Órfãos digitais: quando os pais só têm tempo para o celular

Entenda as graves consequências de permitir que seu filho seja “criado” pela tecnologia.

Erika Otero Romero

Faz um tempo, vi um vídeo que me deixou impactada. Alguém em uma consulta médica gravou uma mulher, que completamente concentrada em seu celular, ignorava seu filho. A criança chorava reclamando atenção de sua mãe, no entanto, em vez de atendê-lo, elatomou-o pela manga do casaco e o puxou até ela. Não lhe importou o quanto a criança chorava, ela não tirou os olhos do celular e seguiu ignorando-o.

Recordo que esse vídeo causou comoção nas várias redes sociais, mas não foi além. Talvez tenha tido efeito sobre algumas pessoas e provocado mudanças, mas isso é algo que nunca saberemos.

Não há nada pior que entreter uma criança com um celular ou tablet para ter mais tempo para uma “vida virtual”.

Seja como for, ambos os lados da moeda são danosos para os filhos. A criação de um filho não deve ser deixada nas mãos da tecnologia, ignorá-lo é ainda pior que abandoná-lo na porta de um orfanato. Cruel, mas é verdade.

As graves consequências de permitir que seu filho seja “criado” pela tecnologia

É possível que as pessoas não vejam nada de mau que uma criança esteja exposta à tecnologia desde tenra idade, ainda assim, isso é mau, mais do que se possa imaginar.

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A razão é que ela desenvolve uma forte dependência ou vício. Sim, tal como uma pessoa pode se viciar em um narcótico, cigarro ou álcool.

A criança que desenvolve um vício em telas sofrerá irritabilidade ao se ver afastado delas. Além disso, terá problemas para dormir, e em muitos casos, ansiedade pela necessidade de estar em posse de um celular ou tablet.

Acrescente-se a isso os pensamentos obsessivos, isolamento social e muita inquietação. O vício em telas é considerado uma doença de saúde mental. O triste é que tem muita similaridade com o vício em drogas.

Como consequência a criança também começará a ter baixo rendimento escolar e perda de apetite. É normal, aos estar entretido frente a uma tela, que não tenha necessidade de alimentar-se de maneira adequada. Terá uma vida sedentária e se afastará por completo de suas amizades. Também, seu sono será alterado pela atividade mental diária causada pelo uso de tecnologia.

O pior que se pode fazer a um filho: ignorá-lo

Para muitas pessoas pode soar como exagero, mas se quiser ferir uma criança profundamente, faça de conta que ela não existe.

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Existem muitas maneiras de relacionar-se com os filhos. Há pais autoritários que costumam impor ordens como se fosse um regimento militar. Também existem pais permissivos, aqueles que não dão qualquer limite aos filhos.

Nenhum destes padrões de criação é bom para um filho. No entanto, quando a criação é do tipo autoritário, mas estabelece limites saudáveis e é exercida com carinho e amabilidade, é bastante efetiva para os filhos.

Também há um tipo de criação onde o pai ou a mãe são inexistentes para os filhos. Esse é o estilo “não envolvido”, nesta categoria estão os pais que abandonam seus filhos em favor de seus celulares.

Uma criança abandonada por seus pais por causa de uma “tela” desenvolve sentimentos de ressentimento, insegurança, desconfiança e dependência emocional.

Pode ser difícil dizer, mas qualquer que seja a maneira de se criar um filho, este seguirá o exemplo que recebeu em casa.

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Um filho abandonado abandonará seus pais

Sei que isso é cruel, mas não tem nada de estranho. Que filho abandonado irá querer uma relação próxima com pais que jamais mostraram algum tipo de amor por ele? Nenhum.

Não apenas os filhos maltratados abandonam seus pais. Os filhos ignorados se desapegam rapidamente de seus pais. O problema surge porque desenvolvem sentimento de apego por pessoas que agem igual aos seus pais agiram com eles. É todo um círculo vicioso que nunca acaba e se perpetua até que a pessoa afetada busque ajuda.

Uma criança ignorada por seus pais desenvolve fortes problemas para expressar suas emoções. O pior é que, na adolescência, vão ter condutas delinquentes, serão impulsivos e egocêntricos. Esses jovens acreditam que seu comportamento não terá consequências, e é compreensível porque jamais receberam a atenção que necessitavam de seus pais.

Só me resta dizer que não há nada mais triste para uma pessoa do que não se sentir amada pelos pais.

Se você é um adulto que teve esse tipo de criação, busque descontinuar esse dano. Busque ajuda terapêutica para poder superar esse ciclo de abandono, mas, acima de tudo, faça por seus filhos o que seus pais não fizeram por você.

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Traduzido e adaptado por Stael Pedrosa do original Huérfanos digitales: cuando los padres solo tienen tiempo para su móvil.

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Erika Otero Romero

Erika é psicóloga com experiência em trabalhos comunitários, com crianças e adolescentes em situação de risco.