Os relacionamentos conjugais e o abuso emocional

Às vezes a felicidade no casamento se transforma em dor, frustração, angústia e medo. Quando é assim, é possível que um dos dois no relacionamento esteja abusando do outro.Como saber e o que fazer?

Oscar Pech

Muitas das histórias que ouvimos quando crianças terminavam com: “Então eles se casaram e viveram felizes para sempre”. Todos nós que estamos casados ou vivemos um relacionamento a dois, sabemos que essa união marca o início de outro tipo – de outro nível – de felicidade e de adversidade. De fato, os problemas ou a adversidade enfrentada no casamento, ou na vida, geralmente são para nosso próprio benefício: é o que nos faz crescer, desenvolver, e nos mantem vivos. A dificuldade que o casal enfrenta pode ser de saúde, financeira, ter perdido a direção e não saber o que fazer com suas vidas, um membro da família pode estar andando por “caminhos tortos”, etc. Mas há um ponto que não é o tipo de adversidade saudável, nem um mero “cupim de casamento”; é algo que acaba com a pessoa que o sofre, que a destrói por completo física e emocionalmente, e que deve ser evitado a todo custo: o abuso emocional, que está intimamente ligado ao permitir que as relações conjugais se tornem relações de poder.

Isso pode se desenvolver gradualmente ao longo dos anos ou, ainda mais frequentemente, não desde o noivado, mas mesmo antes de o casal surgir. Por exemplo: há um tempo escutei em um casamento, que um familiar do noivo o deu este triste e mesquinho conselho: “O que você fizer na primeira semana do casamento, você irá fazer o resto de sua vida: se você lavar os pratos na primeira semana, você fará isso sempre. Se deixar os sapatos e as meias jogados na sala, você sempre poderá fazer isso. Certifique-se de mostrar o seu pior lado na primeira semana do casamento”.

O abuso emocional é quase sempre inconscientemente ligado ao exercício do poder. O que é poder? A autora Ana María Fernández vê o poder como um dispositivo (ou seja, métodos e estratégias) para controlar. Para esta autora, há três elementos que fazem com que o poder possa ser exercido:

  1. A força ou violência, que na verdade produzem somente momentos fugazes de poder, a menos que sejam parte do segundo ponto.

  2. O discurso de ordem, ou seja, um sistema de normas, regras ou sanções, que por sua vez são baseadas no imaginário social que é o terceiro ponto.

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  3. O imaginário social, ou seja, meios religiosos, ideológicos, emblemas, rituais, todas as ideias da sociedade que justificam o abuso de poder: pensar que o homem pode bater na esposa, “porque assim ele demonstra que é homem”, ou assumir, por outro lado, que a mulher é um ser indefeso e a obrigação do homem é protegê-la e fazê-la feliz.

Do exposto acima, há duas coisas que eu acho que vale a pena considerar: Primeiro, que mesmo que possa haver abuso de poder, tanto em um gênero como no outro, em uma sociedade patriarcal (ou machista, como quiserem pensar) a mulher sofre muito mais violência do que o homem. Segundo, que para que haja abuso de poder, não basta força: quem é submetido ao poder precisa estar submetido a uma série de discursos e crenças. Como, então, evitar o abuso de poder no casal? Eu pensei nas seguintes ideias, e estou ciente de que cada uma poderia ter um artigo para si mesma:

Eduque

A única maneira eficaz de acabar com o abuso é educar de forma diferente a nova geração, para que eles possam ver com respeito, de igual para igual, o gênero oposto. Não educar para a igualdade de gênero, mas para a equidade de gêneros, que é algo muito diferente.

Esteja ciente

Se você é uma mulher, antes de quebrar as correntes físicas da violência, você deve quebrar as correntes mentais, as falsas tradições de nossa cultura latino-americana, e você tem que aprender a ver a si mesma como uma filha de Deus, não com menor valor do que os homens.

Recupere seu arbítrio

Para fazer isso, fale. Fale com quem você tiver que falar: sua mãe, suas amigas, seu líder religioso. É através do diálogo que uma pessoa pode ver as coisas de uma forma diferente, estabelecer acordos, encontrar pontos fortes… E se algum dos mencionados acima lhe disser que não, que o papel da mulher é simplesmente aguentar, não ouça: essa pessoa, por mais bem-intencionada que seja, não irá lhe ajudar; está em sua própria gaiola mental.

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Procure ajuda oportuna

Na internet você encontra boas ajudas para recuperar tanto sua saúde emocional quanto seu arbítrio. Inclusive em nosso site. Se você procurar com cuidado, vai encontrar muitas outras ajudas na internet para curar seu relacionamento após a violência doméstica.

Terapia e diálogo

Se você tiver os recursos, pode inclusive participar de terapia como casal. Se não, conversem como casal. Cheguem a acordos, procurem curar seu relacionamento, ajudem-se um ao outro para ver a vida e o relacionamento de uma perspectiva diferente. O importante é estar ciente disto: é possível curar as feridas do abuso.

Denuncie

Se os pontos acima não funcionarem, então denuncie. Em quase todos os países existem órgãos governamentais e não governamentais para denunciar tanto o abuso físico quanto emocional.

Fuja

É terrível dizer isso, mas se seu cônjuge não escuta, não conversa, não quer mudar, o melhor é fugir. Mas mesmo para isso, você precisa saber como. Procure artigos sobre como reconhecer, proteger-se e escapar da violência doméstica.

Um dos aspectos mais perniciosos da subordinação feminina, é que é naturalizada como se fosse simplesmente uma parte inerente da história da sociedade em que ocorre. A maneira com que a mídia nos bombardeia com o conceito de que a mulher é somente um objeto sexual, promove essa opressão. O fato de que ela é vista como um objeto que se usa, se maltrata e se descarta. Mais uma vez, se trata de quebrar uma corrente cultural que nos oprime. Para quebrá-la, talvez um bom começo seja simplesmente perguntar-se: “E eu? Por que suporto essa desigualdade?”.

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Oscar Pech

Oscar Pech nasceu no México, é conselheiro. De seus 50 anos, 26 tem sido dedicados a sua carreira de conselheiro, de escritor, do ensino e do "coaching".