Ele acordou do coma após uma década e agora conta o que é mais importante na vida

Este homem na foto é o personagem principal de uma das histórias reais mais impressionantes sobre superação de um trauma pessoal. Talvez você precise de um lenço.

Caroline Canazart

A história de Martin Pistorius é comovente e impressionante. Ele viveu por doze anos preso dentro de seu próprio corpo depois de uma doença misteriosa acometê-lo quando ele tinha apenas 12 anos de idade. Depois de voltar para a casa, da escola, com dor de garganta, ele parou de comer, começou a dormir quase que constantemente até parar de se comunicar. Um ano e meio depois ele não conseguia mais falar e estava numa cadeira de rodas.

Com o tempo ele começou a perder o controle do corpo e os médicos informaram a família que ele havia voltado a ter a mente de um bebê. Os médicos trataram a doença como meningite e tuberculose do cérebro. Mas ninguém sabia o que ele tinha ao certo. Os pais foram aconselhados a levá-lo de volta para morrer em casa.

Hoje, com 40 anos, ele conta sua história na autobiografia “Ghost Boy” – Garoto fantasma, em tradução livre. E é de partir o coração. Depois de ter saído do hospital, ele ficou por 14 anos em casa e em centros de recuperação para crianças com graves problemas cerebrais. A família acreditava que ele estava em estado vegetativo. Mas depois de alguns anos ele conseguia ouvir e ver tudo o que acontecia a sua volta. Porém ninguém sabia, pois o corpo de Pistorius não respondia aos seus comandos. “Por muitos anos, eu era como um fantasma. Eu podia ouvir e ver tudo, mas era como se não estivesse lá. Estava invisível “, conta Pistorius que hoje ainda não consegue falar, mas utiliza uma ferramenta eletrônica para se comunicar.

O cérebro dele voltou a funcionar plenamente, mas ele não tinha nenhuma maneira de sinalizar. O mínimo movimento que conseguia fazer não era notado por ninguém. “Era aterrorizante”, contou Pistorius. “Cada aspecto da sua vida é controlado e determinado por outra pessoa. Eles decidem onde você está, o que você come, se você senta-se ou deita-se, em que posição você se deita, em tudo”, lembra o escritor.

Em seu livro ele também conta histórias cruéis de cuidadores que passaram em sua vida. Ele passava seus dias em uma instituição onde era posicionado em frente à televisão e ficava por horas assistindo o programa infantil “Barney & Amigos”. O dinossauro roxo cantando ainda traz memórias dolorosas. “Eu não posso ouvir ou assistir Barney agora”, diz Pistorius.

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Outros momentos de tristeza também são lembrados por ele, como quando sua mãe, depois de uma briga com o pai, falou que o filho deveria morrer. Pistorius ficou arrasado. “Mas, ao mesmo tempo, senti apenas amor e compaixão por minha mãe”, conta.

Para os dias passarem mais rápidos, ele começou a encontrar maneiras para se manter ocupado, mesmo não conseguindo se mover. Para isso, começou a observar as pequenas transformações, como o nascimento de novas folhas e a mudança de estações. Ele aprendeu a contar o tempo a partir da mudança de luz e a presença de insetos em seu quarto era um estímulo a mais para a criatividade. Quase não dá para pensar numa vida passando desse modo. Foram 14 longos anos.

Outra forma de passar o tempo era usar a imaginação. Ele diz que vivia dentro da própria mente, alheio a qualquer coisa a seu redor. “Eu tive longas conversas comigo mesmo e com outras pessoas, tudo dentro da minha cabeça”, diz, falando que se imaginava fazendo todos os tipos de coisa.

A realidade também era uma tortura para Pistorius. Ele tinha medo de morrer sozinho num lar para idosos. “Eu era uma criança. No final do dia qual criança não quer sua mãe e seu pai? Foi realmente difícil passar por tantas coisas terríveis sem eles, sem ninguém para me confortar ou proteger”, disse.

A esperança

A história dele só mudou em 2001, depois que uma nova funcionária começou a trabalhar na instituição onde ele ficava. Ela conversava todos os dias com Pistorius e começou a notar que havia mais consciência nele do que as pessoas podiam imaginar. Então, ela pediu para que a família fizesse um exame, pela primeira vez, para observar se ele entendia algo. “Essa funcionária mudou tudo. Se não fosse por ela, eu provavelmente estaria morto ou esquecido num lar para idosos em algum lugar”, disse Pistorius.

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A primeira expressão que ele pôde dizer, com ajuda do aparelho especial, foi “estou desconfortável” e “eu gostaria de algo para beber”. “Acho que nunca vou esquecer o sentimento quando minha mãe me perguntou o que eu gostaria para o jantar e disse, ‘Espaguete à Bolonhesa’, então ela realmente fez isso. Sei que pode parecer insignificante, mas para mim, isso foi incrível “, lembrou.

Com a mudança de vida ele teve que reaprender a fazer tudo. A conviver com as pessoas novamente e até a utilizar seu aparelho para comunicação. Com o tempo ele também conseguiu fortalecer o corpo e começou a manusear a sua própria cadeira de rodas. Depois aprendeu a dirigir um carro adaptado especialmente para ele.

O que lhe faltava era uma companheira. E em 2008 ele conheceu Joanna, por meio de sua irmã. Eles se casaram em 2009 e ele saiu da África do Sul para viver com a esposa na Inglaterra.

Pistorius, que hoje é web designer e escritor, tenta se concentrar em seu futuro, em vez de seu passado. Ele afirma que não sente ressentimento de seus pais e perdoou a mãe por ter desejado a morte dele, anos atrás.

A mensagem que ele deixa é que as pessoas devem tratar com gentileza, dignidade, compaixão e respeito todas as pessoas, independentemente de supor se elas entendem ou não o que acontece ao seu redor. “Nunca subestime o poder da mente, a importância do amor e da fé. Nunca pare de sonhar”.

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_Imagens: Today.com

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Caroline Canazart

Caroline é uma jornalista catarinense que optou por ser mãe em tempo integral depois do nascimento dos filhos. Ama escrever e ainda acredita que pode mudar o mundo com isso.