Pesquisador descobre as causas reais da depressão e resultado não é o que você pensa

Pode não ser por causa de uma "alteração química" no cérebro.

Stael Ferreira Pedrosa

A depressão hoje é algo comum no mundo ocidental. As pessoas buscam atendimento médico e ficam sabendo que o problema é que seu cérebro não está funcionando corretamente, ou seja, não está produzindo as substâncias químicas necessárias. O médico então receita algum antidepressivo para induzir o cérebro a produzir tais substâncias.

Os antidepressivos realmente funcionam, há uma diminuição dos sintomas tão logo as substâncias do bem-estar voltem a ser produzidas. O problema é que, com o passar do tempo, o medicamento tende a diminuir seu efeito, que já é pequeno e a depressão volta, sendo necessário um medicamento mais forte.

Johann Hari

Este é o nome do escritor que decidiu investigar por conta própria as causas da depressão. Ele é deprimido e não aceitava bem a ideia defendida por muitos cientistas de que o cérebro quimicamente desequilibrado é o único responsável pela depressão. O que ele aprendeu com outros cientistas é que na verdade existem 9 causas para a depressão: duas delas biológicas e 7 ambientais. Segundo Johann, são causas bastante diferentes e que se manifestam em diferentes graus nas vidas das pessoas deprimidas e ansiosas.

Dr. Vincent Felitti

O outro estudioso do assunto com quem Johan travou conhecimento é o Dr. Vincent Felitti, um notável cientista investigador dos processos mentais. O Dr. Felitti havia feito uma experiência nos anos de 1980 com pessoas obesas que receberam um tratamento diferenciado e conseguiram emagrecer bastante. O problema é que essas pessoas não estavam felizes com a perda de peso, pelo contrário, alguns enfrentavam brutal depressão, pensamentos suicidas; outros, pânico e alguns profunda raiva. Algumas delas fizeram de tudo para engordar novamente até mesmo sem perceber que o faziam.

Uma pista para as causas da depressão

Ao entrevistar alguns desses pacientes, o Dr. Felitti descobriu algo em comum entre eles. 55% dos entrevistados havia sofrido abuso, na maioria dos casos, abuso sexual. A obesidade era uma proteção inconsciente para proteção do corpo. Esse fato levou o Dr. Felitti a uma maciça pesquisa financiada por órgãos governamentais.

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O que ele descobriu foi que o Trauma infantil coloca o indivíduo em risco de depressão na fase adulta, bem como a ser usuário de drogas.

A pergunta de Johann com tudo isso é o porquê. Por que os traumas da infância levam a comportamentos autodestrutivos, como a obesidade, o vício, ou o suicídio? Johann acabou por formular sua própria teoria baseada em evidências físicas da descoberta do Dr. Felitti.

O processo mental gerador de depressão e ansiedade

Segundo Johann, mecanismos de defesa fazem a criança pensar que o que lhe acontece é culpa dela mesma. Isso a faz ter alguma sensação de controle ou poder sobre os acontecimentos, mas também cria um outro fator: o merecimento. Ou seja, tudo de ruim que lhe aconteceu foi culpa da própria criança, então ela merece ser machucada. E é esse senso de merecimento que a faz deprimir-se na fase adulta.

Mas, foram as pesquisas posteriores do Dr. Felitti que veio ajudar a resolver os problemas depressivos de vários pacientes, entre eles o próprio Johann.

Dr. Felitti elaborou um questionário que os médicos deram a seus pacientes na primeira consulta e que forneceriam pistas sobre eventual abuso na infância. Na segunda visita, o médico abordou o problema com frases do tipo: “Vejo que você passou por essa má experiência quando criança. Lamento que isso tenha acontecido com você. Você gostaria de falar sobre isso?”.

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O objetivo era descobrir se conversar sobre o trauma com uma figura de autoridade confiável, no caso o médico, e ser informado de que nunca fora culpa do paciente o que aconteceu no passado, se isso surtiria efeito.

O resultado foi que falar sobre o problema, expor sua vergonha, foi o passo decisivo para a cura. Para os pacientes que se abriram, houve reduções significativas tanto na quantidade de medicamento quanto de assistência médica.

Outros fatores que surgiram como desencadeadores de depressão na pesquisa do Dr. Felitti foram:

  • Falta de controle sobre os acontecimentos

  • Dificuldade em confiar nos outros

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  • Inseguranças quanto ao futuro

  • Insatisfação no trabalho

  • Predisposição genética (sendo este um índice bastante pequeno)

Tais descobertas levou à evidência científica de que resolver a depressão e ansiedade deve ser por um caminho bem diferente, embora não se deva deixar de lado os medicamentos.

Para lidar com a depressão, é preciso lidar com suas causas subjacentes. Liberar os traumas do passado é apenas o começo.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.