Minha mãe me batia: O que eu aprendi com isso

Um tapinha não dói, uma palmadinha não machuca e outras frases que deveriam sumir de nosso vocabulário.

Stael Ferreira Pedrosa

Minha mãe nunca foi de dar tapinhas nas mãos ou beliscar. Ela partia para a surra mesmo. Muitas vezes eu apanhei de mangueira, chinelo, correia, vara, etc.

E ainda hoje, estando no lugar dela – pois sou mãe, não entendo por que ela me batia. Embora não haja razões suficientes para se bater em uma criança, ainda por cima eu era uma criança pacata, obediente e tranquila.

Não acredito que fosse por maldade, mas sim por certo descontrole e uma maneira de repetir o que ela passou na infância e que acreditava ser o certo e também por achar que estava educando, de maneira insana e cruel a mim e meus irmãos.

O comportamento abusivo

Creio que o comportamento abusivo de muitos pais seja um reflexo condicionado ao que cada um viveu. Segundo pesquisas, o abusado tende a se tornar um abusador. De acordo com a psicóloga Mery Oliveira, essa tendência se repete mais com os meninos que com as meninas. Embora não seja uma regra, as meninas geralmente não repetem o comportamento abusivo.

Bater nos filhos é abuso?

Se considerarmos o significado de abuso (qualquer ação humana onde exista uma pré-condição de desnível de poder), sim. Bater nos filhos é abuso infantil e/ou juvenil. O nome de tal atitude é violência doméstica. Segundo a UNICEF, ao bater na criança os pais cometem no mínimo dois tipos de violência:

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Violência física: toda ação que causa dor física numa criança, desde um simples tapa até o espancamento fatal.

Violência psicológica: comportamentos que levam a criança a sofrimentos e lágrimas através de palavras ou atos, que a faz sentir-se desprezada, culpada, indesejada ou uma má pessoa.

A violência psicológica tem a sua face “doce” que é a manipulação que faz a criança atender aos desejos do adulto através de frases como: “se você não fizer isso, eu não vou mais gostar de você”.

Disfarçado sobre o nome de “disciplina” ou “palmadinha”, o castigo físico pode causar danos às crianças. Pesquisas têm revelado a associação entre o castigo físico e o comportamento agressivo e violento, danos à saúde mental, entre outros.

Leia: Porque seu filho não merece uma palmada

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Dados científicos

Pela primeira vez, uma universidade brasileira, a PUC do Rio Grande do Sul, fez um estudo ouvindo 540 crianças entre 6 e 8 anos de idade, em três capitais diferentes – Rio de Janeiro, São Paulo e Recife sobre o assunto e os resultados são chocantes:

  • A violência urbana repercute dentro do lar – mães que veem sempre ou quase sempre armas sendo apontadas tendem a bater mais nos filhos.

  • No Rio de Janeiro, 71% das crianças de até 8 anos disseram já ter levado ao menos uma surra. No Recife, 75% delas. E em São Paulo, 57% disseram já ter apanhado.

  • O castigo físico vem em primeiro lugar como método de correção.

  • Bater é o segundo método disciplinar mais usado pelos pais.

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  • No Rio de Janeiro, 76% dos pais ou responsáveis admitiram bater em crianças de até 2 anos de idade.

  • Em São Paulo, 83% disseram ter batido antes que seus filhos completassem 3 anos.

  • E no Recife, 94% bateram em crianças antes dos 5 anos.

  • O pico de violência sofrida pela criança entre 0 e 8 anos se dá entre 2 e 4 anos em todas as comunidades pesquisadas.

  • A mãe é a que mais bate.

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Quase 100% das mães ouvidas dizem que bater nos filhos não resolve nada

Tenho que concordar com o último dado. Afinal eu apanhava de minha mãe e o que eu aprendi basicamente se resume em 3 coisas:

1. Apanhar revolta e faz querer fazer o errado.

2. Eu experimentei sentimentos muito ruins por minha mãe – sentimentos que eu jamais suportaria saber que meus filhos tiveram por mim.

3. Sofri danos psicológicos que afetam ainda hoje a minha vida de maneira ruim.

Quer você concorde ou não, o Rabino S. Binyomin Ginsberg dá um conselho que deve ser levado a sério:

“No decorrer do meu trabalho, conheci e conversei com muitos filhos e pais. Ainda não encontrei um filho que alegasse que estaria muito melhor se tivesse sido mais “agredido” pelos pais e nunca encontrei um pai que se arrependesse de não ter batido mais nos filhos”.

Leia: Mãe que grita: Como vencer a tendência de gritar

“Porém, pelo outro lado, ouvi de muitos filhos e pais sobre os horrores envolvidos com castigos corporais. Por isso posso declarar confortavelmente que bater numa criança é errado e uma criança nunca, sob nenhuma circunstância, deve ser agredida”.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.