Crie filhos sem limites e se arrependerá toda sua vida

Baixa tolerância às frustrações e pouco controle de suas emoções são apenas algumas das consequências da falta de limites nas crianças.

Fernanda Gonzales Casafús

A luta pelo poder na educação dos filhos é muitas vezes fonte inesgotável de conflitos. A criança quer alguma coisa e vai lutar com unhas e dentes por isso, e os seus pais vão tentar fazê-la voltar à razão quando o que quer não é possível. E se o limite não for claro, esta cena pode repetir-se uma e outra vez.

Os pais ouvem com frequência peritos, professores, especialistas em comportamento infantil e até leem relatórios, investigações, e por todo lado dizem-nos que a falta de limites numa criança pode acarretar graves consequências.

Mas claro, a educação de um filho não é matemática, e muitas vezes descobrimos que não temos a certeza se esse limite que estamos colocando é suficiente e, no pior dos casos, muitos de nós nem sequer sabemos como aplicá-los.

A tirania dos “sem limites”

“Crie corvos e arrancam-lhe os olhos”, diz o ditado popular. Na nossa sociedade, muitas vezes parece que é precisamente isso que estamos fazendo com as nossas crianças. Muitos de nossos avós ficariam surpresos ao ver como as crianças de hoje são contestadoras, desafiadoras e sempre têm uma objeção ao que dizem os adultos.

Estamos criando filhos sem limites, ou com limites indefinidos, para não ser tão drásticos. Mas não podemos negar que a geração infantil atual está marcada por esse desdobramento da fronteira entre a permissividade e a liberdade, entre o mundo do certo e do errado.

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Não pretendo fazer uma análise sociológica do comportamento infantil, mas, como mãe, urge-me a necessidade de introspecção e autocrítica, pois meus filhos fazem parte desta sociedade do imediato, de pais ausentes e hiperocupados. Por isso, quanto mais refletirmos sobre a necessidade de limites saudáveis para os nossos filhos, maior será o benefício para eles no futuro.

Os limites no cotidiano

A cena é quase diária. Meus filhos espalham seus brinquedos por toda a casa. Armam casas, mercados, salas de aula, veterinárias e muito mais. A casa fica um caos, e quando se cansam, simplesmente pretendem deixar tudo ali porque “amanhã continuarão brincando”.

Mas não se pode nem andar. E até já quebrei um de seus brinquedos quando pisei sem querer. Foi impossível vê-lo no emaranhado de coisas no chão. Ah, mas os pequenos agora querem brincar com o tablet e pretendem deixar o mar de brinquedos no chão. Mesmo que estejam chorando ou esperneando, devem recolher tudo, se quiserem usar o videogame.

E se eu disser sim a seu pedido? Todo dia seria o mesmo. Eles brincariam, largariam suas coisas e se sentariam para jogar nos eletrônicos e mamãe e papai recolheriam tudo. E o que estamos ensinando a eles? Nada positivo por certo, porque a vida (a menos que sejam da Realeza) ainda que seja mais que juntar brinquedos, por algum ponto se começa.

O que é realmente um limite?

Quando os adultos cedem aos caprichos dos filhos, reforçam um comportamento negativo. Por exemplo, uma criança que chora e esperneia no meio do mercado, porque quer que a mãe lhe compre uma caixa de chocolates, procurará um jeito de chamar a atenção do adulto. Se seus pais cederem, a criança ganhou a luta, e esse comportamento negativo certamente será repetido no futuro.

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Quando não pode, não pode. E as crianças devem entender isso. Conheço muitos pais que se endividam até ao impensável para comprar o capricho de seu “bebê”, e como não sabem dizer não, ou não quer que o pimpolho “se frustre”, preferem se matar de trabalhar para comprar isso que a sociedade nos empurra a ter.

Se nos habituarmos a ceder por cada birra dos nossos filhos, estaremos reforçando cada vez mais esse comportamento negativo, o que poderá tornar-se um hábito para obter o que deseja.

A dificuldade está em nós, os adultos

Claudio Gustavo Rojas, psicólogo social, explica que “O que está acontecendo é que a comunicação diária na família foi quebrada, os problemas são resolvidos de forma primitiva e as responsabilidades para com os filhos não são compartilhadas. Por outro lado, saber estabelecer limites permite-nos criar e fortalecer sentimentos de autonomia, valor pessoal, sociabilidade, criatividade e bem-estar pessoal. Além disso, estabelecer limites também é um ato de amor para com os filhos e filhas”.

Entender os limites como “ato de amor” nos coloca em uma perspectiva um tanto diferente a respeito do que comumente associamos com a palavra limite. Não vamos negar que impor limites é difícil. Quantas vezes cedemos perante birras e caprichos só porque não queremos ouvi-los chorar mais?

E então, não só estaremos reforçando essa conduta negativa que dizíamos anteriormente, como também estaremos tirando a possibilidade da criança ser ensinada em suas emoções, a ter paciência, respeito pelo outro ou a esforçar-se cotidianamente.

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As crianças são o presente

Diz-se muito por aí que as crianças são o futuro. No entanto, estamos esquecendo que, na verdade, elas são o presente. Mais do que isso, todos os tipos de sustentos psicológicos e sociológicos convergem aqui, convidando-nos a pôr fim aos comportamentos narcisistas dos nossos filhos.

Os limites são amor, dedicação e paciência. Os limites são fonte inesgotável de ensino. E mesmo que seja difícil e entremos numa luta de poderes, quando você tem a oportunidade de conversar com seu filho e explicar-lhe o motivo desse limite, seu filho pode compreendê-lo. Apenas faça o teste.

Não tenha medo de aplicar os limites necessários aos seus filhos, ou pode arrepender-se pelo o resto da vida. Amá-los também implica saber fazer isso, com todo seu coração. E você, como aplica os limites a seus filhos?

Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original Cría niños sin límites y te arrepentirás toda tu vida

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Fernanda Gonzales Casafús

Fernanda Gonzalez Casafús é argentina, mãe e formada em jornalismo. Ama os animais, daçar, ler e a vida em família. Escrever sobre a família e a maternidade se tornou sua paixão.