vítimas do anticoncepcional. Unidas a favor da vida – que já tem mais de 50 mil pessoas.

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Lá existem mais de mil relatos de mulheres que sofreram trombose, trombose venosa profunda, embolia pulmonar ou trombose cerebral em razão do uso de anticoncepcionais. Algumas delas falam sobre os danos permanentes, como tomar remédios por toda a vida, perda de membros por amputação, impossibilidade de engravidar, entre outros problemas.

Carla também conseguiu alguns números depois de verificar 305 casos relatados na rede social:

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  • 92% das mulheres que tiveram consequências graves, não foram informadas pelo médico do risco de trombose.

  • 90% tomavam contraceptivo oral.

  • 71% tomavam as pílulas de terceira e quarta geração.

  • 40% não tinham predisposição para trombofilia.

De acordo com Carla, o movimento não quer que as mulheres parem de usar anticoncepcional, mas sim que tenham mais informações, campanhas com alertas, incentivo de uso de outros métodos contraceptivos e de pesquisas sobre o assunto.

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Os exames para verificar se existe a predisposição para a trombofilia pode custar cerca de 1.500 reais se for feito em clínica particular. Segundo Carla, alguns planos de saúde cobrem esses procedimentos. “Não fazer o exame é se submeter a uma roleta russa. A vida humana não tem preço, por mais que sejam ‘apenas” 10 mil casos ano, já que somos 11 milhões de usuárias no Brasil, é preciso considerar o dano sofrido por estas pacientes. São vidas humanas, não podem ser tratadas como mera estatística”, diz, em uma postagem da página.

Para a Febrasgo – Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia – esses casos são raros e é um risco que a paciente corre ao iniciar o tratamento, porém afirma que é uma obrigação do médico orientar sobre os possíveis problemas.

De acordo com especialistas, a gestação, parto e pós-parto também são momentos de risco para a mulher. Nesses casos a possibilidade de algo relacionado à trombose acontecer sobe para 15 vezes, já que neste período a mulher tem uma quantidade maior de sangue na corrente sanguínea.

Outros métodos contraceptivos

Alguns métodos podem zerar a quantidade de hormônio no corpo da mulher. São eles: preservativo feminino, preservativo masculino, diafragma, DIU de cobre e vasectomia (nos homens). Apenas os preservativos podem evitar a gravidez e também proteger a mulher e o homem de doenças sexualmente transmissíveis.

Se você ficou com dúvidas sobre o método que utiliza, marque uma consulta com seu médico e não deixe de fazer todas as perguntas. Lembre-se: a informação pode salvar vidas.

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Caroline Canazart

Caroline é uma jornalista catarinense que optou por ser mãe em tempo integral depois do nascimento dos filhos. Ama escrever e ainda acredita que pode mudar o mundo com isso.