Crianças que recebem colo dos pais se tornam adultos mais confiantes

Uma pesquisa realizada pela Universidade de Notre Dame com 600 pessoas e publicada pela revista Crescer vem acabar com muitos sentimentos de culpa.

Stael Ferreira Pedrosa

Segundo pesquisa da Universidade de Notre Dame, publicada pela revista Crescer, acalentar bebês, ao contrário do que muitos creem, não é prejudicial a eles, mas traz benefícios permanentes. Isso vem aliviar a culpa de muitas mães que, ignorando os conselhos de outros, está sempre com seu filho no colo.

Colinho não estraga a criança

Muitos dizem que atender à criança sempre que ela chora e dar-lhe colo estraga a criança e a deixa mimada. No entanto, vários pediatras discordam disso. O choro é uma expressão de quem não sabe falar ou externar o que se passa no seu interior.

Segundo a Neurocientista e professora no Departamento de Farmacologia e Fisiologia na Universidade Drexel, na Filadélfia (EUA), Andreia Mortensen, “isso provavelmente vem da crença de que o aprendizado (é pelo) sofrimento e não (pelo) exemplo e empatia”, afirma. Ela cita também o livro do pediatra espanhol Carlos Gonzalez, Besame mucho, onde o autor afirma que: “Existem vários tabus modernos relacionados ao choro e que culturalmente ditam que é proibido dar atenção às crianças que choram, pegar-lhes ao colo ou dar-lhes aquilo que querem”. A Dra. Andreia é também favorável à amamentação sob demanda, ou seja, a qualquer momento que o bebê queira até os 2 anos de idade.

Porque existe a crença de que dar colo faz mal?

Para o pediatra José Martins Filho, presidente da Academia Brasileira de Pediatria, “essa ideia vem das pessoas que não entendiam ou não conheciam os principais princípios psicoemocionais do desenvolvimento infantil nos primeiros dois anos”.

Para Andreia Mortense, essa mentalidade do “deixa chorar” ainda existe devido a crenças equivocadas como a de que a criança seja “caprichosa” e que “abusa e irrita os que lhe cuidam”. “É uma crença que se baseia na maldade intrínseca do recém-nascido e da criança […] e que uma educação fortemente repressiva resulta em aquisição de valores morais, e que esse choro não é sinal de sofrimento ou comunicação, é simplesmente algo normal, inócuo, que toda criança faz, por fazer”.

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A pesquisa

Realizada por especialistas da Universidade de Notre Dame com 600 pessoas, a pesquisa concluiu que “adultos que receberam carinho e colo à vontade na primeira infância são menos ansiosos e têm uma saúde mental melhor”.

As pessoas pesquisadas são adultas e responderam a questionários sobre suas infâncias e vida atual. Os resultados analisados foi de que os participantes que haviam recebido mais colo quando pequenos, estavam menos propensos a desenvolver distúrbios psíquicos e que “crianças que recebem atenção e mais tempo de qualidade junto dos pais se tornam adultos mais saudáveis e com mais habilidades sociais”.

Influência permanente

Segundo o estudo, a maneira como os pais tratam a criança em seus primeiros meses será decisivo na maneira como ela lidará com o estresse na fase adulta. Crianças que foram deixadas “a chorar” elas desenvolverão um gatilho para momentos emocionais estressantes e terão mais dificuldades para se acalmar, diz Darcia Narvaez, professora de psicologia da Universidade de Notre Dame e líder da pesquisa, que acrescenta que “Que os pais os abracem, que os toquem, que os embalem. Isso é que os bebês esperam. Eles crescem melhor dessa maneira. Isso os mantêm calmos porque todos os sistemas corporais e neuronais ainda estão se estabelecendo, descobrindo como vão funcionar”.

Tempo: quantidade x qualidade

Hoje em dia ninguém tem tempo para mais nada. Os pais não têm tempo de qualidade, na verdade, tempo algum com seus filhos. No entanto, esse tempo com os filhos devem ser priorizados em sua agenda em detrimento de outros compromissos. Sua saúde financeira ou da sua empresa não é mais importante que a saúde física e mental de seus filhos.

O doutor Martins Filho diz que embora o tempo seja mais curto do que os pais (e as crianças) gostariam, ainda assim é possível dar a elas tempo de qualidade. Para isso é necessário dar-se totalmente a ela nesse período e deixar os dispositivos eletrônicos de lado. “É preciso oferecer um colo calmo, paciente e carinhoso porque pegar uma criança com irritação e demonstrando impaciência é ruim. Sacudindo e falando alto acaba assustando mais do que acalentando”.

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Siga seus próprios sentimentos, cada mãe é dotada de intuição necessária para cuidar do seu filho da melhor maneira. Se seu desejo é ficar com ele no colo, é porque você introjetou essa necessidade da criança e deseja devolvê-la a ele realizada. É uma comunicação profunda, chamada rêverie materna, segundo os psicanalistas.

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Stael Ferreira Pedrosa

Stael Ferreira Pedrosa é pedagoga, escritora free-lancer, tradutora, desenhista e artesã, ama literatura clássica brasileira e filmes de ficção científica. É mãe de dois filhos que ela considera serem a sua vida.