Teoria dos Jogos aplicada na Guarda Compartilhada

Quando os pais estão se desentendendo sobre a guarda dos filhos, é difícil precisar quando começaram as hostilidades, quem tentou se proteger primeiro.

Adriano Ryba

Este artigo foi publicado originalmente no site ADVFam e republicado aqui com permissão.

“João quer a guarda compartilhada do filho. Joana quer a guarda unilateral para si.

João, sabendo a atitude de Joana, então também quer a guarda exclusiva. Porém, ela viu que inicialmente ele queria acordo e diz que aceita flexibilizar na pensão e nos dias de visitas.

João não quer acordo, pois considerou a atitude mesquinha. Joana, ao saber que João também quer a guarda, fica ofendida e diz que agora não quer mais negociar.”

Essa narrativa é bem comum. Note que ao saber da atitude do outro, cada um muda o seu comportamento. As decisões de um afetam a do outro. Cada um tem seus objetivos, mas não necessariamente eles são opostos. Estamos diante de um problema matemático chamado Dilema do Prisioneiro Iterado, desenvolvido a partir da Teoria dos Jogos (aquela que fundamenta o filme “Uma Mente Brilhante”). Significa que duas pessoas tomam atitudes individuais sem saber como o outro vai agir. Ao tomar ciência da ação feita pelo outro, utiliza como base para seu próximo movimento.

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Quando os pais estão se desentendendo sobre a guarda dos filhos, é difícil precisar quando começaram as hostilidades, quem tentou se proteger primeiro. Porém, é certo que se os dois nutrissem confiança recíproca, poderiam chegar a um resultado mais benéfico para o filho. Por que cooperar se o outro pode trapacear? Como confiar e ser altruísta? Um acordo de guarda compartilhada quase sempre é dificultado porque um teme a atitude do outro, pensa que a cautela é mais importante. É a expectativa de benefício futuro que faz a pessoa correr riscos.

A maturação de uma negociação familiar pressupõe que os envolvidos sintam que seus objetivos estão suficientemente atingidos. Não necessariamente um precisa perder para que o outro possa ganhar, esse é o equilíbrio a ser buscado. O acordo está maduro quando os envolvidos se preocupam mais com seus ganhos do que com os ganhos do outro.

“João estava preocupado em ter um tempo de convívio satisfatório com o filho, pois não quer ficar distante durante seu desenvolvimento. Joana estava preocupada que ganha menos que o pai do seu filho e por isso não conseguiria manter um padrão de vida e isso faria com que o menino não gostasse de morar com ela. João queria participar das atividades da rotina do filho, mesmo quando não fosse dia de dormir com ele. Joana teme que o filho fique aos cuidados de estranhos quando na casa do pai.

João e Joana acordam a guarda compartilhada para que os dois tenham responsabilidades pelo filho e possam participar livremente de suas atividades rotineiras. Como João ganha mais que Joana, ele enviará um valor mensal para ela a fim de que o filho possa ter o mesmo padrão de vida da casa dele. Os dias de convívio são divididos equanimemente, permitindo que o menino tenha uma rotina estável. Ambos os pais se comprometem a estar presentes quando dos seus dias de convívio e a flexibilizar uma troca com o outro nas ocasiões em que precisarem se ausentar.”

Ficou claro como os objetivos de cada um não são opostos, mas interdependentes? Os dois atingiram seus objetivos fazendo concessões em outros aspectos que não afetam seus ganhos prioritários. O equilíbrio atingido permite que o filho seja o maior beneficiado.

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*Os nomes aqui citados são fictícios, assim como a história que é utilizada apenas para exemplificar uma situação.

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